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| Foto: Bryan Snyder/Reuters

O cenário mais provável para a Europa é de um longo pe­­río­­do de tensão, pontuado por espasmos de violência, que faz do continente um lugar mais desagradável sem trans­­formá-lo funda­­men­­tal­­mente

Eles brindaram ao progresso nas capitais da Europa recentemente, enquanto o Tratado de Lisboa entrava em vigor, trazendo os países da União Europeia (UE) um passo mais perto da unidade que a elite do continente tem buscado nos últimos 50 anos.

Porém, a implementação do tratado caiu apenas alguns dias depois de um marco diferente: um referendo na Suíça, conhecida há muito tempo por sua tolerância religiosa, no qual 57,5% dos eleitores escolheram proibir que muçulmanos do país construíssem minaretes (torres de mesquita).

A Suíça não é membro da UE, mas o momento minarete poderia ter acontecido quase em qualquer parte da Europa de hoje – na França, onde autoridades consideraram a possibilidade de banir a burca; na Grã-Bretanha, que elegeu dois representantes do Partido Nacional Britânico, fascista e anti-islâmico, para o Parlamento Europeu no último verão; na Itália, onde um projeto de lei introduzido neste ano proibiria a construção de mesquitas e restringiria a chamada à oração islâmica.

Se a união mais perfeita prometida pelo Tratado de Lisboa é o maior triunfo da elite europeia, a incapacidade de integrar com sucesso milhões de imigrantes muçulmanos representa seu maior fracasso. E ambas as coisas estão entrelaçadas: ambas são resultados de abordagens direitistas, muitas vezes não democráticas à política que os líderes europeus cultivaram em sua busca pela unidade.

A União Europeia provavelmente não existiria em sua forma atual se as elites do continente não estivessem dispostas a ignorar o sentimento popular (o Tratado de Lisboa, por exemplo, foi designado deliberadamente para contornar a maioria dos eleitores europeus, depois que uma Constituição da UE proposta foi torpedeada por referendos na França e na Holanda, em 2005). Porém, esse estilo político – forjar um consenso entre o establishment, e supor que se pode conter qualquer retrocesso que ocorra – também é a forma como o continente aceitou milhões de imigrantes muçulmanos, apesar da ausência de consenso popular sobre o assunto, ou um plano para integrá-los.

Os imigrantes chegaram inicialmente como trabalhadores convidados, recrutados após a Segunda Guerra Mundial para aliviar a falta de mão de obra, e depois como beneficiários de leis generosas de asilo e reunificação de famílias, designadas para acalmar a consciência pós-colonial da Europa.

Além disso, como escreve Christopher Caldwell em Re­­flections on the Revolution in Eu­­rope (Reflexões sobre a Revo­­lução na Europa, sua crônica ma­­ravi­­lho­­samente provocante so­­bre o di­­lema islâmico no continente eu­­ropeu), uma política liberal de imigração "envolve obrigações morais não-negociáveis nas quais não se pode votar".

Melhor se eles tivessem deixado os eleitores escolherem. O ritmo de imigração poderia ter sido mais lento, e os esforços para integrar as novas pessoas poderiam ter sido mais vigorosos. Em vez disso, os líderes da Europa acabaram criando um conflito de civilizações dentro de suas próprias fronteiras.

Levado ao extremo do fundamentalismo, isso significa terrorismo e ameaças de terrorismo, de Londres a Madri. E um retrocesso emergente, no qual eleitores europeus apoiam medidas extremas e partidos extremistas porque seus políticos parecem não ter nada a dizer sobre o problema.

Na verdade, não está claro exatamente o que esses líderes poderiam oferecer neste mo­­mento. Eles não podem desfazer décadas de negociação. Uma grande minoria muçulmana está na Europa para ficar. Per­­sistir na abordagem do establishment faz um pouco de sentido: reprimir o preconceito e o extremismo, e esperar que o tempo transforme o fervoroso islã de imigrantes recentes em uma fé mais liberal, que faça desaparecer o conflito.

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Ross Douthat, norte-americano, é autor de livros sobre política de cunho conservador.

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