Curitiba O derretimento das geleiras, o aumento do nível do mar, a estiagem na Amazônia, a elevação das temperaturas médias que favorecem a formação de furacões e muitas outras mudanças físicas e geológicas são decorrentes do aquecimento global. Se uma mudança natural surge, pensa-se logo no vilão de costume: o efeito estufa. Mas a "redução" do Everest, anunciada na semana passada por cartógrafos chineses, foge a essa regra. O grupo garante que em vez dos consagrados 8.848,13 metros, o pico tem 8.844,43: 3,7 metros a menos. O relato chinês também sepulta a versão dos norte-americanos que em 1999 concluíram que o monte tinha 8.850 metros.
Mesmo sem elementos para comprovar a medição, especialistas de diversas áreas concordam com a justificativa recém-apresentada pelos chineses: o Everest não encolheu, apenas foi medido com maior precisão. A favor da tese, está o argumento irrefutável de que os instrumentos de medição ficam cada vez mais precisos.
A hipótese de erro de medição parece ser a mais plausível no caso do Everest, comenta o coordenador do Programa de Energia e Mudanças Climáticas do WWF Brasil, Márcio Maia Vilela. "Foram feitas inúmeras medições e com o passar dos anos a precisão dos instrumentos ficou mais refinada." Vilela cita o caso do pico Agulhas Negras (2.791,6 metros), no Rio de Janeiro, que era considerado o ponto mais alto do Sudeste até ser medido novamente e perder o posto para o pico da Pedra da Mina (2.798,4 metros), que fica entre São Paulo e Minas Gerais.
Para Ideval Souza Costa, do Museu de Geociências da Universidade de São Paulo, a diferença na altura do Everest divulgada pelo Departamento Chinês de Cartografia deve provocar uma corrida de cientistas ávidos para comprovar ou desmentir a constatação recente.
Por se tratar da altitude do cume é difícil relacionar a "redução" ao aquecimento global, diz Gil Biekarz, geólogo da Mineropar (Serviço Geológico do Estado do Paraná). "As teses de erros anteriores e da movimentação de placas tectônicas são mais plausíveis", diz. Biekarz destaca que o derretimento de capas de gelo nas montanhas é visível no mundo todo. "Com o aumento da temperatura nos últimos 100 anos, o derretimento de camadas de neve atinge desde o Monte Kilimanjaro, na África, até a região dos Andes, entre Bolívia e Peru. É preocupante o desequilíbrio que o efeito estufa está causando nessas regiões".
Himalaia
O Himalaia, cordilheira do qual o Everest faz parte, não está livre de teorias ligadas ao aquecimento global. Um estudo divulgado este ano pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF, na sigla em inglês) aponta que, em algumas montanhas, a camada de neve que cobre os cumes está se reduzindo entre 10 e 15 metros a cada ano. O documento diz que o rápido derretimento da camada de neve poderia provocar um aumento no volume de água dos rios asiáticos, e, conseqüentemente, uma onda de inundações em cidades quase sempre construídas sem o respeito necessário aos limites da natureza.