O desejo de centenas de cubanos de fugir da deterioração econômica – agravada com o fechamento do turismo no país caribenho devido à pandemia de Covid-19, reaberto apenas em novembro – e da repressão da ditadura comunista (acentuada com a perseguição aos participantes dos protestos de julho, que esvaziou atos marcados para o mês passado) parece ter como novo destino a Grécia.
No final de outubro, mais de cem imigrantes cubanos foram presos no aeroporto da ilha grega de Zakynthos, de onde planejavam voar para a Itália para pedir asilo. Eles haviam viajado para a Rússia, de onde partiram de ônibus para a Sérvia e depois para a Grécia. Segundo informações do portal Greek Reporter, os cubanos haviam procurado o aeroporto de Zakynthos porque tinham a informação de que o controle no local não seria rígido.
Em reportagem publicada esta semana pela versão em inglês do site da Al Jazeera, um solicitante de asilo cubano informou que já recolheu assinaturas de 400 compatriotas em uma petição de asilo, e pelo menos outros 200 se recusaram a assinar a lista com receio de ter suas identidades reveladas.
Vasilis Papadopoulos, dirigente do Conselho Grego para Refugiados, disse que, como a chegada dos cubanos representa “uma nova onda” de imigração, não há sequer intérpretes de espanhol nas estruturas de solicitação de asilo. “As autoridades não registram (os cubanos) como solicitantes de asilo e os obrigam a voltar para Cuba ou encontrar seu caminho em outro lugar”, explicou.
À Al Jazeera, o advogado de imigração americano Charles Kuck comentou que o caminho natural para cubanos que buscam asilo seria os Estados Unidos, mas o fim do programa da Lei de Ajuste Cubano na gestão Obama (que dava status especial para imigrantes cubanos) e o programa Permanecer no México, que obriga os solicitantes de asilo a ficar no México enquanto seus casos são analisados nos Estados Unidos (criado no governo Trump, está sendo reimplementado por determinação judicial), dificultaram essa rota.
“Todos esses fatores estão entrando em jogo aqui e levando as pessoas a outros lugares, e a Grécia é esse outro lugar agora”, afirmou Kuck.
Como costuma acontecer com imigrantes de outras partes do mundo, os cubanos que tentam asilo na União Europeia também são alvo de manipulação política. Na recente crise dos migrantes na fronteira entre Belarus e Polônia, embora a maioria fosse oriunda do Oriente Médio e da Ásia Central, cubanos também se estabeleceram nos acampamentos improvisados, apontados pela UE como uma estratégia do ditador Alexander Lukashenko para responder a sanções impostas ao seu regime.
Em entrevista à NPR, um cubano relatou que viajou de avião de Havana para Moscou (o presidente russo, Vladimir Putin, é aliado de Lukashenko) e depois foi levado por terra para Belarus. Mandado de volta por guardas de fronteira poloneses duas vezes e agredido por soldados bielorrussos, ele desabafou: “Eles não respeitam a dignidade humana ou os direitos humanos. Somos como bolas de futebol num jogo entre Polônia e Belarus. Ninguém nos quer”.