No extremo norte da ilha de Sumatra, na Indonésia, estende-se uma ampla área de floresta onde vivem orangotangos e raros tigres e elefantes de Sumatra.
Em uma ironia do destino, a insurgência armada que tomou conta da Província de Aceh durante décadas impediu que madeireiras ilegais derrubassem a mata naquela região.
Além da vida selvagem e da madeira, a floresta é rica em um outro recurso - o carbono preso em seu solo e em todas as árvores cobiçadas pelos madeireiros, legais ou ilegais.
Ávidos por ganhar dinheiro com a floresta, chamada de ecossistema Ulu Masen, o governo da Província de Aceh uniu-se a um importante grupo ambientalista e ao mercado financeiro para salvá-la.
Em troca, a região deve receber milhões de dólares por meio da venda de créditos de carbono para investidores. E uma parte desse dinheiro deve chegar às mãos de comunidades locais a fim de encorajá-las a parar com o desmatamento ilegal.
Já nos próximos meses, prevê-se a chegada de verbas vindas da venda dos primeiros créditos do projeto.
"Eu acredito piamente que deve haver um mercado para os créditos de carbono e para as florestas. Esse é o único mecanismo capaz de prover incentivos no nível local," disse Frank Momberg, diretor de projeto para a organização não-governamental Fauna and Flora International, o grupo que está no centro do projeto de conservação da floresta de Ulu Masen.
O modelo vem sendo estudado e repetido em toda a Indonésia e dentro de outros países tropicais em desenvolvimento no momento em que o mundo mobiliza-se para salvar suas florestas tropicais em meio à batalha contra as mudanças climáticas.
O esquema, baseado na Organização das Nações Unidas (ONU) e chamado Emissões Reduzidas do Desmatamento e da Degradação (Redd), pode chegar a valer bilhões de dólares por ano para os países em desenvolvimento. Por meio dele, as nações ricas comprariam créditos de carbono a fim de cumprir suas metas obrigatórias de emissão.
No entanto, ainda há muitos pontos nebulosos no projeto: como garantir que as florestas não sejam derrubadas? Como medir com precisão a quantidade de carbono poupada em um determinado período de tempo? Qual a melhor forma de negociar os créditos do Redd? E como garantir que as comunidades locais recebam uma fatia justa do dinheiro?
O monitoramento via satélite bem como os sistemas nacionais de contagem de carbono dos países em desenvolvimento serão fundamentais, como também será fundamental impedir os "vazamentos" - ou seja, evitar que o combate ao desmatamento em uma área provoque a derrubada de outras.
Alguns grupos ambientalistas temem que os países ricos limitem-se a comprar grandes quantidades de créditos Redd para cumprir suas metas sem fazer o suficiente para limpar seus próprios setores produtivos.
A Europa também tem medo de que uma enxurrada de créditos Redd baratos sobrecarregue o atual esquema de comércio de cotas de carbono do continente, derrubando os preços.
"Para nós, do ponto de vista do comércio, o elemento mais difícil para os projetos Redd é sua permanência", afirmou Trevor Sikorski, diretor de pesquisa em commodities do Barclays Capital em Londres.
"A questão é o desmatamento. E se o desmatamento avançasse depois de três anos, então o carbono ainda assim seria liberado na atmosfera. Portanto, trata-se da reversibilidade das florestas como depósitos de carbono. E essa é a questão central que precisa ser discutida," afirmou.
As florestas absorvem o dióxido de carbono, agindo como um conjunto de pulmões para o planeta. No entanto, as atividades de derrubada e queimada estão contribuindo com 20 por cento de todas as emissões de carbono da humanidade atualmente, emissões essas responsabilizadas pelo aquecimento do planeta.
A ONU pretende incorporar o Redd em sua próxima fase do Protocolo de Kyoto, a partir de 2013.
A idéia é complementar o esquema existente hoje e chamado de Mecanismo de Energia Limpa (CDM). Esse mecanismo permite que os países ricos invistam em projetos de energia limpa no mundo em desenvolvimento em troca de cotas de emissão de gás carbônico. Atualmente, a tonelada de emissão de carbono está custando 16 euros.
"As dimensões disso são enormes. Se alguém compara um projeto CDM de 60 mil toneladas por ano, esses projetos (do Redd) chegam a ser 200 vezes maiores. Então, se isso for aprovado, estaremos diante de um mercado gigantesco", disse Renat Heuberger, diretor da South Pole Carbon, empresa da área.
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