Presidente culpa grupos ultraislâmicos pela guerra
O presidente sírio Bashar al-Assad rechaçou quase com ironia as acusações de Israel e dos Estados Unidos sobre o uso de armas químicas na guerra.
"Essas declarações relativas a armas químicas mudam diariamente. Armas químicas são armas de destruição em massa. Dizem que usamos em áreas residenciais. Se eu disser que uma bomba nuclear foi lançada sobre um subúrbio e o balanço de vítimas é de dez ou vinte pessoas, você acredita em mim?", questionou. "O uso de armas químicas em áreas residenciais significa matar milhares ou dezenas de milhares de pessoas em questão de minutos. Quem poderia esconder uma coisa dessas?"
Assad insistiu que a guerra é estabelecida por terroristas ultraislâmicos que procuram derrubar o governo secular com a ajuda do Ocidente. O presidente reconheceu que há medo em seu regime de uma possível intervenção.
"É uma possibilidade válida, especialmente depois de termos conseguido atingir grupos armados em várias partes da Síria e o equilíbrio de forças começou a mudar. Então esses países pediram a Israel para atacar e elevar a moral dos grupos terroristas", comentou em relação à recente série de atentados em território sírio por aviões de guerra israelenses.
O presidente da Síria, Bashar al-Assad, foi enfático ao dizer que não renuncia, em entrevista ao jornal argentino "Clarín" publicada neste sábado (18). Foi a primeira vez que o herdeiro controverso de uma dinastia que governa com mãos de ferro há 42 anos concordou em falar com jornalistas do mundo hispano desde o início da guerra civil em março de 2011.
Com frieza mas com certa cordialidade, o presidente defendeu as duríssima ofensiva militar em todo o país e disse que só deixa o poder se houver eleições. Ele negou a veracidade do número de mortos (mais de 70 mil) reportados em relatórios da ONU, também julgou improcedente as acusações de que seu governo estivesse fazendo uso de armas químicas como o gás sarín e também negou que suas forças armadas, bem equipadas com armamentos fornecidas pela Rússia, estão usando força excessiva na repressão.
Em relação à proposta de Washington e Moscou para a realização de uma conferência internacional, o presidente concordou em discutir o fim da crise no país, mas se mostrou cético sobre os resultados.
O presidente sírio desafiou os Estados Unidos e outras potências ocidentais ao considerar que não há chances de se afastar, apelo feito pelo líder americano Barack Obama e o secretário de Estado John Kerry.
"Renunciar é fugir", disse Assad. "Eu não sei se Kerry ou outro receberam poder do povo sírio para falar em seu nome sobre quem deve ir e quem deve ficar. Isso será determinado pelo povo sírio nas eleições presidenciais de 2014".
Questionado se as eleições serão realizadas em um ambiente de liberdade irrestrita à imprensa e aos observadores internacionais, Assad afirmou que a presença de observadores é uma decisão nacional.
"Uma parte do povo não pode tolera a ideia de observadores externos com base no conceito de soberania nacional. O povo sírio, além disso, não confia no Ocidente", disse ele, acrescentando que, caso venham observadores, que sejam de países amigos como a Rússia e a China.
Ele argumenta que o que acontece em seu país é uma irrupção do que ele considera terroristas internacionais apoiados pelas potências ocidentais e também da região comoTurquia, Qatar e Arábia Saudita.
"Vários elementos internos e externos contribuíram para a crise, o mais importante é a intervenção estrangeira", afirmou. "Nós temos uma iniciativa política que inclui diálogo. Mas, em relação aos terroristas, ninguém quer falar com um terrorista. O terrorismo deu um golpe nos EUA e na Europa, embora nenhum governo tenha conversado com os terroristas. Um dialoga com as forças políticas, mas não um que degola, mata, usa gases tóxicos".
A conferência no fim de maio, em Genebra, na sequência do acordo entre Washington e Moscou, o maior aliado de Damasco, gerou forte expectativa no mundo, mas Assad não parece acreditar nos resultados esperados.
"Recebemos bem uma aproximação russo-americana, e espero que seja realizado um encontro internacional para ajudar a Síria a superar a crise. Mas não pensamos que muitos países ocidentais querem realmente uma solução para a Síria. E não acreditamos que muitas das forças que apoiam os terroristas querem uma solução para a crise", afirmou. "Temos que ser claros, há confusão no mundo entre política e terrorismo. Eles acreditam que uma conferência política pode acabar com o terrorismo. Isso é irreal".
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