Obstetras do Hospital das Clínicas da USP dominaram uma técnica delicada que pode salvar a vida de fetos com malformação na uretra, o canal que conduz a urina para fora do corpo. A cirurgia, feita com laser e não-invasiva, ajuda os futuros bebês a expelirem o líquido normalmente. Sem essa correção feita ainda na barriga da mãe, eles podem morrer ou, no mínimo, necessitar com urgência de um transplante de rim.
Rodrigo Ruano, médico responsável pelo procedimento, explica que o problema é detectado por exames de ultrassom por volta do quinto mês de gravidez: nas imagens, fica claro que a bexiga do feto está anormalmente inchada, por causa do acúmulo de líquido. "Nessa fase da gravidez, o líquido amniótico [a popular 'bolsa d'água] normalmente é formado pela urina do bebê, que também deglute esse líquido, o qual vai para os pulmões. Se houver a obstrução da uretra e o líquido secar, a formação dos pulmões também fica comprometida", conta o médico.
Caso o feto continue a não conseguir urinar, o acúmulo de líquido pode chegar até os rins, fazendo com que eles inchem também. Sem intervenção, nenhum dos resultados possíveis é bom para o bebê, diz Ruano. Ele pode morrer ainda no útero, chegar a nascer mas morrer logo após o parto por incapacidade de usar seus pulmões, ou então precisar de ajuda urgente para sobreviver aos problemas nos rins. Além do transplante, sessões de diálise são outra opção disponível.
Sutileza
A técnica usada pelos médicos do Hospital das Clínicas envolve uma abertura mínima na barriga da mãe, com apenas 2,2 mm de diâmetro. "Usamos uma anestesia de gravidez nela e também anestesiamos o feto", explica Ruano. É feita uma punção no útero e no bebê, guiada por um endoscópio.
"Vamos até o pedacinho da bexiga do feto onde ocorre a obstrução, normalmente formada por uma membrana", conta o obstetra. A situação é bem mais comum em fetos do sexo masculino. Uma vez atingido o local exato, o laser queima essa obstrução e permite que o líquido volte a ser expelido normalmente pelo futuro bebê. O procedimento tem obtido bom grau de sucesso, mas infelizmente, em alguns casos, o canal da uretra simplesmente não se forma, e nessas circunstâncias a cirurgia não é viável.
Segundo Ruano, a técnica pode ser aplicada em outros hospitais. "O detalhe é que é preciso ter o instrumental adequado e o treinamento para chegar até a bexiga com precisão, porque são estruturas de dois, três milímetros", diz o obstetra.
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