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Venezuela

Novos-ricos do petróleo inflacionam mercado de luxo

 | Sossella
(Foto: Sossella)

Caracas – Eles fazem questão de se misturar à multidão nos comícios do presidente Hugo Chávez, usam camisas e bonés vermelhos, são a favor da reforma constitucional, mas, no fim de cada evento, pegam seus carros luxuosos e voltam para suas mansões localizadas nas áreas mais nobres da capital, Caracas.

Os quase nove anos de governo Chávez criaram na Venezuela uma espécie de burguesia bolivariana, ou "boliburguesia", como ficou conhecida no país. São, na maioria, empresários e grandes executivos de empresas que prestam serviços para o governo, principalmente para a gigante estatal do petróleo, a PDVSA. No embalo da alta dos preços do petróleo, esses novos ricos inflacionam o mercado de luxo das grandes cidades, esvaziam galerias de arte e fazem com que a fila de espera por um carro importado demore de seis meses a um ano.

"A boliburguesia não está substituindo os antigos ricos, e sim aumentando a classe alta venezuelana. O resultado disso é que nunca se consumiu no país tanto produto de luxo. Esses novos ricos ganharam dinheiro rápido demais e são totalmente dependentes do governo, ao contrário da antiga elite, opositora a Chávez", disse o economista José Guerra, da Universidade Central de Caracas.

Além do petróleo, os setores de construção e finanças são os que mais impulsionam a formação de novos-ricos. Mas há também políticos, executivos de empresas públicas e altos funcionários de carreira dos ministérios na nova classe.

Quase todos os dias, a imprensa venezuelana publica reportagens relativas a casos de enriquecimento ilícito, frutos de desvios milionários de verbas públicas. Os casos são tão numerosos que o jornal El Nacional publicou recentemente um livro com os principais escândalos. "Seria leviano dizer que todos esses novos-ricos roubam dinheiro público. Apenas uma pequena parcela deles se enquadra nesses casos. Mas é fato que, para ser membro da boliburguesia, é preciso estar alinhado com o governo. Sem estar próximo de Miraflores (o palácio presidencial), não é possível prestar serviços para as grandes estatais. Chávez está criando sua própria elite, já que a antiga não o vê com bons olhos", afirmou o cientista político Tomás Rivas Rondón.

A nova classe alta e a melhoria da renda de parte da classe média por conta do aumento do preço do petróleo fazem com que a Venezuela passe por um momento de explosão no consumo. A venda de carros este ano, por exemplo, registrou um aumento de quase 60% em relação ao ano passado, segundo a Câmara Automotora da Venezuela. Tevês de plasma e outros eletrodomésticos de alto padrão, segundo associações comerciais venezuelanas, devem sofrer um aumento de 30% no período de Natal.

"Mas não podemos nos esquecer de que se trata de uma riqueza baseada em um só produto e isso é muito perigoso. Toda a economia depende do petróleo e do destino que o governo dá a ele. É o governo que, enquanto pode, decide quem fica rico e quem fica de fora. Em tempos de crise, a decadência pode chegar com a mesma velocidade que a riqueza está chegando", afirma Rondón.

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