Mulheres e crianças atravessam a fronteira da Ucrânia: milhões de refugiados.| Foto: EFE/EPA/ROBERT GHEMENT
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Uma mulher com dois filhos e uma única alternativa: fugir. Quase uma semana para ir de Kharkiv para Lviv de carro, uma distância de 875 Km, porque é necessário fazer paradas para descanso e pelo toque de recolher. Depois de chegar em Lviv, ela e as crianças foram ajudadas por voluntários da Frente Brazuca, brasileiros que auxiliam refugiados nas fronteiras, antes de atravessarem para a Polônia. Ficaram mais alguns dias no país vizinho em um apartamento emprestado por outros voluntários, antes de pegarem o voo para o Brasil. Aqui, eles estão sendo recebidos por pessoas que vão ajudar com traduções, comida e moradia.

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Outras mulheres e crianças desembarcaram no Brasil, em grupo, através de um trabalho da Primeira Igreja Batista de Curitiba. Eles foram abrigados em Guarapuava, no interior do Paraná. Os refugiados, na maioria mulheres e crianças - até mesmo um bebê de colo - não quiseram dar entrevista e os representantes da igreja pediram para que os ucranianos fiquem reservados por enquanto.

Refugiados na Polônia

Essas pessoas decidiram fugir para longe da Ucrânia, mas a maior parte seguiu para a vizinha Polônia. De acordo com a ONU, 2 milhões de refugiados estão no país. Na maioria, mulheres com crianças. Olena Vladyka, embaixadora da língua portuguesa na Ucrânia, ainda está em Lviv e acompanha de perto as pessoas que saem em busca de segurança. “Os alarmes de ataque todos os dias estressam muito as crianças, então as mães preferem ir para as vilas na Polônia, perto da fronteira”, explica.

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Por enquanto, é cedo para dizer o que vai ser dessas famílias e Olena conta que algumas mulheres e crianças estão cansadas de ficar hospedadas nas casas de outras pessoas, em outro país. “Muitos já voltaram ou querem voltar. Eles têm ajuda com comida e roupa, mas está difícil ficar fora de casa”.

Em Cracóvia, cidade ao sul da Polônia, uma arena multiesportiva, a Tauron Arena, está à disposição de crianças ucranianas, para que se distraiam da realidade pela qual passaram no país de origem. Há jogos e brincadeiras, aulas de polônes para os mais velhos e atividades também para as mães, além de refeições. Uma reportagem publicada pela mídia francesa RFI registrou a fala de uma mãe que frequenta a arena com o filho de 8 anos. “Meu filho está melhor agora, mas ele sente falta do pai, que está em Lviv. Ele ficou lá. Meu filho está sobrecarregado de emoções. Meu marido é voluntário, ele ajuda, mas se for preciso ele vai lutar”.

Outra mãe entrevistada pela RFI, Anhelina deixa a filha de 4 anos brincando na arena para trabalhar. “Ela nunca foi à creche na Ucrânia, então é difícil, ela não se adapta muito bem. Aqui sou obrigada a trabalhar como faxineira em um hotel. Na Ucrânia, com minha mãe, tínhamos uma loja, vendíamos peças de reposição para carros”.

A recepção em outros países

O Estatuto do Refugiado foi assinado pelas Nações Unidas em 1951, depois da Segunda Guerra Mundial. De acordo com ele, as pessoas que fogem da guerra se enquadram nos requisitos para solicitar o refúgio em outros países.

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Algumas nações, principalmente da União Europeia, já flexibilizaram as exigências para aceitar os imigrantes, como conta a professora de Direito e Relações Internacionais do Unicuritiba, Priscila Caneparo. “A Irlanda, por exemplo, derrubou a necessidade de visto, justamente para os ucranianos poderem permanecer em território irlandês. Isso com certeza vai reverberar na questão do refúgio”.

A União Europeia permite que os ucranianos entrem na condição especial de permanência no país por até 3 anos de forma legal, mesmo sem oficializar o refúgio. Da mesma forma, fora do continente europeu, o Brasil se destaca, muito antes desta guerra, na recepção de imigrantes, com o ingresso e permanência de sírios e afegãos. Agora as facilidades se estendem também aos ucranianos.

Riscos para os ucranianos

Mas nem só solidariedade os refugiados devem encontrar no caminho. A professora Priscila aponta que existem algumas situações que podem se tornar mais graves com o tempo. Uma delas é a xenofobia: o preconceito contra ucranianos pode surgir quando os problemas socioeconômicos se intensificarem, quando os nativos começarem a perder o emprego para os imigrantes, por exemplo.

Outra questão importante levantada pela professora é que os países precisam se unir para uma proteção ao combate ao tráfico humano. “Já existem estatísticas  que compravam que, nesses quase 30 dias de guerra, houve altos índices de tráfico humano de crianças e mulheres vindas da Ucrânia. Esse número vai aumentar, infelizmente. O tráfico humano encontra na guerra um ambiente propício para incrementar seus números”, diz a professora.

Os refugiados internos

Enquanto parte dos refugiados vão para fora do país, existe ainda uma parcela de ucranianos que não saem da Ucrânia, mas se movimentam para regiões menos perigosas. É o caso da Olena, que nos contou parte dessas histórias relatadas na reportagem. Ela tem 25 anos, morava há 8 em Kiev, na capital, e precisou virar as costas para tudo o que tinha. Fugiu para Lviv e está na casa dos pais.

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“Sou refugiada interna. Eu e meu marido só saímos com documentos e com um pouco de roupa. Deixamos tudo lá. Aqui no oeste do país, os mercados ainda funcionam, podemos comprar produtos básicos, é mais ou menos seguro. Mas existe uma vida antes e outra depois da guerra”. Olena conta que, pelo menos uma vez por dia, os alarmes de ataque tocam. É quando ela mais sente medo.

Mais da metade das crianças da Ucrânia tiveram que deixar suas casas para fugir da insegurança e dos combates desencadeados pela invasão do exército russo em 24 de fevereiro, disse o Unicef ​​nesta quinta-feira (24).

O Fundo das Nações Unidas para a Infância estima que 1,8 milhão de crianças atravessaram a fronteira para buscar refúgio nos países vizinhos e 2,5 milhões de menores seguiram para outras regiões dentro da Ucrânia.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]