O principal modelo estatístico usado para previsão do comportamento do novo coronavírus nos Estados Unidos foi revisado nos últimos dias e agora sugere que a Covid-19 deve causar um número menor de mortes no país em relação ao que foi estimado anteriormente. O mesmo acontece com a previsão do número de leitos hospitalares e respiradores que serão necessários no sistema de saúde americano para responder à crise.
Em coletiva de imprensa no fim de março, o presidente Donald Trump e sua equipe de médicos infectologistas da força-tarefa contra o novo coronavírus informaram que as previsões indicavam que a doença poderia matar entre 100 mil a 240 mil americanos na primeira onda. Para chegar a essa número, a Casa Branca confiou, em parte, no modelo criado pelo Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME), da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington.
Na semana passada, porém, o IHME revisou esses números para baixo, prevendo agora um intervalo entre 49.431 e 136.401 falecimentos em decorrência da Covid-19 nos Estados Unidos.
O dia estimado do pico de fatalidades, segundo a modelagem indicada, é 16 de abril, com projeções de 3.130 mortes em todo o país nesse único dia (o intervalo, porém, varia de 1.200 a 8 mil mortes).
Segundo o Dr. Christopher Murray, diretor do Instituto, as previsões revisadas refletem "uma infusão maciça de novos dados" no modelo estatístico, coletados pelos sistemas de saúde de vários estados americanos, incluindo Nova York, Massachusetts, Geórgia, Colorado, Pensilvânia, Flórida e Califórnia.
Até esta terça-feira (7), mais de 11 mil americanos morreram em decorrência da Covid-19 e mais de 360 mil foram diagnosticados com o novo vírus no país.
Respiradores e leitos
As estimativas atualizadas também constataram que a necessidade de leitos hospitalares, leitos de UTI e respiradores mecânicos necessários para lidar com a epidemia de Covid-19 é menor do que estimado anteriormente.
O IHME está prevendo a necessidade de aproximadamente 25 mil respiradores nas próximas semanas - anteriormente eram 32 mil. Segundo o instituto americano, as estimativas de necessidade deste equipamento foram revisadas para baixo principalmente "devido aos conjuntos de dados muito maiores sobre os padrões de prática dos EUA para o atendimento de pacientes com Covid-19".
O modelo mais recente sugere ainda que o número de leitos hospitalares no pico da epidemia poderia ser reduzido quase pela metade e que o número de leitos em UTI necessários no pico do surto poderia cair de 40.000 para 29.000.
Mas mesmo com essa previsão mais otimista, ainda faltariam 36 mil leitos hospitalares e 16,3 mil leitos em UTI nos Estados Unidos no auge da epidemia.
Murray alertou que a trajetória da pandemia mudará "dramaticamente para pior" se as pessoas não cumprirem o distanciamento social ou relaxarem com outras precauções.
"Nossas projeções são fortalecidas pelas novas desacelerações em mais regiões. Isso é evidência de que o distanciamento social é crucial. Nossas previsões assumem que o distanciamento social permanece em vigor até o final de maio", disse o diretor do IHME.
Críticas
Para chegar às previsões, o modelo do IHME usa as curvas de tendência das mortes na China e em outros países e vai ajustando essa curva conforme os dados da epidemia nos Estados Unidos vão sendo consolidados. Essa abordagem é diferente do que usam outros modelos estatísticos, que analisam as interações entre pessoas durante um surto.
Especialistas ouvidos pelo jornal Washington Post acreditam que o modelo usado pela Casa Branca é muito otimista, já que poucas cidades americanas estão adotando medidas tão restritivas para conter a propagação do coronavírus quanto a China e a Itália.
Mesmo Murray admite que as novas estimativas pressupõem que as medidas de distanciamento social continuem sendo adotadas nos estados onde já estão em vigor, como a quarentena na Califórnia. Para os demais estados, o modelo presume que essas medidas de mitigação serão adotadas dentro de sete dias.
"Se as medidas de distanciamento social forem relaxadas ou não forem implementadas, os EUA sofrerão um número maior de mortes, o pico será mais tarde, a carga sobre os hospitais será muito maior e os custos econômicos continuarão a crescer".
Além disso, o modelo do IHME estima que essas ações de mitigação permaneçam em vigor até fim de maio, um mês a mais do que anunciou o presidente Donald Trump.
Alguns estados americanos estão usando mais de um modelo estatístico para prever o número de equipamentos que serão necessários no auge da epidemia em suas localidades, como Illionois e Carolina do Norte.
"Embora esperemos que nossa experiência siga uma curva mais próxima do modelo IHME, não podemos usar um único modelo para nossa preparação e corremos o risco de estar despreparados”, disse a porta-voz do Departamento de Saúde do Distrito de Columbia, Alison Reeves, ao Washington Post.