| Foto: AFP

São Paulo – Duas espécies que, acreditava-se, estavam entre os ancestrais diretos do homem moderno foram, na verdade, irmãs, não mãe e filha, e uma delas – o Homo habilis – possivelmente não está na linha evolutiva que leva à humanidade atual. Essas conclusões, apresentadas na edição desta semana da revista Nature, vêm de dois fósseis descobertos em 2000 no Quênia.

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Os fósseis são um pedaço de mandíbula de Homo habilis e um crânio preservado de Homo erectus, datados de 1,44 milhão e 1,55 milhão de anos atrás, respectivamente.

A descoberta mostra que as duas espécies conviveram numa mesma área por um período de vários milhares de anos, o que contradiz a hipótese de que o Homo habilis teria sido ancestral do Homo erectus. Assim, uma dessas duas espécies tem de deixar a linha dos ancestrais diretos do homem.

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"Em princípio, é o Homo habilis que deve ir embora", disse o principal autor do artigo que descreve a descoberta, Fred Spoor, do University College London .

Segundo ele, "os dois provavelmente vêm de um ancestral comum, ainda desconhecido", que teria vivido entre 2 milhões e 3 milhões de anos atrás. Também tomaram parte na pesquisa a equipe de mãe e filha Meave e Louise Leakey, do Koobi Fora Research Project, no Quênia.

Spoor, que continua em campo no Quênia e falou à Agência Estado por telefone via satélite, comparou a situação à do homem de neandertal, que até os anos 50 do século passado era citado como um ancestral do homem moderno. Desde então, descobriu-se que ele, na verdade, representava um ramo paralelo na evolução.

"As duas espécies provavelmente se evitavam", disse ele, descrevendo as condições de coexistência entre o habilis e o erectus. "Como chimpanzés e gorilas da atualidade, que ocupam territórios próximos, mas não gostam de entrar em contato".

Ele diz que as duas formas ocupavam nichos ecológicos diferentes com dietas distintas: "O Homo erectus era mais sofisticado", com uma dieta mais variada, que possivelmente incluía carne de caça, enquanto o habilis tinha hábitos mais vegetarianos.

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Se o Homo habilis desapareceu e o Homo erectus não é seu descendente, o que aconteceu com ele? "Provavelmente eram uma população pequena, que não resistiu a mudanças ambientais" e acabou extinta, diz.

Outro ponto considerado "surpreendente" por Spoor nos fósseis descobertos no Quênia é o tamanho, diminuto, do crânio de Homo erectus, em comparação com outros fósseis da mesma espécie.