A Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos vasculhou diretamente os canais de comunicação usados pelo Google e o Yahoo para transferir enormes volumes de e-mails e outras informações entre centros de dados no exterior, publicou o jornal The Washington Post nesta quarta-feira (30). Não está claro como a NSA acessou o material.
A reportagem, baseada em documentos da NSA vazados pelo ex-técnico de informação Edward Snowden, parece demonstrar que a agência se aproveitava da escassez de restrições em suas atividades no exterior para explorar, de forma mais intensa do que se imaginava até agora, os dados de grandes empresas norte-americanas da internet.
Revelações anteriores feitas por Snowden davam conta de espionagem da NSA em material do Google e outras empresas dentro dos EUA sob ordem judicial. Já a interceptação recém-revelada, sob o codinome "Muscular", ocorre fora dos EUA e, por isso, não há supervisão da Corte de Vigilância da Inteligência Estrangeira, um tribunal secreto norte-americano.
Um porta-voz do Google, empresa que recentemente disse estar acelerando seus esforços de criptografia do tráfego interno, disse à Reuters: "Estamos perturbados por alegações de que o governo teria interceptado tráfego entre nossos centros de dados, e não estamos cientes dessa atividade".
Uma porta-voz do Yahoo declarou que a empresa tem "rigorosos controles em vigor para proteger a segurança dos nossos centros de dados, e não demos acesso aos nossos centros de dados para a NSA ou para qualquer outra agência governamental".
Como outras grandes empresas, o Google e o Yahoo constantemente enviam dados por cabos internacionais de fibra óptica, partilhados ou exclusivos.
O programa ora revelado, operado em conjunto com o GCHQ, equivalente britânico da NSA, reuniu 181 milhões de registros em um recente período de 30 dias, segundo um documento obtido pelo Post. Não era possível saber quanto material de moradores dos EUA havia nesse total, como a agência compilou os dados ou quanta informação foi retida.
Em nota, um porta-voz da NSA declarou que "não é verdade" que a agência, como sugeriu o Post, use a vigilância internacional para espionar cidadãos dos EUA, burlando restrições jurídicas internas.
"A NSA é uma agência de inteligência estrangeira. E estamos focados em descobrir e desenvolver inteligência a respeito apenas de alvos de inteligência estrangeiros válidos."
Questionado num evento em Washington sobre a reportagem do Post, o diretor da NSA, general Keith Alexander, disse que não a leu, mas que a agência não tem acesso irrestrito aos servidores das empresas norte-americanas.
"Posso lhes dizer factualmente que não temos acesso aos servidores do Google, aos servidores do Yahoo. Vamos por meio de mandado judicial."