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O novo governo da Holanda, composto por 15 ministros e chefiado pelo tecnocrata Dick Schoof, tomou posse nesta terça-feira (2), inaugurando uma legislatura em que a direita nacionalista estará no centro do poder, após 223 dias de negociações desde as eleições do último dia 22 de novembro.
Dentro do Palácio Huis ten Bosch, em Haia, ministros e secretários de Estado desfilaram um por um diante do rei Willem-Alexander para prestar juramento em seus novos cargos, antes de subir as escadas para tirar a tradicional foto do gabinete com o monarca.
Esta foi a primeira vez que Willem-Alexander, que subiu ao trono em 2013, liderou uma cerimônia de posse de um governo que não fosse liderado pelo liberal Mark Rutte, que estava no poder desde 2010, com quatro gabinetes sucessivos. Após a cerimônia, Rutte entregou a chave de seu escritório a Schoof.
A coligação de governo é composta por quatro partidos, sendo que o direitista PVV, liderado por Geert Wilders, controla cinco ministérios. Os outros três são o liberal VVD (quatro ministros), o democrata-cristão NSC (quatro) e o partido camponês BBB (dois).
Dos quatro parceiros, apenas o VVD, partido de Mark Rutte, tem experiência de governo, enquanto o BBB e o NSC foram criados recentemente, em 2019 e 2023, respectivamente.
O PVV de Wilders, fundado em 2006, esteve perto do poder quando Rutte negociou seu apoio extraparlamentar em 2010, mas sem fornecer ministros.
No entanto, em 2012, Wilders retirou seu apoio aos liberais devido a divergências sobre os cortes durante a crise financeira, forçando novas eleições. Rutte então formou um gabinete com os social-democratas e vetou Wilders das demais legislaturas.
A sucessora de Rutte, Dilan Yeşilgöz, levantou esse veto antes das eleições de novembro, o que - segundo analistas - promoveu o apoio ao PVV, visto que este passou a ter chances reais para entrar no governo.
De fato, o partido de Wilders, com uma campanha contra a imigração, venceu as eleições (com 37 dos 150 assentos no Parlamento), o que lhe permitiu negociar um governo.
No entanto, os seus três parceiros obrigaram-no a renunciar à sua aspiração de liderar pessoalmente o governo, bem como a deixar de lado várias propostas consideradas "contrárias ao Estado de direito", como a proibição do Islã e do Corão, como condição para a continuação do diálogo.
Dick Schoof foi eleito primeiro-ministro por consenso e é o único membro do governo que não tem carreira política: foi funcionário do Ministério da Justiça, chefe do serviço de inteligência (AIVD), titular da Coordenadoria Nacional de Luta contra o Terrorismo (NCTV) e diretor do Serviço de Imigração e Naturalização (IND) da Holanda.
Os quatro parceiros chegaram a um pacto governamental em meados de maio, com algumas linhas gerais sobre como a legislatura deveria funcionar, mas os novos ministros ainda terão de desenvolver um programa governamental.
Não há pistas sobre como serão as suas políticas específicas, embora haja atenção especial, por exemplo, à migração: o pacto inclui a intenção de reduzir a imigração, solicitando à União Europeia uma “cláusula de exclusão” das políticas comunitárias.
A agenda inclui também a crise imobiliária, as emissões de nitrogênio e os problemas do setor pecuário, e a resolução dos escândalos herdados de Rutte, como as consequências dos terremotos devido à extração de gás em Groningen e a indenização de dezenas de milhares de famílias afetadas pela discriminação institucional da Agência Tributária.
“Quero muito começar a trabalhar como primeiro-ministro. Por uma Holanda segura e justa, com proteção social para todos. Defendo o controle da migração, a manutenção do diálogo, a tomada de decisões e a clareza sobre isso. Vocês podem contar comigo”, declarou Schoof após assumir o cargo.