Milhares de apoiadores do presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, foram às ruas do país mais uma vez para protestar contra os apagões crônicos e a crise generalizada, neste sábado (30).
Há relatos de repressão pelas forças de segurança do regime do ditador Nicolás Maduro. Agentes uniformizados da Polícia Nacional Bolivariana dispersaram com gás lacrimogêneo parte das manifestações opositoras em Caracas e impediram concentrações em alguns pontos no oeste da capital venezuelana.
Na cidade de Los Teques, capital do estado de Miranda, Guaidó informou que os protestos foram organizados em 100 pontos em toda a Venezuela neste sábado. “Hoje nos organizamos em Comitês de Ajuda e Liberdade para executar as ações da Operação Liberdade”, afirmou.
"Todos sabemos quem é o responsável pelos blecautes: Maduro", disse o líder opositor Juan Guaidó em um ato em Los Teques, capital do estado de Miranda. "Temos de acelerar o processo para remover este regime corrupto e usurpador."
Marcha chavista
Apoiadores do ditador Nicolás Maduro também marcharam nas ruas da capital neste sábado para protestar contra o "imperialismo do governo americano", que Maduro acusa de ser o causador dos apagões por meio de ataques aos sistemas de geração e transmissão de energia.
"É fácil perceber que Guaidó não entende a situação do país", diz o motorista de ônibus Antonio Ponce, 56.
"Ele foi colocado lá pela ultra direita, nem sabe pelo o que está brigando."
Maduro pediu aos coletivos - grupos paramilitares fiéis à ditadura venezuelana - "tolerância zero com as guarimbas", como chama os protestos da oposição.
Apagões constantes
Na sexta-feira, Caracas e outras grandes cidades da Venezuela sofreram um novo apagão, no momento em que o país se recuperava de mais um corte de energia que o paralisou durante quatro dias.
A queda ocorreu às 19h10 local (20h10 de Brasília), deixando às escuras a capital e cidades como Maracaibo, Valencia, Maracay e San Cristóbal, informaram usuários nas redes sociais.
Esse foi o terceiro blecaute a atingir o país em março. A estatal Corporação Elétrica Nacional (Corpoelec) não informou as causas ou o alcance do novo apagão.
Desde 7 de março, repetidos cortes de energia têm afetado a Venezuela, prejudicando o fornecimento de água, o transporte público, os serviços de telefonia e internet, e paralisando as transações eletrônicas, fundamentais em um país onde a inflação é galopante.
Na sexta-feira, o Hospital Infantil J. M. de los Ríos suspendeu as sessões de quimioterapia por falta de ar condicionado.
O regime de Nicolás Maduro afirma que os apagões são provocados por "ataques" contra a hidroelétrica de Guri, que gera 80% da energia consumida no país, patrocinados por Estados Unidos e a oposição.
No apagão do dia 27 de março, Maduro anunciou a suspensão das aulas. Diversas empresas também ficaram fechadas. Moradores de Valencia começaram a cortar lenha para cozinhar antes que a comida estragasse.
Os apagões são habituais na Venezuela há uma década e especialistas apontam como causa a falta de investimentos em infraestrutura e a corrupção.
Ajuda humanitária
Em meio à crise, a Cruz Vermelha anunciou que distribuirá ajuda humanitária na Venezuela daqui a 15 dias, uma questão central na disputa pelo poder entre Maduro e Guaidó.
A decisão marca uma guinada na política de Maduro, que, apesar de autorizar a cooperação internacional sem "interferência" para entrega de mantimentos, nega que o país sofra uma "crise humanitária", como denuncia Guaidó.
A Venezuela enfrenta uma forte escassez de medicamentos, já que o governo, seu principal importador, não tem liquidez devido ao colapso da produção de petróleo, responsável por 96% das receitas do Estado, e à expulsão do país dos mercados financeiros após as sanções americanas.
Segundo a ONU, quase um quarto dos 30 milhões de venezuelanos precisa de assistência "urgente". Em 23 de fevereiro, os carregamentos de alimentos e suprimentos médicos administrados por Guaidó e enviados por Washington foram bloqueados pelo governo socialista nas fronteiras da Venezuela com Colômbia e Brasil em meio a tumultos que deixaram sete mortos e dezenas de feridos.
Maduro argumentou que esses carregamentos eram o preâmbulo de uma intervenção militar. Guaidó reivindicou a entrega da Cruz Vermelha como uma conquista, afirmando que "é o resultado da pressão" feita por ele desde que se declarou presidente interino, em 23 de janeiro.
O governo de Maduro ainda anunciou que um avião chinês com 65 toneladas de medicamentos e suprimentos médicos chegou à Venezuela na sexta (29). A China é um dos maiores aliados de Maduro, junto com a Rússia, que há uma semana enviou uma missão militar a Caracas.