Luzes em Nova Iorque no último sábado lembraram os 20 anos dos atentados| Foto: EFE/EPA/WILL OLIVER
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No dia em que se completaram 20 anos dos atentados de 11 de setembro, os Estados Unidos iniciaram a divulgação de documentos outrora confidenciais relacionados aos ataques com a liberação de um relatório de 16 páginas que aborda relações de sauditas com terroristas.

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A ligação do Reino da Arábia Saudita com os atentados que deixaram quase 3 mil mortos em 2001 sempre foi especulada, pelo fato de que 15 dos 19 terroristas eram daquele país e pelo próprio Osama bin Laden ser de uma importante família local. O primeiro relatório divulgado aponta que sauditas relacionados ao Consulado de Los Angeles tiveram ligações com terroristas da Al-Qaeda, o que deu esperança a famílias que processaram a coroa saudita, mas não deixa clara uma participação direta do reino no 11 de setembro.

O documento descreve que em 2009 e 2015 uma fonte ouvida pelo FBI, cujo nome foi apagado no relatório, apontou conexões de um saudita que morava nos Estados Unidos até pouco antes dos ataques com dois terroristas que morreram no atentado ao Pentágono.

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Segundo o relato, um homem chamado Omar al-Bayoumi, apesar de possuir oficialmente apenas status de estudante em solo americano, era tratado “com grande respeito” dentro do Consulado saudita em Los Angeles, onde possuía um “status muito alto”. Bayoumi teria ajudado dois dos sequestradores do avião que colidiu com o Pentágono, Nawaf al-Hazmi e Khalid al-Mihdhar, a encontrar e alugar um apartamento em San Diego.

Ele se encontrou com os dois terroristas em um restaurante em fevereiro de 2000, o que descreveu como um “encontro casual”. Ainda segundo o relato, Bayoumi teria ajudado Hazmi e Mihdhar com “tradução, viagens, alojamento e financiamento”. A esposa da fonte do FBI acrescentou que Bayoumi frequentemente falava em “jihad”.

O documento divulgado no sábado (11) cita que outro cidadão saudita, Fahad al-Thumairy, um imã (líder muçulmano) da Mesquita Rei Fahad, em Los Angeles, também teve contato com terroristas. Ele era funcionário do Consulado e também deixou os Estados Unidos poucas semanas antes dos atentados.

Apesar do documento não comprovar uma ligação direta de Riad com os ataques de 2001, familiares de vítimas e sobreviventes do 11 de setembro, que processaram em 2017 o Reino da Arábia Saudita para exigir responsabilização da família real pelos maiores atentados terroristas da história do Estados Unidos, comemoraram a divulgação do relatório, por entenderem que ele reforça a acusação de cumplicidade da cúpula saudita com os terroristas.

“Agora os segredos dos sauditas estão expostos, e já passou da hora do Reino da Arábia Saudita assumir o papel de seus funcionários no assassinato de milhares de pessoas em solo americano”, afirmou Terry Strada, viúva de uma das vítimas do 11 de setembro, em comunicado divulgado em nome da organização 9/11 Families United.

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Arábia Saudita diz ter “sempre solicitado transparência”

Três dias antes do FBI divulgar o relatório, a embaixada saudita nos Estados Unidos havia publicado um comunicado para elogiar a decisão do governo americano de iniciar a divulgação dos documentos. A declaração apontou que o Reino da Arábia Saudita “sempre solicitou transparência a respeito da tragédia do 11 de setembro”, que investigações não apresentaram evidências de ligação da coroa saudita com os ataques e que o país é um “parceiro essencial dos Estados Unidos no contraterrorismo”.

“Como investigações anteriores revelaram, incluindo a da comissão do 11 de setembro e a divulgação das chamadas 28 páginas, nenhuma evidência surgiu para indicar que o governo saudita ou seus funcionários tiveram qualquer conhecimento prévio do ataque terrorista ou qualquer envolvimento no seu planejamento e execução. Qualquer alegação de que a Arábia Saudita foi cúmplice nos ataques de 11 de setembro é categoricamente falsa”, argumentou a embaixada.

Após pressão das famílias das vítimas dos atentados, o presidente americano, Joe Biden, ordenou este mês que o Departamento de Justiça e outras agências governamentais revejam o status de confidencial de documentos relativos ao 11 de setembro e divulguem o que for possível dentro de seis meses.