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Enquanto analistas políticos equatorianos ainda têm dúvidas em relação à tendência que será adotada pelo novo presidente do país, Rafael Correa, que toma posse nesta segunda-feira em Quito, ele próprio demonstrou se sentir muito à vontade com a linha anti-EUA e de nacionalização de seus colegas da Venezuela, Hugo Chávez, e da Bolívia, Evo Morales.

Os três passaram o domingo juntos no Equador, onde Morales e Chávez acompanham a cerimônia desta segunda, e mostraram porque são considerados os mais radicais representantes da esquerda que consolida seu crescimento na América Latina. Ao tomar posse simbólica na comunidade indígena Zumbahua, na província de Cotopaxi, Correa reafirmou seu discurso contra o neoliberalismo e, assim como Chávez, exaltou a "nova esquerda do continente".

— Como um milagre foram derrubados os governos servis, as democracias de papel, o modelo neoliberal, e começou a surgir a América Latina altiva, livre, soberana, justa e socialista do século XXI. O servilismo, o entreguismo estão sendo jogados na lata de lixo da história — disse Correa.

Correa, Morales e Chávez usaram ponchos de lã de ovelha confeccionados pelos indígenas Zumbahua, comunidade na qual o presidente equatoriano trabalhou na juventude como voluntário da ordem salesiana. Em seu discurso, Chávez pregou a integração latino-americana e defendeu um bloco econômico "bolivariano" como alternativa à Alca, a área de livre comércio proposta pelos EUA.

— A Alca pode ir para o inferno. O imperialismo americano precisa cair, a América Latina precisa se unir — disse Chávez, afirmando que agora a esquerda "ressuscitou no continente" e chamando Correa de líder comprometido com o povo pobre do Equador e com a união latino-americana.

Assim como Chávez, que assustou investidores internacionais na semana passada ao afirmar que nacionalizará os setores energético e elétrico, Correa promete rever todos os contratos das empresas petrolíferas estrangeiras que operam no Equador e prometeu suspender os pagamentos da dívida externa do país caso não consiga negociar melhores condições.

O presidente de Honduras, Manuel Zelaya, aparentemente também seguindo Chávez e Morales, anunciou que seu governo tomará os terminais de armazenamento de petróleo das empresas estrangeiras. Zelaya disse que a ação é apenas temporária.

Secretário de Comércio dos EUA e representante do presidente George W. Bush na posse, Carlos Gutierrez disse, em sua chegada a Quito, que não espera qualquer problema entre os dois países:

— Somos amigos há muito anos e esperamos ter uma amizade com benefícios mútuos por muitos anos.

Assim como Morales na Bolívia, Correa quer mudar a Constituição e, para isso, um de seus primeiros atos será a convocação de uma consulta popular sobre a Assembléia Constituinte, que enfrenta forte resistência no Congresso. Desde a campanha eleitoral, Correa faz fortes críticas à Constituição do Equador — que classificou de incoerente, contraditória e neoliberal — e ao Congresso.

A posse do oitavo presidente equatoriano desde a redemocratização, em 1979, atraiu autoridades latino-americanas, européias e árabes. Além de Chávez e Evo, participarão da posse, o príncipe das Astúrias, Felipe de Borbón; a presidente do Chile, Michele Bachelet; os presidentes de Peru, Alan García; Paraguai, Nicanor Duarte; Colômbia, Alvaro Uribe; e Nicarágua, Daniel Ortega. E representantes de Cuba, Costa Rica e Argélia. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega hoje pela manhã a Quito.

Apesar da presença de chefes de Estado amigos de Correa, como Lula, Evo e Chávez, o que causa mais polêmica no Equador é a presença do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. A comunidade judaica em Quito protestou contra a presença de Ahmadinejad, que prega a destruição de Israel e disse que o Holocausto é um mito. A participação do iraniano na posse seria o motivo da ausência do presidente da Argentina, Néstor Kirchner — o governo do Irã é acusado por promotores argentinos de ter apoiado o atentado na AMIA, em 1994, que matou 85 pessoas.

Até este momento, fontes dizem que o governo brasileiro não tem motivos para desconfiar das ações do novo presidente equatoriano. Logo depois de eleito, Correa foi recebido por Lula, disse querer entrar no Mercosul e estar satisfeito com a atuação de empresas brasileiras no seu país.

Ex-ministro da Fazenda do governo tampão de Alfredo Palacio, que entregará hoje o poder depois de 20 meses no poder, Correa disse que manterá a dolarização da economia do país, mas pretende adotar medidas radicais para acabar com a pobreza, a corrupção, a crise institucional e a concentração de renda que assolam o país.

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