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Bairro chinês em uma cidade de Illinois, Estados Unidos
Bairro chinês em uma cidade de Illinois, Estados Unidos| Foto: Pixabay

Em 13 de junho, durante uma tempestade desagradável, um grupo de nova-iorquinos chineses se reuniu em frente aos portões da Gracie Mansion, a residência do prefeito de Nova York no Upper East Side, para protestar. Lá dentro, o prefeito Bill de Blasio se encontrava com representantes da comunidade asiático-americana para discutir seu polêmico plano de reformar o processo de admissão meritocrático nas escolas para superdotados, administradas pela cidade - a primeira reunião desde que ele anunciou o plano, do nada, há um ano. Os manifestantes, amontoados sob guarda-chuvas ou vestidos com ponchos, culparam o prefeito por ter demorado para realizar a reunião e por convidar majoritariamente entidades financiadas pelo governo, deixando do lado de fora os principais críticos de seu plano.

A chuva caía e o vento uivava, mas quando um homem magro e de fala mansa fez um discurso na frente da multidão, os manifestantes prestaram atenção. “Hoje não há políticos ou líderes. Somos todos pais comuns", disse ele, em pé na chuva, sem qualquer proteção. “Mas devemos acreditar em nosso poder. Enquanto lutarmos juntos, poderemos proteger o futuro de nossos filhos”.

Seu nome é Donghui Zang, um líder comunitário em ascensão que era pouco conhecido na comunidade chinesa até um ano atrás. Zang, pai de dois adolescentes, apareceu pela primeira vez nas ruas para protestar em 5 de junho de 2018, dois dias depois de o prefeito anunciar seu plano para eliminar o Teste Especializado de Admissão de Escolas Secundárias (SHSAT) para diversificar os aprovados nas escolas secundárias, onde a maioria dos estudantes são asiáticos e poucos são negros ou hispânicos.

Na época, Zang não tinha certeza do que poderia fazer como indivíduo para mudar a opinião do prefeito. Desde que ele veio para os EUA para estudar em 1995, nunca havia participado de atividades cívicas. "Eu nem sabia quem era Cuomo", disse-me Zang, referindo-se ao governador de Nova York, Andrew Cuomo. Com um Ph.D. da Rice University, um mestrado da Carnegie Mellon e um emprego em uma firma de Wall Street, sua vida tinha pouca sobreposição com as comunidades tradicionais de imigrantes chineses.

Mas desde o protesto da SHSAT, Zang ajudou a formar a Aliança de Moradores de New York, uma organização de base que é capaz de atingir até 2.000 nova iorquinos chineses via WeChat, a plataforma de mídia social popular entre os chineses em todo o mundo. Zang mobilizou seus seguidores para protestar contra várias questões que consideravam contrárias aos interesses dos residentes chineses, como os planos da cidade para construir prisões e abrigos para sem-teto nos bairros chineses e a abertura de laboratórios de maconha medicinal no centro de bairros residenciais. Sua organização endossou candidatos em vários estados, principalmente republicanos ou democratas conservadores.

Muitos dos seguidores de Zang são como ele - vieram para os EUA da China nos últimos 30 anos para cursar uma pós-graduação, têm filhos em idade escolar, mas nenhuma experiência anterior em ativismo. Muitos deles se tornaram novos eleitores durante o ano passado, incluindo Zang, que foi naturalizado e registrado como eleitor no final de agosto de 2018. Muitos deles não são afiliados a nenhum partido, mas seus pontos de vista, baseados em uma firme crença na competição, na realização individual e na meritocracia, são claramente conservadores.

Eles são apenas parte da crescente força do conservadorismo entre os novos imigrantes chineses nos EUA, despertados por questões de âmbito nacional, como a política de admissão racialmente consciente das faculdades da Ivy League e a legalização da maconha para uso recreativo. Seu surgimento no horizonte político pode anunciar uma mudança em uma comunidade que tem sido considerada uma base sólida para os democratas por duas décadas.

Pauta extensa

Os asiáticos que vivem nos Estados Unidos, carregando as feridas persistentes de injustiças históricas - como a Lei de Exclusão Chinesa que barrou a imigração chinesa para os EUA de 1882 até meados do século 20 -, podem parecer, à primeira vista, aliados naturais dos democratas.

De fato, desde 2000, os asiáticos votaram esmagadoramente em candidatos democratas nas eleições presidenciais. Mas, se você olhar além dos últimos vinte anos, essa lealdade desaparece. Em 1992, a primeira vez que os votos asiáticos foram contados como uma categoria independente, e novamente em 1996, mais asiáticos votaram nos candidatos republicanos do que no candidato democrata Bill Clinton.

Em um artigo de 2016 no The American Prospect, Karthick Ramakrishnan, diretor do National Asian American Survey (NAAS), atribuiu a mudança às diferentes abordagens dos dois partidos em relação a asiáticos e imigrantes. Uma de suas principais preocupações era a falta de participação cívica dos asiáticos. “Líderes americanos asiáticos repetidamente me disseram que os membros de sua comunidade estavam interessados ​​principalmente em garantir seu avanço econômico e não tinham tempo nem motivação para participar da vida cívica”, escreveu ele.

Sabendo deste pano de fundo, o surgimento de apoiadores de Trump entre os chineses em 2016 pegou muitas pessoas de surpresa. David Wang, um investidor independente em Los Angeles, criou a Chinese Americans for Trump (CAFT) no WeChat durante a última temporada eleitoral. Ele me contou que evoluiu de um grupo de bate-papo de três membros que ele formou no verão de 2015 para uma rede de 8.000 membros, espalhada por todos os estados, exceto Havaí e Alasca, um ano depois.

Os membros do CAFT participaram de comícios, postaram e republicaram artigos pró-Trump no WeChat, e mostraram seu apoio a ele com exibições extravagantes. Em outubro de 2016, os partidários chineses de Trump em todo o país doaram dinheiro para shows aéreos pró-Trump. Pequenos aviões puxavam faixas com as palavras "Sino-americanos por Trump”, em seguida, pairavam por horas, criando um espetáculo que até a mídia na China continental queria cobrir.

Mas esse entusiasmo não surgiu do nada - a comunidade chinesa já estava se tornando mais vocal há alguns anos.

Alguns dizem que um momento-chave ocorreu em 2013, quando o comediante Jimmy Kimmel transmitiu, em seu programa de entrevistas noturnas na ABC, a proposta de um menino de seis anos para resolver o problema da crescente dívida dos Estados Unidos com a China. "Mate todos na China", disse o garoto. O vídeo levou dezenas de milhares de sino-americanos a protestarem em mais de 20 cidades americanas, o maior protesto nacional de sino-americanos que se é lembrado. Kimmel se desculpou.

Desde então, tais protestos quase se tornaram rotina em uma comunidade que costumava ser conhecida por seu silêncio. Eles lutaram contra a acusação de Peter Liang, um policial sino-americano em Nova York, que matou acidentalmente um homem negro desarmado enquanto patrulhava um conjunto habitacional em Nova York. A acusação de Liang parecia injusta, dado que policiais brancos que haviam matado a sangue-frio tinham se livrado das acusações. Os manifestantes também lutaram contra projetos de lei em vários estados com o objetivo de coletar dados sobre subgrupos asiáticos. Eles temiam que tal projeto direcionasse o financiamento do governo para grupos asiáticos menos estabelecidos. Os pais chineses também se manifestaram, protestando contra a legalização da maconha enquanto tentavam proteger seus filhos de serem introduzidos às drogas.

Educação

Mas a questão que mobiliza quase todas as pessoas da comunidade chinesa é a educação. Dos protestos contra o projeto de lei da Califórnia, SCA-5, que restauraria a raça como um fator para decisões de admissão no estado, ao processo contra a Universidade de Harvard por sua política de admissão "racialmente consciente", ao protesto de Zang contra a cidade de Nova York, os sino-americanos são veementemente contra ações afirmativas na educação.

Essa dissidência está sendo liderada por pessoas como Zang, e suas vozes repentinamente elevadas não são tão difíceis de explicar. Depois de passar muitos anos estudando para obter seus diplomas acadêmicos, encontrar emprego e se candidatar a green cards, só recentemente encontraram confiança e segurança para refletir sobre questões sociais. Para este grupo da comunidade sino-americana, a ação afirmativa na educação é um ataque direto aos seus interesses e aos interesses de seus filhos.

Mas a maneira como eles buscam justiça difere muito das gerações anteriores, que tendem a ficar lado a lado com outras minorias. Liz Ouyang, veterana advogada e defensora dos direitos civis, disse: “Eu vejo a defesa de seus [novos imigrantes chineses] como sendo mais focada. Sua preocupação está voltada em saber se seu filho entraria ou não se estudassem para esse teste, em vez de verificar se esse teste é uma medida precisa de sua capacidade ou se esse teste discrimina ou não outras minorias”.

Impacto eleitoral

O impacto dessa nova onda de imigrantes chineses na política americana ainda está se desdobrando, mas tem o potencial de exercer influência significativa. O número de eleitores asiáticos mais do que duplicou, de 2 milhões em 2001 para 5 milhões em 2016. Constitui agora cerca de 3,7% do total da população de eleitores e espera-se que aumente. Além disso, de acordo com o Anuário de Estatísticas de Imigração do Departamento de Segurança Interna (DHS), a China tem sido o segundo maior país de origem entre os imigrantes que receberam green cards desde 2007, superados apenas pelo México. A tendência não mostra sinais de desaceleração no futuro próximo, mesmo com a guerra comercial entre a China e os EUA.

Enquanto isso, entre 2012 e 2016, o apoio chinês à ação afirmativa na educação caiu de 78% para apenas 41%, de acordo com a AAPI DATA, uma organização parceira do NAAS.

Isso provocou alguma expectativa da direita. Em fevereiro, um fórum foi convocado no Harvard Club para discutir o plano de Nova York para a reforma especializada do ensino médio. John Yoo, ex-vice-procurador-adjunto durante o governo de George W. Bush, disse na audiência: “Se você olhar para os asiáticos, eles são os mais instruídos, os maiores proprietários de pequenos negócios, os mais religiosos, os mais empreendedores... Por que eles estão votando nos democratas?... Espero que este seja um despertar político para os americanos da Ásia”.

Pesquisas das eleições parlamentares de médio de mandato em 2018 mostraram que a maioria dos votos asiáticos ainda é dos democratas. Os novos eleitores conservadores da Ásia ainda estão longe de dominar o voto dos imigrantes da região. Mas se os defensores chineses de Trump são um indicador, o conservadorismo ainda está aumentando.

David Wang, fundador do CAFT, disse que o número de membros da rede caiu para cerca de 5 mil depois da eleição presidencial, quando as pessoas mudaram seu foco para outros assuntos. Mas agora ele conseguiu aumentá-la para cerca de 8.000 - e sua meta é ter 20.000 pessoas na rede para a eleição de 2020. O grupo tem braços em cidades como Atlanta e Phoenix e continua a se expandir.

Amor por Trump

Na primavera, fui convidado para uma festa de apoio a Trump, organizada pelos sino-americanos, entre eles uma mulher chamada Lucy Tan, mãe com dois mestrados e três crianças em idade escolar. O evento ocorreu em um bar de karaokê no bairro de imigrantes chineses de Flushing, no Queens, Nova York. Algumas dúzias de chineses apareceram. Alguns tinham participado de atividades pró-Trump em 2016, mas alguns eram recém-chegados que disseram que sua postura conservadora os fazia solitários em uma cidade progressista, até que encontraram esse grupo no WeChat.

Sob a luz fraca da lâmpada fluorescente, com lanches como sementes de girassol torradas e soja verde fervida, eles fizeram elogios ao presidente Trump usando um microfone de karaokê.

“Eu nunca amei nenhum político. Mas esse velho, eu o amo até a morte”, exclamou Jason Gu, que disse que trabalhava no setor imobiliário. Gu, então, lamentou sobre sua percepção da deterioração da América desde que ele veio para este país em 1991, quando tinha 37 anos - sua percepção é de que existe um sistema de bem-estar crescente que encoraja a preguiça e pune as pessoas trabalhadoras.

Ele pegou um amendoim de um prato. “Pense nisso, quando éramos crianças na China, só podíamos servir amendoins durante o Ano Novo Lunar. Por que éramos tão pobres?”, perguntou Gu retoricamente. “Eu vim para os EUA porque vi as falhas do socialismo. Mas agora a América está seguindo a velha estrada da China”.

O próprio pensamento do socialismo criou sua própria atmosfera tóxica. Quase todo mundo veio com uma história de horror sobre como arruinou vidas em seu país de origem, e eles prometeram nunca deixar os EUA se tornarem outra Venezuela.

Quando falei sobre o Ato de Exclusão Chinês, eles me disseram que a idea vinha da fracassada Lei do Quinze Passageiros em 1879, introduzida por um congressista democrata e que foi criada em parte porque os trabalhadores chineses estavam quebrando as greves convocadas pelos sindicatos. “A cultura americana é a cultura dos homens brancos. Nós viemos para este país porque gostamos dessa cultura”, Tan me disse.

Naquele dia, eles elaboraram um plano estratégico para ajudar Trump a vencer em 2020, incluindo uma meta para cada participante persuadir cinco pessoas em torno deles a votar em Trump e apoiar as atividades lideradas por outros grupos chineses que Tan chamou de “tropas aliadas” , incluindo a luta contra a reforma do ensino médio para superdotados.

De fato, a colaboração já está acontecendo. Apoiadores chineses da Trump participaram de muitos dos recentes protestos liderados por sino-americanos e, em algumas ocasiões, exibiram suas bandeiras de “Chineses por Trump” ou “Make America Great Again” (frase conhecida também pela sigla MAGA). Essa exibição muitas vezes causou polêmica quando outros manifestantes se preocuparam com o fato de que os cartazes afastariam seus partidários democratas. Por exemplo, durante um comício em um fórum realizado pelo senador John Liu, do Estado de Nova York, para discutir a reforma educacional de Nova York, este repórter testemunhou uma faixa do MAGA acompanhada de um estandarte pedindo “Mantenha a política fora da educação”. Apesar de um visível conflito entre o grupo CAFT e os ativistas locais, a disputa é apenas sobre as táticas. Poucas pessoas, pelo menos nos grupos de discussão ativistas do WeChat, criticaram os defensores de Trump por suas doutrinas ou o próprio presidente.

Alguns desses ativistas populares rapidamente se tornaram detentores de doutrinas Trumpianas, como Ellen Lee Zhou, uma candidata a prefeita em São Francisco. Assistente social que veio para os EUA em 1986 quando tinha 17 anos de idade, Zhou tornou-se ativa em 2017 quando os chineses de San Francisco protestaram contra a proliferação de lojas de maconha na cidade depois que a substância foi legalizada por um referendo estadual .

No ano passado, encorajada por seus amigos contrários à legalização maconha, Zhou concorreu a prefeita em uma eleição especial em San Francisco - como independente. Ela terminou em quinto lugar entre os nove candidatos, liderados por quatro políticos experientes. Este ano, a corrida para a prefeitura está aberta novamente, e Zhou está de volta. A diferença é que ela é agora uma republicana e uma apoiadora de Trump.

Em uma arrecadação de fundos que Zhou recebeu no início de abril no Paramount, um restaurante chinês em Richmond Hill, os apoiadores falaram no palco um após o outro. Dois leram um poema que escreveram para ela intitulado "Tornar San Francisco Grande Outra Vez". Um homem branco elogiou os valores tradicionais chineses e identificou-os como a solução para os problemas na Califórnia.

“O restante da Califórnia - os hindus e todas as outras minorias - verá o povo chinês liderando o caminho dos valores morais e da ressuscitação econômica. E nós vamos levar o país de volta, e o presidente Trump depende de você”, disse ele à platéia.

Diferentes gerações

Falar de “valores culturais” pode confundir aqueles que não estão familiarizados com os ensinamentos de Confúcio - os quais tanto a geração anterior de ativistas chineses de esquerda quanto seus atuais colegas conservadores tomaram emprestado. Mas o rápido desenvolvimento da China nos últimos 40 anos pode explicar facilmente a justaposição: embora os valores possam ser os mesmos, suas implicações mudaram drasticamente.

Considere o caso de Donghui Zang, o líder de protesto de Nova York, que nasceu em 1969 em uma pequena aldeia de Gaocheng, Hebei. O presidente Mao Tse-tung morreria sete anos depois. Quando Zang tinha nove anos de idade, o novo líder chinês Deng Xiaoping lançou a “Política da Porta Aberta”, um programa massivo de reforma econômica que levaria a China à riqueza, permitindo mercados abertos e incentivando a competição.

Zang ainda se lembra da pobreza deixada pela era de Mao. Quando ele era criança, as famílias de sua aldeia eram pobres demais para comprar sapatos para seus filhos. Ele teve que usar sapatos feitos à mão por sua mãe com um pano rasgado, que, durante a chuva ou a neve, encharcaria. Mas todos os pais tentaram ao máximo encorajar seus filhos a estudar. Não havia eletricidade na aldeia até que ele entrasse no ensino médio, então, à noite, as crianças frequentemente subiam até os telhados para poder ler no último crepúsculo. O pai de Zang, um professor de escola primária, sempre passava o dia de folga nas casas dos estudantes, ensinando-os gratuitamente.

Após o ensino fundamental, Zang entrou na escola de ensino médio com a maior pontuação entre as dezenas de milhares de crianças no município. De lá, ele foi para uma escola de ensino médio e, em 1987, Shanghai Jiao Tong University, uma das melhores universidades da China, depois de competir com 2,28 milhões de estudantes nos vestibulares quando a taxa média de admissão em todo o país era de 27,2%.

Zang disse que a qualidade das escolas de ensino fundamental em sua cidade natal diminuiu, mas ele acredita que a solução é aumentar o salário dos professores rurais, em vez de diminuir as pontuações de admissão em faculdades para crianças rurais. "Você deve tentar ajudar as crianças rurais a alcançar um nível mais alto, e não punir as crianças da cidade por progredirem", disse Zang. Na China, como nos EUA, Zang acredita que os testes são a única maneira justa de minimizar o viés subjetivo e a manipulação que pode ocorrer nas admissões escolares.

No final da primavera de 1989, quando Zang estava no segundo ano da faculdade, o movimento pela democracia dos estudantes de Tiananmen entrou em erupção. Em 13 de maio daquele ano, Zang, mancando porque machucou a perna dois dias antes em um jogo de basquete, marchou com milhares de estudantes por quilômetros. "Eu fervorosamente ansiava por democracia e liberdade na época, e não podia tolerar o fato de que outros países poderiam ter mais de uma parte e que as pessoas poderiam votar e nós não poderíamos", disse ele.

Quando o movimento foi destruído por Pequim em uma repressão sangrenta, Zang chorou. Essa foi a primeira vez que ele participou de qualquer atividade política. Seis anos depois, ele deixou a China para estudar nos EUA e ficou longe da política até agora.

Essa experiência não é apenas sua, mas também a de sua geração. “Nós chineses acreditamos na igualdade de oportunidades. Eles (progressistas americanos) buscam resultados iguais. Isso é como na era de Mao, você recebia o mesmo pagamento, quer trabalhasse duro ou não”, disse-me Yukong Zhao, fundador da Coalizão dos Americanos Asiáticos pela Educação (AACE).

Zhao, como Zang, não quer ser identificado como um defensor de um único partido político. Mas ele me disse que suas opiniões sobre o Partido Republicano melhoraram muito por causa das ações de Trump sobre educação, incluindo a reversão da diretriz da era Obama que encorajou as faculdades a considerar a raça nas admissões. “Eu apoio o novo governo por causa de seu apoio ao movimento de direitos à educação dos asiáticos”, disse Zhao.

Para Wan Yanhai, um renomado ativista na China que foi impedido de voltar ao seu país depois que veio para os EUA em 2010, a tendência política entre o povo chinês nos EUA é compreensível e confusa.

“Estas são principalmente pessoas que testemunharam ou participaram do movimento de Tiananmen em 1989. Elas acreditam na democracia e têm consciência básica de direitos. Mas eles não tiveram oportunidade de aprender o processo da democracia ou acumular experiência em ativismo social ”, disse-me Wan, que estava na Praça Tiananmen em 4 de junho de 1989. "Eles são fáceis de serem instigados."

Mas Wan, um democrata registrado, admitiu que, embora os democratas demonstrassem grande simpatia por seu trabalho na China, ele percebeu, quando chegou aos EUA, que o liberalismo americano não é tão perfeito quanto ele imaginava. O Instituto Aizhixing de Educação em Saúde, uma organização sem fins lucrativos que ele liderou na China, ajudou todos os tipos de pessoas carentes, de Uighurs e pacientes de AIDS a usuários de drogas, e libertou prisioneiros. "Mas só defendemos alguns serviços básicos para eles, nunca pedimos mais do que isso", disse Wan.

Os democratas também estão aumentando suas interações com a comunidade chinesa. “Uma das razões pelas quais eu quero me envolver com os democratas é que eu senti nas eleições de 2016, em alguns casos, que os republicanos prestaram mais atenção à comunidade chinesa do que os democratas. Eu quero ajudá-los a se comunicar melhor”, disse Grace Meng, congressista de Nova York que foi eleita vice-presidente do Comitê Nacional Democrata em 2017.

No entanto, pode não ser fácil para uma chinesa liberal nascida nos EUA, como Meng, se comunicar com seus compatriotas da China. “A China é uma sociedade baseada na competição viciosa. Não há espaço para compaixão e caridade. As pessoas são encorajadas a cuidar de si mesmas”, disse Haipei Shue, presidente da organização Sino-americanos Unidos, sediada na capital Washington. "Os valores do liberalismo são de fato o que os imigrantes da China carecem e precisam apoiar". Um acadêmico sino-americano que pediu que os ativistas asiático-americanos apoiassem a chegada de chineses aos EUA teve que lidar com a reação de novos imigrantes que entenderam que ele estaria considerando os asiáticos nascidos nos EUA como superiores aos recém-chegados.

De qualquer forma, os protestos de Nova York talvez sejam o epicentro da nova geração de ativismo chinês. Em abril, Zang e oito outros pais da Aliança de Residentes foram ao encontro de John Liu, o senador estadual que preside o Comitê de Educação de Nova York, que desempenha um papel fundamental na aprovação ou desaprovação do plano de reforma do prefeito. Durante a eleição de Liu no ano passado, os pais apoiaram seu oponente: Liu publicou um artigo no Huffington Post anos atrás, propondo a admissão holística de escolas especializadas em segundo grau, em vez do atual padrão baseado em testes. Mas durante e após a eleição, Liu continuou a enfatizar sua oposição ao plano do prefeito. Ele até o chamou de "racista" por deliberadamente evitar a contribuição dos asiáticos. Os pais disseram que sentiam que podiam trabalhar juntos com ele.

Na noite anterior ao encontro com Liu, eles se reuniram para ensaiar o que cada um deles diria durante a reunião, ficando acordados até as duas da madrugada - como normalmente faziam no ano passado, tentando apaixonadamente navegar no sistema de engajamento cívico nos EUA.

Zang, que muitas vezes lembra seus seguidores que o objetivo de todas as batalhas é alcançar a paz, foi designado para agradecer Liu por seu apoio ao teste como uma forma de quebrar o gelo. Mas vindo do trabalho, ele estava um pouco atrasado. A reunião começou de uma maneira bastante estranha, com uma sensação de velhos ressentimentos ainda pairando no ar.

Mas no final, todo mundo ficou feliz. Veto Kwan, um engenheiro de TI, colocou na mesa duas camisetas nas quais ele havia escrito: "Mantenha o SHSAT". "Trouxemos alguns presentes para você e sua equipe", disse ele a Liu. “Eu amo a cor. É azul”, brincou Liu, um democrata obstinado. "Mas também temos os vermelhos", disse Kwan com naturalidade.

© 2019 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

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