Para Anges Ferrell, o único motivo de o presidente George W. Bush ter enviado ajuda às vítimas do furacão Katrina em Nova Orleans foi o fato de o prefeito da cidade, Ray Nagin, não ter saído do pé dele.
- O presidente não estava fazendo nada até esse homem (Nagin) confrontá-lo - afirmou a mulher enquanto comprava mantimentos no que parecia ser a única loja de conveniência aberta no bairro Lower Ninth Ward.
Um ano depois de o Katrina ter atingido a região, matando mais de 1.300 pessoas ao longo da costa do golfo do México, segundo o Centro Nacional de Furacões, e alagando 80% de Nova Orleans, muitos na cidade culpam o governo federal -- e a demora dele em responder ao desastre -- pela situação.
Mas o sentimento de decepção é generalizado, e uma pesquisa do Gallup/USA Today, divulgada nesta semana, mostrou que aumenta a insatisfação popular com a equipe de Nagin. Cerca de 29% dos entrevistados disseram que as autoridades locais responderam mal ao furacão. Segundo a pesquisa, porém, os moradores de Nova Orleans mostravam-se um pouco mais insatisfeitos com a atuação dos governos estadual e federal.
Mas o descontentamento com o prefeito vem aumentando bastante -- no final do ano passado, 20% disseram que a atuação dele era "ruim". Agora, esse índice é de 29%.
- O governo municipal, o governo federal... Ninguém está ajudando - afirmou Sigma Frazier, de 76 anos, sentada na casa de um vizinho em Upper Ninth Ward, uma área que foi alagada. Nagin estava entre os políticos que ela considerava incompetentes. - Eu não o vi no Ninth Ward ainda.
Diques
Apenas metade dos moradores de Nova Orleans voltou para suas casas e mais de 100 mil famílias continuam morando ao longo da costa do golfo do México, em trailers cedidos pelo governo. De outro lado, muitos temem que os diques da cidade não ficarão no lugar se uma outra tempestade violenta atingi-la.
- Se os diques tivessem aguentado, isso não teria acontecido - afirmou David Fein, enquanto servia daiquiris em um bar da Bourbon Street.
Uma exibição recente do documentário "Quando as barragens se romperam", de Spike Lee, mostrou como o sentimento de repulsa a Bush continua disseminado.
Milhares de pessoas reuniram-se em uma quadra de basquete da cidade e uma gigantesca vaia podia ser ouvida quando Bush aparecia na tela, geralmente prometendo ajuda ou explicando por que a ajuda havia demorado tanto. O prefeito da cidade era geralmente aplaudido.
A pesquisa do Gallup/USA Today mostrou que 12% dos entrevistados consideravam a atuação do governo Nagin "excelente". O índice é mais de duas vezes maior que o do governo federal e está cinco pontos percentuais à frente do índice do governo estadual.
Há os que, de outro lado, tentam deixar de lado as declarações sobre os culpados pela tragédia.
Charlie Jackson mora em um trailer do governo, no fundo de sua casa destruída, no Ninth Ward, com outros dois adultos e quatro crianças. A família dele subiu no sótão da casa quando, um ano atrás, as águas chegaram na altura de uma placa que fica na sua rua. Mais tarde, eles escaparam em um barco. Hoje, Jackson pensa em seus netos.
- Se eu conseguir vê-los felizes e levando suas vidas, então vou ficar tranqüilo - afirmou.