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Memória

O adeus ao ícone da canção de protesto dos anos 70 e 80

Mercedes Sosa: seu último CD, Cantora 1, está indicado ao Grammy Latino de álbum do ano | Yuri Cortez/Musician
Mercedes Sosa: seu último CD, Cantora 1, está indicado ao Grammy Latino de álbum do ano (Foto: Yuri Cortez/Musician)
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São Paulo - Mercedes Sosa deixa uma obra vasta e de forte temática social, após uma vida de resistência política misturada ao romantismo, com dezenas de parcerias importantes, inclusive com brasileiros. A cantora argentina morreu ontem, aos 74 anos, após semanas de internação por causa de um problema hepático que piorou com complicações pulmonares. O corpo de Sosa será velado no Congresso argentino até o meio-dia de hoje, e posteriormente será cremado.

A cantora já havia sido hospitalizada em março deste ano, devido a um quadro de pneumonia e desidratação. Sua saúde frágil a impediu de lançar oficialmente o álbum duplo Cantora, que traz participações de Caetano Veloso, Sha­kira e Joan Manuel Serrat, entre outros artistas.

La Negra

Com uma carreira de mais de quatro décadas, Mercedes foi uma das vozes mais representativas da música popular argentina e da América Latina. Carinhosamente apelidada de "La Negra" pelos fãs, nasceu na cidade argentina de Tucumán, no dia 9 de julho de 1935. Ela começou a carreira em 1950, aos 15 anos. Ao lado de um grupo de amigas, participou de uma competição na rádio local, apresentando-se sob o pseudônimo de Gladys Osorio.

Na década seguinte, se envolveu com a música folclórica argentina. Gravou seu primeiro disco, Canciones con Fundamento, com o marido Manuel Oscar Matus, em 1965. Poucos anos depois se tornaria conhecida nos Estados Unidos e na Europa.

Militante ativa

Por volta da década de 1970, ela foi reconhecida como uma das cantoras que impulsionou o Movimento do Novo Cancioneiro, que tinha inspiração social e incorporava nas músicas críticas aos governos ditatoriais da América Latina. A proximidade com os movimentos comunistas e o apoio a partidos de esquerda atraiu a atenção e a censura do governo argentino.

Em 1979 – um ano após ficar viúva do segundo marido –, Sosa foi presa juntamente com um público de aproximadamente 200 estudantes durante uma apresentação na cidade de La Plata. Ela foi libertada 18 horas depois, após o pagamento de fiança e devido à pressão internacional, mas foi obrigada a deixar a Argentina. Exilou-se em Paris e depois se instalou em Madri.

Segundo o diretor musical da cantora, Popi Spatocco, o exílio foi excessivamente difícil para uma mulher que amava a Argentina. Sosa voltou para casa apenas em 1982, nos meses finais do regime ditatorial.

Sucessos

Em 1983, ela lançou o álbum Mercedes Sosa, que contém alguns de seus maiores sucessos. Nos últimos anos, antes do agravamento de seu estado de saúde, excursionou por diversos países da América Latina e Europa, com grande sucesso.

Três de seus discos foram considerados os melhores álbuns folk na premiação da Grammy Latino: Misa Criolla, em 2000, Acustico, em 2003, e Corazón Libre, em 2006. Mercedes também atuou em filmes como El Santo de la Espada, sobre o herói da independência argentina José de San Martin. O último álbum da artista, Cantora 1, está indicado ao Grammy Latino de álbum do ano. O resultado sairá no mês que vem.

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Cronologia

Haydée Mercedes Sosa nasceu em 9 de julho de 1935 em San Miguel de Tucumán, Argentina.

Fonte: Folhapress

Anos 1950

– Sob o pseudônimo Gladys Osorio, vence um concurso promovido por uma rádio. Como prêmio, ganha um contrato de dois meses para se apresentar em programas da emissora. Começava ali sua carreira.

Anos 1960

– participa do Movimiento del Nuevo Cancionero, grupo que pretende renovar a música de raiz da Argentina, destacando o cotidiano do povo argentino. Lança o primeiro disco, "Canciones con Fundamentos", em 1965.

– "Yo No Canto por Cantar" e "Hermano" ambos de 1966, são dois discos que fazem de La Negra, como era conhecida, uma das vozes mais marcantes da América do Sul. Entre as canções, estão "Canción del Derrumbe Indio", "Canción para Mi América", "Los Inundados" e "Zamba para No Morir".

Anos 1970

– É convidada pelo compositor Ariel Ramírez a participar do álbum "Mujeres Argentinas", em que interpretava letras de Felíx Luna. Ela trabalharia novamente com a dupla em 1972, no disco "Cantata Sudamericana".

– Lança em 1976 "Mercedes Sosa", em que interpreta letras de poetas como Víctor Jara, Alicia Maguiña, Ignacio Villa e Pablo Neruda.

– Em 1977, é investigada pelo Dops (Departamento de Ordem Política e Social), no Brasil, suspeita de ser artista "subversiva"

– Em 1979, durante um show em La Plata, é detida pela polícia do regima ditatorial argentino.

Anos 1980

– Exila-se em Paris e, em 1980, muda-se para Madri. Sosa podia voltar para a Argentina, mas estava proibida de cantar, pois suas canções eram consideradas `perigosas".

– Participa de "Traduzir-se", (1981), disco de Fagner, em que canta na faixa "Años".

– Excursiona pelo Brasil em 1982, onde grava "Gente Humilde". Retorna definitivamente à Argentina no mesmo ano.

– Lança "Mercedes Sosa" em 1983, disco que traz sucessos como "Maria Maria", "Corazón Maldito" e "Un Son para Portinari".

– Em 21 de dezembro de 1984, canta, com Milton Nascimento, no espetáculo "Corazón Americano", que reuniu 30 mil pessoas no estádio do Velez Sarsfield. No ano seguinte, seria traduzido em disco.

– A partir de uma extensa turnê pelo Brasil, lança "Mercedes Sosa 86". Em 1987, excursiona pelo mundo, passando por Alemanha, Suécia, Holanda, México, entre outros. É ovacionada no Carnegie Hall, em Nova York.

– Canta com Milton Nascimento, Charly García, Fito Páez e Fagner, entre outros, no disco "Amigos Míos" (1988)

Anos 1990

– Organiza e participa do festival "Sin Fronteras", com Teresa Parodi, Silvina Garré, Beth Carvalho, Amparo Ochoa, entre outras, no ginásio Luna Park, em Buenos Aires.

– Em 1991, é acompanhada por Fito Páez, Julia Zenko, Nito Mestre, Celeste Carballo, los León Gieco, Charly García, entre outros, em show para 15 mil pessoas no estádio Ferro Carril Oeste.

–"Mercedes Sosa, 30 Años" (de 1993) e "Mercedes Sosa - Oro" (1995) são duas coletâneas que abarcam diversas fases da carreira da cantora.

Anos 2000

– "Corazón Libre", de 2005, recebe elogios da imprensa argentina. Em 2009, lança "Cantora", disco em que faz duetos com Joan Manuel Serrat, Shakira, entre outros.

– Em setembro do ano passado, realiza suas últimas apresentações ao vivo no Brasil.

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