Civis afegãos e militares americanos morreram em duas explosões que ocorreram nos arredores do aeroporto de Cabul no fim da tarde desta quinta-feira (26, fim da manhã no Brasil), horas depois que várias nações alertaram para a ameaça de um ataque iminente no local. O número de mortos e feridos ainda é desconhecido, mas a imprensa afirma que mais de 70 pessoas faleceram.
Segundo a agência de notícias Reuters, o Estado Islâmico (conhecido pelas siglas EI, ISIS ou ISIL ou ainda pelo nome Daesh) assumiu a autoria do atentado, perpetrado pelo braço do grupo terrorista no Afeganistão, o Estado Islâmico de Khorasan (EI-K).
O general Kenneth F. Mckenzie, comandante militar dos EUA, disse em coletiva de imprensa no Pentágono que dois terroristas suicidas – que, acredita-se, eram membros do EI-K – atacaram o aeroporto.
"O ataque ao portão da Abadia foi seguido por vários homens armados do EI que abriram fogo contra civis e forças militares", disse.
O presidente americano Joe Biden havia alertado, no fim de semana, sobre a possibilidade de um ataque terrorista durante a operação de retirada de milhares de estrangeiros e afegãos que está sendo conduzida pelos Estados Unidos e aliados a partir do aeroporto de Cabul.
Na manhã desta quinta-feira, autoridades alertaram para a ameaça de um ataque iminente no aeroporto, pedindo que as pessoas ficassem longe do local. Apesar do alerta, centenas de pessoas, desesperadas para deixar o país comandado do Talibã, permaneceram nos arredores do aeroporto, na tentativa de conseguir ingressar em um voo.
O que é o EI-K?
O Estado Islâmico de Khorasan é um braço do Estado Islâmico (ou Daesh) que atua desde 2015 na Ásia Central, em partes do Afeganistão, Irã, Paquistão e Ásia Central – Khorasan é o nome histórico dessa região. A interpretação das leis islâmicas por parte do EI é ainda mais restrita do que a do Talibã.
O primeiro líder do grupo, Hafiz Saeed Khan, ex-comandante do Talibã paquistanês, jurou lealdade ao Estado Islâmico em outubro de 2014. Em janeiro do ano seguinte, o porta-voz do EI na época, Abu Mohammad al-Adnani, aceitou a promessa de fidelidade e anunciou a criação do EI-K. No Afeganistão, o grupo tinha presença nas províncias de Nangarhar, Kunar e Nuristão.
Quem são esses terroristas?
Vários terroristas do EI-K são ex-talibãs desapontados com o acordo entre o grupo fundamentalista e os EUA. Há também ex-militantes de outros grupos como Lashkar-e-Taiba, a rede Haqqani, e o Movimento Islâmico do Uzbequistão, além de terroristas estrangeiros simpatizantes do Estado Islâmico. De acordo com a Segurança Nacional Australiana, o EI-K também recruta jovens insatisfeitos que vivem em cidades e não são da etnia pashtun.
As Nações Unidas estimam que este braço do grupo terrorista tenha entre 500 e 1.500 membros, mas há estimativas de que esse número possa subir para 10 mil no médio prazo. Atualmente eles são liderados pelo árabe Shahab al-Muhajir, também conhecido como Sanaullah, que já trabalhou com a al-Qaeda.
Quais são as fontes de financiamento?
As autoridades australianas apontam ainda que o EI-K recebe financiamento de simpatizantes estrangeiros por meio de redes hawala (um sistema de remessa alternativo também conhecido como “bancos alternativos”), por meio de suas próprias empresas criminosas e por subsídios diretos do Estado Islâmico, que também tem voz nas nomeações aos cargos mais importantes do EI-K.
Como o EI-K age no Afeganistão?
Apesar de recentes derrotas, perdas de território e morte de líderes, um relatório recente das Nações Unidas aponta que o grupo fortaleceu suas posições em Cabul e nos arredores, onde conduz a maioria de seus ataques, visando minorias, ativistas, funcionários do governo e pessoal das Forças de Defesa e Segurança Nacional afegãs. Eles geralmente atuam de forma clandestina e possuem células dormentes em algumas províncias do Afeganistão.
Nos últimos anos, o EI-K assumiu a autoria de ataques que deixaram dezenas de mortos, como um atentado a xiitas em um casamento em Cabul que deixou 91 mortos. Também acredita-se que o grupo tenha invadido uma maternidade em um bairro de maioria xiita, disparando contra quem estava lá. Neste atentado 25 pessoas morreram, entre elas várias mães e recém-nascidos. Geralmente os ataques são suicidas.
Qual a relação com o Talibã?
O Estado Islâmico de Khorasan, assim como o Talibã, é um grupo extremista sunita que segue a ideologia do Wahabismo saudita, a interpretação mais radical que existe no sunismo. Contudo, Talibã e EI-K se veem como rivais. Desde o acordo de fevereiro de 2020 entre os Estados Unidos e o Talibã, o EI-K se vende como o único grupo comprometido com a jihad.
Eles discordam em vários aspectos. O EI-K, por exemplo, é contra o cultivo de papoula de ópio, ao contrário do Talibã, que lucra com o tráfico de drogas no Afeganistão. Os líderes do Talibã, que agora controlam a maioria do país, se comprometeram a evitar que o EI ganhe espaço em solo afegão. O Estado Islâmico, por sua vez, se refere aos talibãs como apóstatas.
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