Ouça este conteúdo
Um refrão comum da campanha de Biden foi o de que, como presidente dos Estados Unidos, o candidato democrata procuraria "reconstruir alianças" que o governo Trump havia destruído. Os motivos pelos quais essa mensagem era tão atraente para Biden são óbvios: ela o fazia parecer como o adulto responsável na sala, enquanto lembrava aos eleitores o comportamento muitas vezes embaraçoso e às vezes destrutivo de Donald Trump no cenário mundial.
Para "turbinar" Biden, uma política declarada de "reconstrução de alianças" provavelmente é boa o suficiente. O que interessa a essas pessoas é o tom da administração e seu compromisso com instituições internacionais, como a Organização Mundial da Saúde, e acordos como o Acordo do Clima de Paris. Eles ficam especialmente incomodados com as risadinhas de Emmanuel Macron, Boris Johnson e Justin Trudeau ao falar sobre Trump durante reuniões da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). As perguntas importantes - com quem Biden pretende reconstruir alianças e para que fim? - são de menor interesse para eles.
Isso porque, em sua abordagem à política externa, o Partido Democrata está principalmente preocupado em seguir o exemplo da Europa e reorientar o envolvimento dos EUA no Oriente Médio para longe de Israel e Arábia Saudita e em direção ao Irã. Joe Biden certamente fará as duas coisas, e isso será o suficiente para agradar os conselhos editoriais do New York Times e do Washington Post. Pode até ser o suficiente para que ele ganhe um Prêmio Nobel da Paz, o que diz mais sobre o Comitê do Nobel do que sobre ele. Se isso é certo, justo ou do interesse nacional, não vem ao caso.
Quais alianças, exatamente, Biden formará novamente? Aquelas com poderes europeus, como Alemanha, França e Reino Unido. Como essas alianças foram supostamente destruídas? Tudo começou na campanha presidencial americana de 2016, quando Trump fez comentários sobre a Otan que foram, na melhor das hipóteses, imprudentes e, na pior, perigosos. Por muito tempo, Trump tem batido o tambor sobre o fracasso desses países em cumprir suas obrigações de gastos com defesa sob a Otan. Essa inclinação fez com que ele chamasse o tratado de "obsoleto" e até indicasse que ele poderia não sair em defesa de um Estado membro que fosse atacado, o que, de fato, tornaria o tratado obsoleto.
Ao assumir o controle do ramo executivo, no entanto, Trump desistiu desse discurso preocupante, enquanto seu governo buscava aumentar os gastos militares e as contribuições à Otan entre os aliados, pressionando tanto o público quanto o privado sobre inadimplentes como a Alemanha e a França para que cumprissem suas obrigações. Como efeito, não apenas um esquema de contribuição mais equitativo foi criado, como a Otan foi fortalecida.
A retórica de Biden será, sem dúvida, mais elogiosa para com a Otan - e seu novo comprometimento sem sentido com o Acordo de Paris será recebido com aplausos em todo o continente europeu - mas é improvável que ele mantenha a pressão sobre os países membros para que invistam na Otan, o que poderia enfraquecer a organização no longo prazo. Além disso, em comparação a seu antecessor, ele provavelmente confrontará menos os aliados quando eles tomam ações que minam a Otan e colocam em risco membros menos poderosos.
Veja o exemplo do apoio da chanceler alemã Angela Merkel ao gasoduto Nord Stream 2. Abaixo, meu colega Jimmy Quinn comenta a ameaça que o gasoduto representa para os interesses estratégicos dos EUA e a vantagem que ele representaria para os interesses de Vladimir Putin:
Qual é o problema com o Nord Stream 2? Primeiro, ele aumentaria a dependência energética europeia de Moscou. Ele também contornaria a Ucrânia, contribuindo para o cerco estratégico do país pela Rússia. É por isso que a Ucrânia, a Polônia e os Estados Bálticos se opuseram veementemente ao projeto, e é por isso que os Estados Unidos implementaram um regime de sanções agressivas que visa todas as entidades envolvidas na construção do oleoduto, que está cerca de 94% concluído. As sanções dos EUA têm, nos últimos meses, impedido sua conclusão.
Biden acredita que o Nord Stream 2 é um "mau negócio" para a Europa, de acordo com a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, mas ele também está revisando as sanções que o governo Trump colocou em vigor para tentar impedir sua conclusão. É encorajador saber que Biden compartilha do ceticismo de Trump em relação ao projeto, mas preocupante que ele esteja considerando uma reversão das sanções.
Da mesma forma, há a preocupação de que Biden não tenha coragem para confrontar a Europa nas questões que envolvem a China. Boris Johnson e o Reino Unido foram pressionados pelo governo Trump para não permitir que a Huawei participasse da construção de sua rede 5G. No final das contas, esse esforço foi bem-sucedido. Estará o governo Biden tão disposto a arriscar o pescoço e arriscar ofender aliados em nome do que é certo?
Curiosamente ausente das discussões sobre a reconstrução de alianças está o Oriente Médio. Isso pode ser explicado pela visão do governo Biden de que a região é um instrumento para renovar alianças europeias. Sob Trump, os Estados Unidos cooperaram estreitamente com seu principal aliado na região, Israel. Os EUA até forjaram novas alianças anteriormente impensáveis entre o próprio país, o estado judeu e parceiros estratégicos como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, trazendo estabilidade para a região e formando uma frente poderosa contra o regime homicida e abusivo do Irã.
Se a escolha de Antony Blinken como seu diplomata-chefe servir como alguma indicação, Biden provavelmente não adotará a atitude anti-israelense irracional de Barack Obama. Mas seus esforços para entrar novamente no acordo nuclear iraniano para apaziguar a Europa certamente colocarão alguma distância entre Washington e Jerusalém e podem causar grande consternação e incerteza em toda a região.
As palavras de um presidente têm peso. Joe Biden entende isso, e não tenho dúvidas de que suas palavras serão escolhidas com mais cuidado do que as de seu antecessor. Mas nenhum observador sério deve permitir que um slogan como "reconstruir alianças" os convença de que a política externa de Biden será benéfica para os EUA, seus aliados ou o mundo. Ao contrário, as evidências sugerem que a deferência de Biden pela Europa na verdade significa deferência aos interesses russos, chineses e iranianos. Melhor não agradar nem nossos aliados nem nossos inimigos do que agradar a ambos.
©2021 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês
VEJA TAMBÉM:
- Em desafio para governo Biden, aumento de ataques do Talibã coloca em risco acordo de paz
- Uma política fraca de Biden para o policiamento seria um desastre para os EUA
- Porta-voz critica Huawei e diz que Biden investirá em “equipamentos de confiança”
- Governo do Irã se diz pronto para selar acordo nuclear com EUA