Barack Obama falou a um grupo de grande influência na política norte-americana e que votou nele em peso em 2008| Foto: Joshua Roberts/AFP

Repercussão

Netanyahu diz querer trabalhar por paz

O discurso pró-Israel do presidente norte-americano, Barack Obama, aparentemente surtiu efeito. O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, afirmou ontem que quer trabalhar com Obama para retomar as atualmente congeladas negociações de paz. "Eu sou um parceiro de Obama no desejo de promover a paz e eu aprecio seus esforços no passado e no presente para alcançar esse objetivo. Eu estou determinado a trabalhar com o presidente para encontrar meios de renovar as conversas de paz."

Folhapress

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O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, fez ontem um es­­forço diplomático para acalmar a tensão com Israel. Em discurso diante da The American Israel Pu­­blic Affairs Committee (Aipac), gru­­po de lobby israelense, Obama se dedicou a explicar melhor seu discurso de quinta-feira, dizendo que seu plano para a criação de um Estado palestino em terras ocupadas por Israel inclui uma troca de territórios mutuamente acordada e não seguirá exatamente a fronteira de antes da guerra de 1967.

Na quinta-feira, o presidente Obama causou furor em Israel ao defender que "as fronteiras de Israel e do Estado palestino deveriam basear-se nas linhas de 1967 com trocas [de terras] acertadas de comum acordo". Apesar de Oba­­ma já ter feito a ressalva da troca de terras, a comunidade internacional viu o discurso como a defesa da Palestina em terras antes da ocupação israelense de 1967, que incluem Cisjordânia, faixa de Ga­­za e a disputada Jerusalém Orien­­tal (que os palestinos querem co­­mo capital e Israel diz ser indivisível de sua capital).

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Israel reagiu em poucas horas e disse que não poderia aceitar a proposta, pois ficaria com fronteiras indefensáveis. Na sexta-feira, o premiê de Israel, Binyamin Ne­­tanyahu, foi a Washington e, ao lado de Obama, ressaltou que Is­­rael "não aceitará este mapa". "Te­­remos de aceitar alguns fa­­tos, não podemos aceitar a volta às fronteiras antes de 1967. Elas não são realistas, não levam em conta as mudanças demográficas que ocorreram desde então. Os palestinos precisam aceitar essa realidade", afirmou o premiê israelense.

Diante do mais importante grupo israelense nos EUA, de gran­­de influência na política norte-americana e que votou em peso (80%) em Obama em 2008, o presidente rejeitou a controvérsia. "Deixe-me repetir o que falei e não o que foi reportado", começou a explicar Obama, colocando um tom mais forte para "as trocas acertadas de comum acordo". "As partes, israelenses e palestinos, vão negociar uma fronteira que é diferente da que existia em junho de 1967. É isso que significa troca mútua. Permite que as duas partes reconheçam as mudanças que ocorreram nos últimos anos. Per­­mite às partes desenhar os dois Estados pensando nas novas realidades demográficas e as suas ne­­cessidades", disse Obama. "O que fiz na quinta-feira foi dizer em publico o que já era conhecimento no âmbito privado", garantiu Obama.

Esforço

Sob fortes aplausos, Obama repetiu ainda tudo que os israelenses queriam ouvir. Ressaltou que a segurança de Israel é prioridade para os EUA, condenou o acordo de reconciliação palestino, rejeitou o esforço dos palestinos de buscar reconhecimento na Orga­­nização das Nações Unidas (ONU) e pediu ao grupo palestino Hamas que liberte o soldado Gilad Shalit. "No sábado, encontrei o premiê Ne­­tanyahu e reafirmamos a verdade fundamental que guia nossas relações nos últimos 60 anos. Em­­bora discordemos, como amigos fazem, os laços são inquebráveis e o comprometimento dos EUA com a segurança de Israel é rígido como ferro", disse o democrata.

Obama ressaltou ainda que entende como a busca por segurança pode ser difícil para um estado pequeno como Israel e cercado por uma vizinhança pouco amistosa e disse que, por isso, seu governo elevou a cooperação com o país judeu em níveis sem precedentes. Obama citou ainda que os EUA vão ser uma oposição firme a qualquer tentativa de deslegitimar a existência de Israel, em citação ao esforço diplomático palestino de aprovar seu Estado na ONU (Organização das Nações Unidas), em debate em setembro. "A existência de Israel não deve ser tema de debate e qualquer tentativa de deslegitimá-lo terá oposição firme dos Estados Unidos", dis­­se, sob aplausos.

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O presidente norte-americano condenou ainda o recente acordo de reconciliação entre as facções rivais palestinas Fatah e Hamas. Ele disse, em tom duro, que os EUA vão continuar a pressionar o Hamas a aceitar a existência de Israel e abrir mão da violência.

Obama não poupou Israel de uma alfinetada. Em meio ao apoio amplo, pediu que Israel se dedique às negociações de paz e disse que não há tempo para procrastinação. "Não podemos esperar uma década, duas décadas, três décadas", disse o presidente.

"Não importa quão difíceis se­­jam as negociações. Precisamos reconhecer que o fracasso em tentar não é uma opção. O status quo não é sustentável", garantiu. Oba­­ma alertou ainda os israelenses de que a impaciência com a estagnação do diálogo está crescendo e que a causa palestina ganha força com a falta de esforço israelense. "Será cada vez mais difícil manter um Estado judeu e democrático em Israel. A tecnologia vai tornar difícil Israel se defender sem uma paz genuína", alertou, pedindo por negociações diretas.