A cada ano, uma ideia às vezes uma pergunta ou uma provocação orienta as escolhas do ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento (citado daqui em diante como "o Fronteiras"). Neste ano, a versão paulistana do ciclo, criado em Porto Alegre, pediu aos pensadores escolhidos que falem sobre o mal-estar das civilizações contemporâneas.
"É possível dizer que vivemos numa época em que há um novo mal-estar da civilização?", diz Fernando Schüler, curador do Fronteiras, numa referência ao texto homônimo que Sigmund Freud, o criador da psicanálise, publicou em 1930. "Um mal-estar criado pela perda da crença na social-democracia de países europeus, nas sociedades democráticas [em geral], movido pela reemergência dos regimes fundamentalistas e pelo recrudescimento da ameaça atômica? É possível encontrar elementos civilizatórios em meio a esse processo de crise?"
As perguntas são muitas e Schüler apresenta uma parte delas. Várias questões que preocupam o mundo atual estão na pauta das conferências. À razão de uma por mês, elas começam amanhã com o Prêmio Nobel de Economia Amartya Sen e seguem com um cineasta controverso (Peter Greenaway), um arquiteto humanista (Cameron Sinclair), um psicólogo cético (Michael Shermer), um filósofo ateu (Michel Onfray), um diplomata vencedor do Prêmio Nobel da Paz (Mohamed Elbaradei), um linguista preocupado com o destino da literatura (Tzvetan Todorov) e uma cientista que sonha em descobrir a cura para o mal de Alzheimer (Susan Greenfield).
O elenco foi reunido pelo time do Fronteiras encabeçado por Schüler. Em entrevista por telefone, o curador explica que a escolha dos temas a serem abordados nos painéis é uma via de duas mãos, com sugestões partindo tanto dos convidados quanto da organização. E conta em primeira mão que todos as conferências farão parte de um canal digital a ser criado pelo Fronteiras até agosto que vem.
Além das apresentações, o canal (dentro do domínio www.fronteiras.com) terá também outros filmes produzidos no espírito do evento, como o curta-metragem Peixe Vermelho, estrelado pelo cineasta norte-americano David Lynch. Hoje, o Fronteiras tem um canal no YouTube.
Entre os tópicos deste ano e dentro dessa percepção de um novo mal-estar da civilização , está o impacto das novas tecnologias nas relações afetivas, na maneira de ser das pessoas e até no funcionamento do cérebro.
Alzheimer
Odiada por seus colegas por ser uma cientista que não se importa em aparecer na mídia falando sobre o que carrega na bolsa (isso aconteceu de fato, para uma revista feminina), a inglesa Susan Greenfield sonha em descobrir uma cura para o mal de Alzheimer. Em entrevistas, ela comenta que não é contra as tecnologias digitais, mas defende que há evidências para os efeitos colaterais relacionados a elas. E, diz ela, não é preciso realizar experiências em laboratório para verificar isso.
Na revista New Scientist, Susan citou a televisão em torno da qual a sua família se reunia como um contraponto para o computador que as pessoas utilizam hoje sozinhas no quarto. É um exemplo simples, mas ela, em seguida, emenda algumas pesquisas recentes que confirmam o seu ponto de vista.
O Fronteiras do Pensamento tem também uma característica de espetáculo os conferencistas se apresentam para um público com mais de mil pessoas no belo espaço da Sala São Paulo, casa da Orquestra Sinfônica de São Paulo.