O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aguarda na linha de demarcação pelo ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, na zona desmilitarizada na fronteira entre as Coreias, em Panmunjom, 30 de junho| Foto: Brendan Smialowski / AFP

Enquanto o espetáculo midiático da primeira visita do presidente americano Donald Trump à Coreia do Norte vai diminuindo, seus principais diplomatas enfrentam o mesmo desafio espinhoso que já os atormentou anteriormente: uma ditadura hostil que considera seu crescente arsenal nuclear fundamental para sua sobrevivência.

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O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e seu enviado especial, Steve Biegun, receberam o prazo de duas ou três semanas para iniciar novas conversas com seus homólogos norte-coreanos, com o objetivo de avançar nas negociações paralisadas de desnuclearização.

Embora as disputas permaneçam as mesmas, o governo aparentemente espera que a química entre Trump e o líder norte-coreano Kim Jong-un destrave um espírito de cooperação que esteve ausente das relações entre os negociadores norte-coreanos e oficiais dos EUA abaixo do posto de presidente.

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"O presidente, reunindo-se com o líder Kim hoje, avançou e conseguiu nos dar a oportunidade de voltar à mesa de negociações, estou empolgado com isso", disse Pompeo a repórteres antes de pegar o voo de volta a Washington.

Mas, sem uma mudança na posição de negociação dos EUA, não está claro se a conexão que Trump fez com Kim durante uma breve caminhada em solo norte-coreano e uma reunião de 50 minutos no domingo será suficiente para cobrir o abismo entre Washington e Pyongyang.

Pompeo disse a repórteres no domingo que as sanções econômicas permanecerão em vigor, deixando de lado uma exigência importante das autoridades norte-coreanas de que os Estados Unidos forneçam pelo menos um alívio parcial em paralelo aos seus passos para a desnuclearização.

Biegun também reagiu contra a ideia de que os Estados Unidos alteraram suas exigências anteriores, dizendo em um comunicado: "Não estamos preparando nenhuma nova proposta atualmente".

Especialistas dizem que as autoridades dos EUA devem se concentrar em alcançar um entendimento compartilhado com a Coreia do Norte de como seria a desnuclearização e obter uma melhor avaliação do inventário de armas nucleares de Pyongyang.

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"Isso vai começar a parecer real quando eles obtiverem uma verdadeira declaração de todas as armas e instalações do Norte", disse Victor Cha, especialista em Coreia do Norte no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais. "Essa declaração pode vir em partes, mas tem que acontecer".

Críticos das negociações do governo Trump dizem que o presidente está interpretando mal Kim, que não demonstrou desejo de abandonar seu arsenal nuclear e de mísseis.

"Apesar de duas cúpulas entre EUA e Coreia do Norte e repetidos esforços de engajamento, ainda não há nem mesmo uma definição acordada de 'desnuclearização'", disse Bruce Klingner, especialista em Coreia do Norte na Heritage Foundation.

Mas outros ofereceram elogios cautelosos pela abordagem de Trump.

"Não me oponho a isso", disse Mintaro Oba, ex-funcionário do Departamento de Estado, em um comunicado. "Oferecer uma reunião puramente óptica para Kim Jong Un, sem aumentar as expectativas para entregas específicas, ajuda a reforçar uma narrativa dos Estados Unidos agindo de boa fé para promover a diplomacia. E pode expandir o espaço doméstico para o envolvimento de Kim".

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Uma variável que deve mudar a favor do governo Trump é o líder da equipe de negociação da Coreia do Norte. Pompeo disse no domingo que o Ministério das Relações Exteriores da Coreia do Norte estaria liderando as negociações para o país. "Eu não sei exatamente quem do Ministério das Relações Exteriores, mas é provável que seja uma entre duas pessoas", disse ele.

Uma homóloga em potencial para Biegun é a vice-ministra das Relações Exteriores da Coreia do Norte, Choe Son Hui, uma experiente diplomata com anos de experiência trabalhando com oficiais americanos em questões de desnuclearização. Anteriormente, quando o Ministério das Relações Exteriores foi afastado das negociações, Kim confiou as negociações a seu ex-chefe de espionagem, Kim Yong Chol, um falcão de guerra de longa data que se tornou inescrutável e arrogante durante as reuniões com Pompeo e seus assessores, disseram autoridades dos EUA.

Embora um novo negociador possa ajudar no avanço das conversas, os Estados Unidos e a Coreia do Norte até agora se mostraram incapazes de promover as negociações fora dos encontros entre Trump e Kim.

"Esta é a primeira vez que houve negociações reais em nível de trabalho que não faziam parte de uma cúpula", disse Joel Wit, especialista em não-proliferação do Stimson Center.

Sem alívio às sanções

O governo Trump nega veementemente que está afrouxando suas exigências à Coreia do Norte, em particular sua posição de que as sanções econômicas permanecerão em vigor até que o país se desnuclearize completamente, levantando questões sobre como isso levará adiante as discussões.

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Na segunda-feira, o conselheiro de segurança nacional de Trump, John Bolton, criticou uma reportagem do The New York Times que sugeriu que o governo está fazendo um acordo interino que aceitaria o Norte como uma potência nuclear e trocaria um congelamento no desenvolvimento nuclear por alívio parcial de sanções.

"Nem a equipe (do Conselho de Segurança Nacional) nem eu discutimos ou ouvimos falar de qualquer desejo de 'contentar-nos com um congelamento nuclear da Coreia do Norte'", ele tuitou. "Esta foi uma tentativa repreensível de alguém para limitar o presidente. Vai haver consequências".

Bolton foi uma ausência notável no encontro histórico entre Trump e Kim no domingo, ele seguia para a Mongólia naquele dia. Durante a cúpula de Hanói, no Vietnã, em fevereiro, Trump impediu que Bolton participasse de um jantar de alto nível, por preocupações de que ele pudesse prejudicar o clima das negociações. Bolton teve rusgas com Biegun no passado sobre a estratégia de negociação.

Biegun parece ser mais receptivo a oferecer concessões à Coreia do Norte em troca de passos significativos em direção à desnuclearização, uma abordagem que alguns chamam de "ação por ação".

Na sexta-feira, Biegun disse a seu homólogo sul-coreano, Lee Do-hoon, que o governo Trump buscava um progresso "paralelo e simultâneo" com a Coreia do Norte na implementação de um acordo que Trump e Kim alcançaram em Cingapura no ano passado. Em contraste, Bolton pressionou Trump a buscar uma abordagem do tipo "tudo ou nada" que exigiria que a Coreia do Norte abandonasse todo o seu arsenal em um acordo em troca de um total alívio das sanções, uma proposta que Pyongyang rejeitou há muito tempo.

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Na ausência de uma nova estratégia de negociação, não está claro se ocorrerá um avanço, mesmo que modesto. Mas com as próximas conversações marcadas para antes de agosto, os dois lados serão colocados em teste em breve.

"A única novidade nesta iteração da diplomacia é o bromance", disse Cha. "Nós suspendemos sanções antes sem efeito. Mas Trump está tentando ganhar a confiança de Kim".