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Foram encontrados dois crânios, uma mão direita quase completa, um pé e uma pélvis | Stringer/Reuters
Foram encontrados dois crânios, uma mão direita quase completa, um pé e uma pélvis| Foto: Stringer/Reuters
  • O autor da pesquisa foi elogiado por permitir que outros pesquisadores tenham acesso aos fósseis

Fósseis ósseos de uma criatura símia com traços humanos foram descobertos recentemente numa caverna na África do Sul, e são descritos por paleoantropólogos co­­mo um provável marco na compre­­ensão da evolução humana.

O descobridor dos fósseis, Lee Berger da Universidade de Wit­­wa­­tersrand em Joanesburgo, diz que a nova espécie, conhecida como Australopithecus sediba, é o ancestral conhecido mais plausível pa­­ra os humanos arcaicos e modernos.

Se a hipótese de Berger for aceita redesenhará radicalmente a versão atual da árvore genealógica humana. A nova espécie deslocaria o Homo habilis, o famoso fóssil construtor de ferramentas co­­mo o elo mais provável entre os australopitecinos e a linhagem hu­­­­ma­­na. Os australopitecinos eram criaturas símias que andavam eretas, como pessoas, mas que ainda não haviam abandonado as árvores.

Berger e seus colegas apresentam essa hipótese em cinco artigos do último volume da revista Science.

A significância principal dos novos fósseis não é a de que o Australopithecus sediba seja necessariamente um ancestral direto do gênero humano, afirmaram ou­­tros cientistas, mas de que os fósseis enfatizam a riqueza da experimentação evolutiva dentro do grupo dos australopitecinos.

"Esse material novo é realmente emocionante", disse Ian Tat­­tersall, paleoantropólogo do Mu­­seu Americano de História Na­­tu­­ral de Nova Iorque. "Eu acho que ele traz a possibilidade de escancarar a questão de no que consiste o Homo".

Além de dois crânios relatados ano passado, pesquisadores liderados por Berger recuperaram desde então uma mão direita quase completa, um pé e uma pélvis. Os ossos estão especialmente bem preservados porque seus donos aparentemente caíram numa ca­­verna profunda e, dentro de algumas semanas, foram carregados para em meio a um sedimento que rapidamente fossilizou seus ossos. As rochas acima da caverna foram gradualmente sofrendo erosão, trazendo os ossos à superfície, onde um deles foi encontrado por Matthew, o filho de Berger de 9 anos de idade, em 2008, en­­quanto corria atrás de seu cão.

A queda para dentro da caverna aconteceu há 1,9 milhão de anos atrás, de acordo com uma datação baseada na taxa de desintegração do urânio na camada de rocha que carregava os fósseis.

A equipe de Berger descreve novas combinações de traços sí­­mios e humanoides na mão, pé e pélvis da nova espécie. A mão, por exemplo, é símia, porque tem de­­dos longos e fortes, aptos para su­­bir em árvores e, no entanto, é hu­­manoide por ter um longo dedão, que, em combinação com os ou­­tros dedos, poderia segurar ferramentas com uma pegada precisa. Um molde do interior do crânio mostra um cérebro símio, mas que já havia dado o primeiro passo em direção à reorganização de acordo com os traços humanos.

A mistura de traços símios e hu­­manoides sugere que a nova espécie era uma de transição entre os australopitecinos e os humanos. Dada sua idade, o Australopithecus sediba tem a idade certa para ser ancestral do Homo erectus, a primeira espécie sobre a qual paleoantropólogos concordam pertencer à ascendência humana e que existiu há 1,9 milhão de anos.

Mas os fósseis são significativos, mesmo que o sediba não seja um ancestral humano direto. Eles são prova da ocorrência de uma fermentação de experimentação evolutiva na época, da qual a li­­nhagem humana de algum modo emergiu. "Se você assumir o sediba co­­mo uma metáfora para a mudança evolutiva, é muito mais poderoso do que a hipótese de uma descendência direta", disse Tattersall.

Ao defender que o Australopiteco é o ancestral da linhagem humana, Berger descarta todos os fósseis anteriores considerados hu­­manos, incluindo uma mandíbula de 2,33 milhões de anos descoberta em 1994 em Hadar, na Etió­­pia, pelo paleoantropólogo Do­­nald Johanson. A mandíbula tem alguns traços humanos, es­­crevem Berger e seus colegas; no entanto, isso não significa que o portador da mandíbula fosse necessariamente humano. Mas Johanson afirmou num e-mail que a mandíbula de Hadar "possui todas as marcas principais do Homo", da linhagem humana, e "aponta firmemente para as origens do Homo no leste da África, pelo menos 400.000 anos antes da datação do A. sediba".

Tattersall disse que Berger foi "incrivelmente solícito" em dar a outros pesquisadores acesso aos seus fósseis, em vez de guardá-los para uso privado, como outros pa­­leoantropólogos têm o costume de fazer.

Tradução: Adriano Scandolara

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