A realpolitik de Obama, segundo a qual ele trata fria e pragmaticamente de assuntos internacionais, tem uma exceção: o âmbito nuclear. Nesse campo, ele é todo idealismo.
Em seus discursos, o presidente dos EUA compromete o país com a busca por um "mundo sem armas nucleares", fazendo da luta contra a proliferação uma cruzada par aboli-las totalmente.
Suas prioridades políticas incluem um novo acordo pelo controle de armas com os russos e a ratificação do Tratado para a Proibição Completa dos Testes Nucleares. Duas décadas após o fim da Guerra Fria, Obama trouxe o sonho do desarmamento de volta à agenda norte-americana.
A pergunta é: isso é uma boa notícia para a segurança global? Certamente, dentro dos Estados Unidos há espaço para diminuir o arsenal nuclear. Mas a busca pelo Global Zero (como é chamada a campanha pelo desarmamento nuclear) pode se tornar perigosamente ingênua. Obama argumenta que, reduzindo ou eliminando seu estoque nuclear, os EUA poderão persuadir outros países a abandonar planos de obtenção de armas nucleares. O contrário é mais provável. O arsenal americano não estimula a corrida armamentista; ele a evita.
A ideia de que nações menores só querem armas nucleares porque os EUA têm tantas reflete um tipo peculiar de provincianismo americano. Na verdade, a nuclearização é estimulada por preocupações regionais da rivalidade entre India e Paquistão ao medo de Israel de se ver cercado no Oriente Médio.
O mesmo é válido para o desarmamento: a África do Sul só desistiu de se armar quando abandonou o apartheid, e Brasil e Argentina largaram seus programas nascentes como parte de uma "détente" regional maior.
Isso não quer dizer que os EUA não devam assinar bons acordos de controle armamentício. Mas ligar a agenda antiproliferação ao sonho da abolição nuclear ao redor do globo torna um problema que já é difícil ainda mais duro de resolver.
Quando se trata de deter as ambições nucleares de Teerã, o arsenal americano não é parte do problema. Se o Irã fabricar a bomba, a intimidação nuclear americana será parte da solução.
Tradução: Helena Carnieri
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