O número de casos de Covid-19 na China pode ser quatro vezes maior do que o reportado pelo governo chinês. Pesquisadores de Hong Kong estimaram, em um estudo publicado nesta terça-feira (21) na revista científica The Lancet, que mais de 232 mil pessoas podem ter sido infectadas pelo novo coronavírus até 20 de fevereiro, durante a primeira onda da epidemia na China continental. Nessa época, as autoridades de saúde do país haviam informado cerca de 55 mil casos da doença.
Para chegar a este número, os pesquisadores da Escola de Saúde da Universidade de Hong Kong examinaram mudanças nas diretrizes usadas pelo governo chinês para definir um caso confirmado de Covid-19. Desde o início da epidemia até 3 de março, sete versões foram adotadas enquanto as autoridades de saúde iam tomando conhecimento sobre a doença.
Usando modelos de crescimento exponencial, eles estimaram como essas mudanças nas definições afetaram o número de casos relatados a cada dia. Se as diretrizes adotadas em meados de fevereiro (a quinta versão) já estivessem em vigor quando o governo chinês começou a contabilizar a propagação da Covid-19, na metade de janeiro, 232 mil pessoas teriam sido diagnosticadas com a doença.
Essa grande mudança ocorreria porque a partir de 13 de fevereiro as autoridades passaram a contabilizar casos com sintomas leves, relatórios clínicos e sem ligação com Wuhan, o epicentro da epidemia, sem a necessidade de um teste para confirmação. Neste dia, o número de casos informados pelo governo chinês saltou de 44,7 mil para 59,8 mil, ou seja, 33,8%. Uma semana depois, a decisão foi revista.
"O número real de infecções ainda pode ser maior do que o estimado atualmente, considerando a possibilidade de sub-detecção de algumas infecções, principalmente aquelas leves e assintomáticas, mesmo nas definições mais amplas de casos", escreveram os cientistas, liderados pelo doutor Peng Wu.
Em sua contagem oficial, a China continental registra nesta quinta-feira (23) 83,8 mil casos da doença. A suspeita sobre os números reais de infecção cresceram à medida que outros países começaram a registrar muito mais casos da doença.
Atualmente, a China, apesar do seu tamanho e de ser o país onde a doença se originou, é apenas o nono colocado no ranking dos países com mais casos confirmados do novo coronavírus, atrás de países muito menores, como Itália, Irã, Alemanha e Reino Unido. Levando em consideração os números apresentados pelos pesquisadores honcongueses, a China estaria ao menos na segunda colocação, atrás apenas dos Estados Unidos, que é o país que mais está realizando testes para a Covid-19.
Na semana passada, em um esforço de responder à críticas sobre a transparência de seus dados, a China revisou o número de mortos e casos em Wuhan. Mais 325 casos foram contabilizados na cidade e outras 1.290 mortes foram relacionadas à doença. As autoridades locais informaram que a revisão ocorreu porque, com o sistema de saúde sobrecarregado, muitas pessoas não foram diagnosticadas e acabaram morrendo em suas casas. Também alegou que, com novas instituições de saúde trabalhando para atender aos infectados, houve atraso na coordenação de informações sobre a epidemia.
O que os pesquisadores de Hong Kong descobriram é que os diferentes modelos de definição de casos de coronavírus tem uma grande relevância na curva epidemiológica da doença.
“Estimamos que, quando as definições de caso foram alteradas da versão 1 para 2, versão 2 para 4 e versão 4 para 5, a proporção de infecções identificadas como casos do Covid-19 aumentou 7,1 vezes da versão 1 para 2, 2,8 vezes da versão 2 à 4 e 4,2 vezes da versão 4 à 5 ”, afirma o artigo.
Esses cálculos foram baseados em curvas epidemiológicas apresentadas em um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicado em 28 de fevereiro após uma missão da entidade a Wuhan, composta por pesquisadores de vários países, inclusive dos Estados Unidos. As curvas mostram o número de casos com base nas datas de início dos sintomas e nas datas dos relatórios.
“Nossas descobertas também sugerem que cautela pode ser necessária para análises das trajetórias das curvas epidêmicas em outros países. As epidemias podem parecer estar crescendo mais rapidamente do que realmente estão devido a rápidas expansões na realização de testes”, escreveram os pesquisadores. “A disponibilidade e a capacidade para testes laboratoriais também serão um fator importante para moldar as curvas epidêmicas, que serão importantes para orientar as respostas em saúde pública”.
Em países com pouca capacidade para realização de testes, os pesquisadores sugerem que a confirmação radiológica pode ser uma alternativa potencial para rastrear a incidência de casos hospitalizados.
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