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Guarda Revolucionária é o maior obstáculo para possíveis aberturas
Agência Estado
Um obstáculo potencial para Hassan Rouhani é a Guarda Revolucionária, atenta à possibilidade de o presidente ir longe demais ou rápido demais , ainda que com o aparente aval do líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei. A Guarda Revolucionária é vista como a única instituição iraniana capaz de se insurgir e pressionar por uma reversão de curso. Se perder o apoio de Khamenei, a legitimidade de eventuais aberturas será duramente afetada.
A Guarda Revolucionária parece incomodada com a incomum situação de observadora. Khamenei orientou a instituição a ficar fora da política, com o argumento de que ela precisaria demonstrar uma "flexibilidade heroica". Ele também autorizou Rouhani a nomear seu ministro das Relações Exteriores para conduzir as negociações nucleares, tirando o assunto das mãos das autoridades de segurança.
A reação da Guarda Revolucionária foi advertir Rouhani a não ir longe demais. "Flexibilidade heroica não significa passividade ou rendição", afirmou Hossein Salami, comandante interino da Guarda Revolucionária.
Em uma rua estreita de Teerã, Mohammad Hasanzadeh vive de bicos. Ele está muito mais preocupado com o próximo trabalho que vai arrumar do que com a distante diplomacia internacional. Mesmo assim, ele se diz mais aliviado com o empenho do novo presidente do Irã, Hassan Rouhani, de buscar um acordo com o Ocidente.
"Eu não votei em Rouhani, mas ele parece ser um bom presidente", diz Hasanzadeh, que nas últimas eleições, assim como grande parte dos moradores de seu bairro na zona sul de Teerã, votou no prefeito da cidade, Mohammad Bagher Qalibaf.
Ao mesmo tempo em que a velocidade dos acontecimentos dos últimos dias aparentemente deixou receosa a poderosa Guarda Revolucionária iraniana, a mudança no tom do discurso do presidente em relação ao Ocidente vem causando uma certa excitação no país.
Expectativa
Os liberais já veem promessas convertidas em ações, como a recente libertação de mais de 90 pessoas presas na repressão aos protestos que se seguiram às eleições presidenciais de 2009. Outros simplesmente apreciam o rompimento com a permanente postura de confronto de Mahmoud Ahmadinejad, o antecessor de Rouhani. "A única coisa que eu sei é que a linguagem de Rouhani é respeitosa, e a do Ahmadinejad não era", diz Hasan Makani, um operário de 42 anos de idade.
Protestos
Na sexta-feira, Rouhani recebeu um telefonema de Barack Obama quando se dirigia ao aeroporto para embarcar de volta a Teerã, após ter participado da Assembleia-Geral da ONU. A conversa foi a primeira entre presidentes dos dois países desde 1979, quando uma revolução levou ao poder uma teocracia xiita.
O ensaio de reaproximação entre Irã e EUA, entretanto, causou protestos ontem, na chegada de Rouani. Furiosos, militantes iranianos jogaram sapatos e ovos contra o presidente, que era esperado por centenas de pessoas no aeroporto Mehrabad a maior parte de apoiadores do governo. O incidente expõe a feroz oposição dos setores mais radicais aos acenos diplomáticos de Rouhani.