A Bolívia forma, com Argentina e Chile, o chamado Triângulo do Lítio, que corresponde a cerca de 60% das reservas mundiais do metal, usado nas baterias de carros elétricos.
Com a promessa de transição energética nas próximas décadas, a corrida pelo lítio está acirrada em todo o mundo, e recentes acordos para exploração parecem indicar uma predileção boliviana por conhecidos aliados geopolíticos.
Na última semana de novembro, o governo da Bolívia anunciou um acordo de US$ 1 bilhão com o consórcio chinês CBC para a construção de duas plantas de extração direta de lítio, no salar (deserto de sal) de Uyuni.
Segundo informações da agência Reuters, La Paz terá uma participação de 51% nos dois projetos, que terão capacidade de produção de 35 mil toneladas de lítio por ano.
O consórcio CBC inclui a CATL, que fabrica baterias para mais de um terço dos veículos elétricos ou híbridos em todo o mundo hoje.
Uma empresa de outra aliada geopolítica do governo de esquerda da Bolívia, a Rússia, também assinou recentemente um acordo para exploração do metal no país sul-americano.
O compromisso assinado em setembro com o Uranium One Group prevê a construção de uma planta de US$ 970 milhões para produzir 14 mil toneladas de carbonato de lítio por ano. Na seleção para construção dessa unidade, empresas e consórcios dos Estados Unidos, da Argentina e da China foram derrotados.
Os acordos com o Uranium One Group e o CBC precisam de ratificação no Parlamento da Bolívia.
O país sul-americano tem buscado parcerias e investimentos estrangeiros porque não possui a tecnologia e os recursos para exploração de lítio em salares, onde está localizada a maioria das reservas bolivianas e que exigem processos sofisticados de extração.
O presidente boliviano, Luis Arce, argumenta que não há favorecimento para parceiros geopolíticos do seu governo na negociação e no fechamento de acordos.
“Não são apenas empresas russas e chinesas que estão interessadas em investir na Bolívia. Nosso país não está fechado para nenhuma empresa”, afirmou.
Porém, o próprio mandatário boliviano havia afirmado em junho que acordou com o ditador da Rússia, Vladimir Putin, que os projetos conjuntos dos dois países na Bolívia para a exploração do lítio e o desenvolvimento de tecnologia nuclear estarão plenamente em andamento em 2025.
Além disso, um alerta já havia sido acionado em março de 2023, quando a general Laura Richardson, então chefe do Comando Sul dos Estados Unidos, alertou em uma audiência no Congresso americano sobre a atuação da China na exploração do Triângulo do Lítio.
“Eles não investem, eles extraem. A estratégia deles para o lítio é muito avançada e muito agressiva”, disse Richardson.
O ex-presidente boliviano Evo Morales, que protagoniza uma disputa política com o ex-aliado Arce, respondeu com uma postagem no X.
“Repudiamos as ameaças da chefe do Comando Sul dos Estados Unidos, Laura Richardson, que repete o interesse predador do seu país sobre o ‘Triângulo do Lítio’ na Bolívia, Argentina e Chile”, escreveu Morales.
Esta semana, de acordo com a agência EFE, a Bolívia assinou acordos com a empresa australiana-alemã Eau Litihum, a franco-boliviana Geolit Actaris e a argentina Tecpetrol para realizar estudos em três de seus salares menores em Coipasa (departamento de Oruro), Pastos Grandes e Empexa (Potosí), para planejar a aplicação de tecnologias de industrialização e produção de lítio.
Esses compromissos parecem reforçar o argumento de Arce de que a Bolívia não está fechada a nenhum país para ajudá-la a extrair riqueza das suas imensas reservas de lítio. Porém, levando-se em conta a velha retórica bolivariana de Morales e os sinais contraditórios de Arce, um grande ponto de interrogação permanece.