Há um burburinho crescente de comentários bastante desarrazoados sobre uma onda generalizada de populismo, que geralmente é visto como um movimento de ódio que beira o fascismo. De alguma forma, a Grã-Bretanha votou por pouco para deixar a União Europeia; os Estados Unidos elegeram com estreita margem Donald Trump para ser presidente; Polônia, Hungria, Áustria e agora o Brasil, sucumbindo ao mesmo vírus, elevaram regimes conservadores autoritários. Existem vários problemas com essa análise. A maior parte da atividade eleitoral não tem sido particularmente conservadora, e a corrida para rotular os beneficiários desses votos como extremistas facilita a explicação da derrota da esquerda ou do centro-esquerda, que foram as alternativas rejeitadas. Assim, Hillary Clinton alegou ter sido apunhalada pelo diretor do FBI, James Comey, e trapaceada pelo conluio semi-traiçoeiro entre a campanha de Trump e o governo russo. Na verdade, Comey deu a Sra. Clinton um passe livre para suas respostas desonestas sobre os seus abusos com email, e o conluio Trump-Rússia foi apenas um conto de fadas malvado desde o início.
O voto britânico para deixar a União Europeia não mudou de forma alguma os partidos governantes, apenas o primeiro-ministro, e houve várias razões envolvidas nas outras eleições. Até certo ponto, esses desenvolvimentos compartilham uma preocupação nas populações envolvidas de que os arranjos internacionais sobre imigração e comércio eram desiguais e desvantajosos, mas os principais exemplos reivindicados dessa onda populista foram o resultado de circunstâncias nacionais distintas. Viktor Orbán foi eleito e reeleito como primeiro-ministro da Hungria em grande parte por causa de sua resistência à migração ilimitada para a Hungria de pessoas desesperadas que fogem da África e do Oriente Médio. A Hungria tem apenas 9,8 milhões de pessoas que, com poucos recursos, viveram com a sua engenhosidade, navegando durante séculos entre as grandes potências vizinhas, a Áustria dos Habsburgos, o Império e o Reich Alemães, a Rússia e a União Soviética, e a Turquia. A chegada repentina na Hungria de um milhão de desesperados fugindo da violência e da fome do Oriente Médio e da África teria sido completamente insuportável. Houve algum esforço para retratar Orbán como um autoritário de direita quase fascista, mas ele não é nada disso. Ele é um filo-semita e legislou especificamente em favor dos judeus, mas a esquerda internacional raramente permitiu que os fatos atrapalhassem sua narrativa.
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O principal motivo para o voto do Brexit, a saída da Grã-Bretanha da União Europeia, foi a fadiga do fluxo interminável de diretivas e micro-instruções da burocracia europeia em Bruxelas. Os alemães estão acostumados a arregimentação, tendo sido estritamente governados por imperadores autoritários ou por uma ditadura militante durante a maior parte de sua história antes de 1949 no lado Ocidental e em 1991 na Alemanha Oriental. E a Alemanha é, de qualquer modo, a potência dominante na Europa e tinha recursos para atender os caprichos de Bruxelas que estavam indisponíveis para os britânicos. Os franceses e os italianos geralmente ignoram seus governos e consideram o governo, em geral, um fator irritante, composto de corrupção e hipocrisia, do qual pouca coisa positiva se poderia esperar. Mas os britânicos, embora não tão dóceis quanto os alemães, holandeses ou escandinavos, gostam de ser cumpridores da lei e não estão acostumados a um governo tão incontestável como o país teve de Bruxelas, que na verdade não justifica suas ações nem para o Parlamento Europeu sem dentes nem para os principais países membros. A União Europeia é antidemocrática e, portanto, não é compatível com as noções britânicas de governo que evoluíram ao longo dos séculos e são fortemente apoiadas por um eleitorado quase unânime.
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Os britânicos não estavam nem um pouco motivados pelo impulso principal do movimento e da vitória de Trump, um desejo de punir e remover praticamente todo o establishment político. A elite governante britânica não foi responsável pela bagunça no Iraque, a bolha imobiliária e a resultante crise financeira mundial, a admissão irracional de milhões de camponeses analfabetos no país, a retirada petulante do Iraque incitando a ascensão do ISIS e outros desastres políticos produzidos por administrações dos EUA e Congressos de ambos os partidos ao longo de muitos anos. Tudo o que os britânicos realmente querem é um mercado comum com a Europa e a independência de seu sistema parlamentar, do qual eles desfrutam há 800 anos. Os americanos votaram para expulsar todo o grupo bipartidário governante em Washington e seu grupo de Wall Street, Hollywood, Vale do Silício e da mídia.
O Grupo Visegrád (checos, húngaros, poloneses e eslovacos, e agora cooperando com o governo do chanceler austríaco de 32 anos, Sebastian Kurz) tem instituições que datam apenas do início dos anos noventa e, no caso da Áustria, de 1955; eles dificilmente podem reivindicar o mesmo apego às suas instituições que os britânicos, ou a mesma preocupação com fronteiras e demografia que os Estados Unidos. Mas eles também veem as limitações da União Europeia, e alguns deles estão jogando um jogo potencialmente arriscado, permitindo que a Rússia os corteje, para contrabalançar Bruxelas e a suserania franco-alemã da Europa, enquanto aumentam suas participações na OTAN e geralmente apaziguam os Estados Unidos para contrabalançar os russos. Os austríacos e húngaros têm algum conhecimento deste tipo de manobras nas chancelarias da Europa Central, com estadistas como Metternich e Andrassy (líderes austríacos e húngaros do século 19), mas os outros países de Visegrád estão incapacitados, diplomaticamente e dada a correlação de forças com as nações entre as quais eles estão manobrando.
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E sobre o Brasil, a virada política não tem nada a ver com imigração ou influência estrangeira. O presidente eleito Jair Bolsonaro se beneficiou de uma tentativa de assassinato, mas sua vitória é principalmente uma reação a três presidentes consecutivos que se envolveram em escândalos. O ex-presidente de três mandatos Lula da Silva foi preso. Sua sucessora escolhida, Dilma Rousseff, sofreu impeachment e foi destituída do cargo por corrupção, mas não houve estômago para tentar prendê-la, talvez porque seu sucessor, o presidente Michel Temer, também tenha sido acusado de fraude e corrupção e tenha reservas naturais quanto a todo o conceito de enviar ex-presidentes para a prisão. É indicativo do declínio de prestígio desses grandes cargos que países em diferentes regiões estão experimentando a prisão de seus líderes. Peru, Coreia do Sul e Israel se engajaram nessa forma de retribuição, assim como os paquistaneses, pioneiros modernos desse sistema.
Mas nada disso tem a ver com um movimento geral de populismo. Não existe tal movimento. O populismo também não é fascista. Ele desagrada às elites esquerdistas porque, como o próprio nome indica, dá o controle do sistema político para fontes de poder político mais amplas. Todos os países professamente democráticos aplaudem oficialmente qualquer desenvolvimento desse tipo. O que tem sido excepcionalmente sujo e desonesto tem sido a tentativa de representar a defesa do presidente Trump de uma definição mais americêntrica de interesse nacional como “nacionalismo branco”, uma calúnia ultrajante, e de implicar que sua oposição à imigração ilegal é racista. A palavra “nacionalista” nos EUA é agora objeto de uma tentativa de sabotagem pré-eleitoral dos 90% da mídia nacional que é hostil ao presidente. Ela está tentando retratar Donald Trump, que não tem defeitos em sua carreira, de hostilidade a quaisquer minorias, como alguém que define o nacionalismo americano como algo tirado do [filme de 1915] “O Nascimento de Uma Nação”. Washington, Jefferson, Lincoln, os Roosevelts, Truman, Eisenhower e Reagan eram todos nacionalistas, no sentido em que Trump está usando a palavra.
Houve algo disso nas reclamações sobre o presidente e sua família visitando a Sinagoga Tree of Life em Pittsburgh nesta semana. A comunidade judaica dos Estados Unidos esperará muito tempo para encontrar um presidente mais filo-semita do que este, ou um maior amigo de Israel. As manifestações contra ele em Pittsburgh, grosseiramente exageradas pela mídia que odeia Trump, foram uma desgraça e talvez uma justificativa para a sua retomada de referências à mídia das Fake News como “inimigos do povo”. Em todas as circunstâncias, isso é uma afirmação tendenciosa que poderíamos evitar e que poderia ter sido mais bem expressada. Esta última difamação do presidente não colará no país. Donald Trump tem suas deficiências, mas qualquer traço de fanatismo ou de preconceito de grupo não está entre elas, e o país sabe disso.
©2018 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês
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