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Religião

“Novos” velhos pecados

 | Stefan Wermuth/ Reuters
(Foto: Stefan Wermuth/ Reuters)
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O 226.º Papa da Igreja Católica, Joseph Alois Ratzinger (Bento XVI), foi eleito no conclave de 2005, mas, só agora, quase 5 anos após ter assumido a função, o Pontífice parece dar pistas claras do que realmente pensa. E essa leitura só é possível graças ao lançamento de Luz do Mundo – O Papa, a Igreja e os Sinal dos Tempos, um livro-entrevista em que o Papa fala, entre outras coisas, da possibilidade de renúncia do cargo e do uso de preservativos por profissionais do sexo.

"A utilização do preservativo por prostitutas pode ser um primeiro passo para a moralização", declarou o Santo Padre ao jornalista alemão Peter Seewald, autor do livro. Bento XVI quis dizer que o uso da camisinha com o objetivo de impedir que a aids se espalhe pode ser justificado em certos casos.

Uma posição pessoal que não encontra respaldo nos manda­­mentos da Igreja Católica, contrária à qualquer tipo de método contraceptivo, como a camisinha. Embora al­­guns líderes católicos também já tenham falado sobre o uso limitado da camisinha em al­­guns casos, foi a primeira vez que o Papa mencionou tal possibilidade.

Dom Rafael llano Cifuentes, bispo emérito de Nova Friburgo, Rio de Janeiro, esteve com Bento XVI em duas "visitas ad limina" – obrigação dos bispos de a cada cinco anos se encontrarem com o Papa – no Vaticano e teve a possibilidade de conversar com Ratzinger sobre o assunto. "Eu o consultei a respeito deste assunto e a coisa está restrita apenas a determinados casos, como no caso da mulher de vida pública [prostituta] que usa o preservativo para evitar o contágio. Não é para evitar ter filhos, mas para se resguardar de uma possível doença", explica o bispo. "A Igreja entende que qualquer relação sexual tem que estar aberta à vida", completa dom Llano, deixando claro que a declaração do Papa não prevê o uso do preservativo indiscriminadamente, como forma de contracepção por exemplo.

Retificações foram feitas pelo Vaticano, mas até agora não houve nenhum pronunciamento oficial. Ou seja, até o momento do fechamento desta edição não havia uma palavra oficial do Vaticano sobre as declarações de Bento XVI.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) Sul II – responsável pelas dioceses e arquidioceses do Paraná – foi procurada para comentar as declarações do Sumo Pontífice, mas por várias razões não pôde atender às solicitações da reportagem. Muitos dos bispos estavam em "visita ad limina" ao Vaticano e só retornam no início desta semana. Outros preferiram não comentar o assunto, alegando que ainda não tiveram acesso ao livro sobre o Papa.

Realidade

Apesar das várias especulações ocasionadas pelas declarações do Pontífice, os especialistas tentam desmitificar a questão. "Não resta dúvida que uma das motivações dessa declaração é que precisamos reconhecer que a aids e as doenças sexualmente transmissíveis (DST) são uma realidade factível, inalienável e que têm de ser enfrentadas", avalia Adriano Holanda, professor e chefe do departamento de Psi­­cologia da Universidade Federal do Paraná e que desenvolve pesquisas na área de Psicologia da Religião. "Não dá mais para tapar o sol com a peneira", completa.

Ao contrário de alguns membros do clérigo, as declarações de Bento XVI foram muito bem recebidas pelos profissionais e organismos de saúde. Para Eduardo Araújo, diretor-adjunto do De­partamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, a declaração do Papa "é importante, já que aponta o preservativo com um mecanismo usado para prevenir a aids e abre a possibilidade para que a própria Igreja discuta a questão como uma barreira de proteção."

Ele admite que há diferenças dogmáticas entre a Igreja e o Es­­tado, mas acredita que a declaração permitirá que as ações já realizadas ganhem um outro contorno. "Esta é uma declaração bastante promissora, pelas ações que o ministério já desenvolve com a CNBB e a Pastoral", avalia Araújo. "O que aconteceu torna possível que, entre os fiéis, a Igreja reconheça que eles tenham além da confissão uma barreira de proteção à sua saúde. É a igreja reconhecendo a limitação do próprio homem, tendo o preservativo como aliado", conclui.

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