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Os produtores do etanol brasileiro vêm fazendo propaganda positiva do produto na Europa e nos EUA, inclusive com a abertura de escritórios, para contra-atacar o receio quanto ao uso de trabalho escravo e degradação ambiental. Para o diretor do Centro Brasileiro de Infra-estrutura, Adriano Pires – um dos maiores especialistas em combustíveis do país – esse trabalho funciona, mas as barreiras cairão apenas quando o etanol se tornar uma commodity sujeita a legislação própria e especificações claras.

Gazeta do Povo – Que barreiras o Brasil enfrenta para aumentar sua produção de etanol?

Adriano Pires – Precisamos de uma legislação, como Bush fez nos EUA. Uma lei mais clara de biocombustíveis que garanta realmente um mercado e participação na matriz energética para o etanol, independentemente do preço do petróleo.

E para exportar mais?

O grande desafio é transformar o etanol em commodity, cotada nas bolsas de NY e Londres. A commodity tem um padrão de qualidade, respeita normas internacionais. O próprio cultivo da cana respeitaria normas ambientais, contratos de trabalho. Hoje, praticamente só produzem Brasil e EUA. Além disso, é preciso batalhar nos fóruns mundiais para que o etanol tenha uma especificação, como ocorre com a gasolina.

Essa regulamentação seria mais importante do que os subsídios aplicados pela Europa?

O álcool brasileiro é o mais barato do mundo. Como é muito competitivo, se os mercados de destino não criarem barreiras, ele iria tomar o espaço dos produtores locais. Essa barreira está associada ao fato de o etanol não ser commodity. Ele fica sujeito a esse tipo de políticas protecionistas por parte de outros países.

É grande a contra-campanha européia que relaciona o etanol brasileiro ao trabalho escravo e degradação ambiental?

Acho que essa preocupação é exacerbada para explicar por que eles criam barreiras alfandegárias. E são questões que não são verdade. O etanol brasileiro é mais barato porque realmente houve um grande avanço tecnológico que reduziu tanto o custo agrícola quanto o industrial. Esse convencimento é um trabalho que já vem sendo feito pela Unica, abrindo escritórios na Europa, nos EUA, é um trabalho de formiguinha. Tem de entender que etanol ainda é uma novidade lá fora.

Os europeus estão comprometidos seriamente com a adoção de fontes alternativas?

Sim. É preciso trabalhar a noção de que o etanol pode ajudar a melhorar a situação do aquecimento climático. Ele traz mais segurança energética para o mundo, na medida em que se dependerá menos dos países produtores de petróleo.

Na sua opinião, a crise da Geórgia e a interrupção do abastecimento de gás provocou alarme na Europa, revelou alto grau de dependência?

O que o mundo tem que entender é que quanto mais diversificadas as fontes de energia, menos sujeito à dependência você vai estar. A Europa não produz quase nada.

Como o preço do petróleo em queda influencia o mercado do etanol?

O etanol pode perder competitividade se esse ciclo se mantiver. Espero que o Brasil e os outros países entendam que é realmente um ciclo, e não permitam que haja um retrocesso grande no avanço das energias alternativas. (HC)

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