Seria razoável esperar o pior para Nicolás Maduro.
Duas semanas depois de ele ter assumido o segundo mandato como presidente da Venezuela, o líder da oposição, Juan Gauidó, declarou-se o presidente legítimo do país. A luta pelo poder ocorre depois de um motim militar fracassado contra Maduro, cuja fácil reeleição em maio de 2018 durante uma crise econômica, política e humanitária levou muitos a dizer que a Venezuela é uma ditadura.
Analistas de todo o mundo já estão debatendo se um golpe contra Maduro – com ou sem apoio dos EUA – seria bom ou ruim para a Venezuela.
Como analista de risco político, é meu trabalho prever quando os líderes serão derrubados. Surpreendentemente, o previsor de golpe que eu uso, CoupCast, mostra Maduro ainda no poder – pelo menos por enquanto.
Por que Maduro não será derrubado em breve?
Usando dados históricos sobre as condições por trás de todas as tentativas de golpe e golpes desde 1950, a CoupCast identificou seis fatores que podem sugerir que um líder está em risco iminente de derrubada.
- Mandato do líder atual - Mandato mais longo equivale a maior risco de golpe.
- Por quanto tempo o regime esteve no poder - os regimes jovens correm mais risco de um golpe.
- Tempo desde a última tentativa de golpe - Quanto mais tempo um país fica sem um golpe, menor é o risco de um líder ser derrubado.
- Derrota eleitoral em exercício - Derrotas eleitorais recentes aumentam o risco. O mesmo acontece com longos períodos de vitórias dos ocupantes do Executivo.
- Clima - Secas extremas e chuvas excessivas aumentam o risco de golpes porque podem atrapalhar a dinâmica da agricultura e do mercado.
- Produto interno bruto (PIB) por pessoa - Esta medida de distribuição de riqueza pode fornecer pistas sobre se um líder pode comprar potenciais rivais dentro do exército.
Além da crise econômica da Venezuela, o regime de Maduro não se destaca em nenhum dos fatores do CoupCast.
Maduro está no cargo desde 2013 – tempo que não é suficiente para representar alto risco. A probabilidade de um golpe começa a subir após 15 anos, em média.
O atual regime do Partido Socialista, que começou com Hugo Chávez em 1999, também amadureceu o suficiente para evitar o período inicial de vulnerabilidade que os jovens regimes enfrentam.
A última tentativa de golpe na Venezuela foi uma conspiração fracassada contra Chávez em 2002, um intervalo de 17 anos. O lapso médio entre os golpes é de cinco anos.
Oficialmente, o regime socialista da Venezuela não perdeu uma eleição presidencial desde que Chávez ganhou pela primeira vez, em 1998, o que também é um bom sinal para Maduro.
Finalmente, em 2019, não se espera que a Venezuela tenha secas, inundações ou outro fenômeno climático além do normal.
Juntos, esses fatores não sugerem um golpe iminente contra Maduro.
Risco de golpe crescente
No entanto, o risco de golpe da Venezuela aumenta à medida que Maduro permanece no poder, como mostra os dados históricos do CoupCast.
A maior vulnerabilidade de Maduro é a perspectiva de um maior declínio econômico. O governo da Venezuela, com a economia largamente baseada em petróleo, vai à falência devido ao declínio da produção de petróleo, das sanções dos EUA e da UE e dos bens apreendidos. Eventualmente, a estratégia de Maduro de pagar os militares por sua lealdade será insustentável.
A posição de Maduro torna-se especialmente precária ao longo do tempo, se ele continuar convocando eleições. Autoritários que realizam eleições correm maior risco de serem depostos – especialmente se perderem e permanecerem no cargo de qualquer maneira. O risco de golpe na Venezuela também aumenta quanto mais tempo Maduro continua a "vencer" as eleições.
No entanto, mesmo os modelos de previsão mais poderosos não podem explicar tudo.
A profunda crise econômica da Venezuela, por exemplo, é um pouco enganosa. Os cidadãos estão sofrendo muito, mas o governo de Maduro ainda tem fundos suficientes para oferecer aos líderes militares nomeações governamentais e propinas econômicas. Isso torna menos provável uma armação contra ele.
A Rússia, a China e a Turquia também expressaram apoio ao regime – potencialmente até mesmo apoio militar – provavelmente reduzindo ainda mais o risco de golpe.
A postura de Guaidó realmente prejudica Maduro
A recente luta pelo poder mais semelhante ao que está acontecendo na Venezuela ocorreu no Zimbábue em 2008.
O líder da oposição, Morgan Tsvangirai, afirmou ser o vencedor legítimo de uma eleição fraudada contra o presidente de longa data, Robert Mugabe. Mugabe retaliou com uma campanha de violência e intimidação para garantir sua vitória em um segundo turno.
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Tsvangirai tentou, mas não derrubou Mugabe. Por outro lado, ele provavelmente prejudicou sua legitimidade internamente. Mugabe foi derrubado em um golpe militar em novembro de 2017.
Na minha avaliação, o desafio de Guaidó não resultará na saída imediata de Maduro – mas enfraquecerá ainda mais sua base de apoio, tanto entre o povo venezuelano quanto dentro do governo.
Quanto mais Maduro permanecer no poder, maior a probabilidade de ele ser removido pela força.
*Clayton Besaw é um pesquisador associado a One Earth Future Foundation, organização sem fins lucrativos que promove a paz e a segurança em países pós-conflito.