O dia das mães é comemorado em 30 de maio na Nicarágua. Mas para mais de 300 mães nicaraguenses da associação Mães de Abril, a data foi lembrada com luto nesta quinta-feira. Exatamente um ano atrás, jovens foram assassinados pelo regime de Daniel Ortega durante manifestações pelo país.
Segundo dados do Grupo Interdisciplinario de Expertos Indepiendientes, 109 pessoas foram assassinadas entre 20 de abril e 30 de maio de 2018, a maioria por disparos de armas de fogo na cabeça e no tórax. Apenas no dia 30 de maio de 2018, dia das mães no país, a polícia orteguista e grupos paramilitares assassinaram 19 pessoas em toda a Nicarágua, no contexto da "Mãe de Todas as Marchas". Dessas, oito foram mortas na capital Manágua, nos arredores da Universidad Centroamericana (UCA).
Até hoje, nenhum responsável pelas mortes foi detido ou acusado judicialmente.
Na ocasião, as pessoas saíam às ruas protestar contra o regime de Daniel Ortega, que completava 11 anos.
A polícia de Ortega e gangues paramilitares usaram força e violência, incluindo munição real disparada contra civis, para acabar com as manifestações.
A marcha de 30 de maio de 2018 foi anunciada como uma homenagem às mães de dezenas de pessoas mortas durante a repressão anterior. Mais uma vez, os manifestantes foram recebidos com forte repressão do regime.
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Um ano após os protestos
O estopim para os protestos que explodiram em 19 de abril de 2018 na Nicarágua foi a aprovação pelo governo de um imposto sobre os cheques de pensão dos aposentados. Os manifestantes fizeram barricadas em rodovias e estradas principais, paralisando a economia da Nicarágua.
Em maio de 2018, 70% dos nicaraguenses queriam que Ortega renunciasse. As manifestações duraram semanas, e nesse período, analistas previam que o fim da era Ortega estava próximo. A previsão, no entanto, não se confirmou.
O ditador redobrou sua aposta na truculência para resolver a crise. Em julho, a Assembleia Nacional modificou a lei antiterrorismo do país para enquadrar manifestantes e, em setembro, o regime proibiu a realização de protestos.
Ainda assim, o levante sobrevive. De acordo com o jornal Confidencial, as forças da oposição encontraram formas criativas para protestar, seja bloqueando ruas sem aviso prévio ou convocando "buzinaços".
"A polícia fica louca, porque não podem te prender com a desculpa que você está buzinando demais", disse, em abril deste ano, à publicação um manifestante identificado como Gabriel. "Estamos armando um caos responsável."
De lá para cá, Ortega usou tudo o que estava à sua disposição para se consolidar no poder. Prendeu opositores, acabou com protestos, perseguiu jornalistas, invadiu redações, proibiu manifestações. Tudo isso levou o país a uma crise política e de direitos, que depois terminou em uma crise econômica.
Hoje, Daniel Ortega tem o controle novamente.
Nesta quinta-feira, o regime tirou da prisão 50 pessoas que estavam detidas após participarem dos protestos contra o governo, passando-os para a prisão domiciliar, informou o Ministério do Interior.
O grupo se soma a outros 336 detidos que tiveram mudança do regime carcerário.
Eleições questionadas
Ortega é uma das principais figuras políticas da Nicarágua desde a Revolução Sandinista, que pôs fim à ditadura de Anastasio Samoza em 1979. O líder esquerdista ocupou a Presidência entre 1985 e 1990, antes de voltar ao poder em 2007.
Desde então, Ortega recorreu a mudanças na Constituição e à perseguição contra políticos da oposição para se manter no poder. Em 2016, uma eleição questionada lhe deu o terceiro mandato consecutivo. De acordo com as leis do país, a próxima votação deverá ocorrer em 2021.
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