São Francisco, cidade no extremo oeste dos Estados Unidos, e Nova York, no extremo leste, declararam emergência em saúde pública por conta do surto de varíola de macaco. Kathy Hochul, governadora do estado de Nova York, informou nas redes sociais ao tomar a decisão na sexta (29) que mais de um em quatro casos da varíola símia nos Estados Unidos estão em seu estado. O Departamento de Saúde de Nova York calcula em mais de 1300 o número de infectados até a mesma data. São 4600 casos no país. Há uma semana a Organização Mundial da Saúde declarou o surto uma emergência de saúde global — o que não é sinônimo de pandemia.
Um dia antes da decisão da governadora, a secretária de saúde do estado Mary Bassett havia descrito a virose como uma ameaça iminente à saúde pública. Na prática, a declaração significa que os departamentos de saúde locais terão acesso a reembolso adicional pelos esforços em conter o surto. Já a cidade de São Francisco já recebeu 8200 doses da vacina Jynneos, uma das disponíveis no mercado para imunização contra o vírus.
A doença, causada por um vírus de DNA que na verdade tem nos roedores silvestres africanos o principal reservatório na natureza, recebeu o nome dos primatas porque foi descrita nos anos 50 após infectar macacos de laboratório. Também ocorre em alguns macacos na natureza. O surto ultrapassou os 21 mil casos na última quinta-feira (28), segundo o agregador de dados Our World in Data, ligado a pesquisadores da Universidade de Oxford. O primeiro caso no atual surto foi em 6 de maio.
Um estudo de um grupo colaborativo internacional na revista New England Journal of Medicine, que agregou uma amostra de mais de 500 infectados com diagnóstico entre abril e junho, concluiu que o surto até o momento está principalmente entre homens gays ou bissexuais (98%). Os autores suspeitam que 95% da transmissão foi por contato sexual, mas há outras formas de pegar a doença, como grandes gotas de saliva e contato próximo com as feridas geradas pelo vírus. Um número pequeno de crianças se infectaram, nelas a doença preocupa mais, pois confere sintomas mais severos. Os principais sintomas são febre, dor de cabeça, letargia, dor no corpo e inflamação nos gânglios linfáticos, além das características erupções cutâneas.
A varíola de macaco não tem o mesmo poder de transmissão da Covid-19, pois não se espalha pelo ar. A principal estratégia do gênero de vírus à qual ela pertence — dos ortopoxvírus — é a viabilidade das partículas virais no ambiente. A varíola humana, que foi extinta pela campanha de vacinação global há quase meio século, era causada por um vírus que podia sobreviver entre seis meses e um ano em cascas de feridas mantidas longe da luz solar direta e temperatura ambiente abaixo de 30°C. Uma fonte alega que ele podia ficar viável por até 13 anos. São informações de uma revisão de 2004 de autoria dos biólogos Bruno Walther e Paul Ewald.
Como indica a erradicação da varíola humana, a varíola símia é vulnerável à imunização conferida por vacinas — mais que a Covid-19. O surto atual por enquanto matou poucas pessoas: cerca de cinco na África, dois homens jovens na Espanha, e um homem de 41 anos de Belo Horizonte com imunidade comprometida e que sofria de linfoma. O Brasil tem no momento menos de 1300 casos.
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