Com 36 anos de existência, o Hamas, grupo considerado terrorista por países como Estados Unidos e pela União Europeia, surgiu após a chamada de “Primeira Intifada” de 8 de dezembro de 1987. Intifada, em árabe, significa significa um despertar abrupto de um estado de inconsciência.
O início da revolta se deu com moradores atirando paus e pedras nas tropas israelenses no campo de refugiados de Jabaliyah, no extremo norte da Faixa de Gaza, por isso o conflito também é conhecido como “Guerra das Pedras”.
Só em 1993 o embate terminou com a assinatura de um cessar-fogo em Madri (Espanha) e Oslo (Noruega). Neste momento foi criada a Autoridade Nacional Palestina (ANP), que não conseguiu levar adiante os acordos firmados entre os dois Estados.
Baseado no Corão, livro sagrado dos muçulmanos, o Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) se define como um grupo para a instauração de um Estado palestino em toda a área de Israel. Foi criado pelo Sheikh Ahmed Yassin, Abdel Aziz al-Rantissi e Mohammad Taha, vindos da Irmandade Muçulmana. Criada em 1928, a movimento fundamentalista rejeita qualquer traço da cultura ocidental.
Na Carta de Princípios, de 1988, o Hamas afirma que a Palestina “é uma terra islâmica” e não reconhece a existência do Estado de Israel. O grupo se consolidou e ganhou força centrando suas primeiras ações em atos humanitários, como a construção de escolas, hospitais e outras ações de assistência social não só na Faixa de Gaza, como na Cisjordânia.
Em 1989, o líder Yassin foi preso pelo governo israelense, o que fortaleceu o sentimento de resistência. Solto em uma troca de prisioneiros, Yassin, foi morto pela Força Aérea Israelense em 2004.
Como partido político, o Hamas liderou dois governos sucessivos da Autoridade Palestina. Em 25 de janeiro de 2006, o partido venceu as eleições para o parlamento Palestino, derrotando o Fatah, grupo rival incentivado por Israel, à época, para combater o Hamas. O Fatah também defende a ‘libertação’ da Palestina.
Hamas e Fatah disputam poder político na região
Em 2007, os dois grupos entraram em conflito na Batalha de Gaza. O Fatah resistia em ceder o comando das forças de segurança palestinas ao Hamas. Ao final, os representantes eleitos do Hamas foram expulsos das posições no governo da Autoridade Nacional Palestina na Cisjordânia e substituídos por membros do rival Fatah.
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, do Fatah, criou um gabinete de emergência, que substituiu a coalizão Hamas-Fatah. O comitê foi depois que o Hamas conseguiu à força, controle de Gaza.
Com isso, os palestinos passaram a ter dois governos, o do Hamas na Faixa de Gaza e o gabinete montado por Abbas na Cisjordânia, liderado pelo economista Salam Fayyad.
Em 18 de junho de 2007, Abbas decretou a ilegalidade da milícia do Hamas, medida não aceita pelo grupo. Só em 2011, o Hamas e Fatah firmaram acordo de reconciliação depois de quatro anos de cisão.
Alteração de Carta de Princípios não alterou antissemitismo
Brasil, África do Sul, Rússia e Noruega não consideram o Hamas como organização terrorista. Antissemita e contra qualquer tipo de paz com Israel, o grupo tentou alterou a própria carta de princípios em 2017, em que passava a considerar apenas os “sionistas” (como eles chamavam o governo de Israel) como os inimigos, não mais os judeus de forma geral. A mudança foi considerada por Israel como apenas uma forma de "enganar o mundo". O Hamas é uma das organizações que nega o Holocausto.
Neste mesmo ano, o grupo aceitou a criação do Estado palestino provisório em Gaza, nas Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. A Faixa de Gaza, território que começou a ser ocupada em 1948, durante a Guerra de independência de Israel, tem atualmente perto de 2 milhões de habitantes, a maioria de refugiados. Desde 2007, como forma de bloqueio contra ações do Hamas, o local e cercado por um muro e a população é impedida de sair por tropas israelenses e do Egito.
São seis conflitos apenas nos 15 últimos anos
Os conflitos na região são frequentes. Desde 2008, Israel e os movimentos palestinos Hamas e Jihad Islâmica tinham se enfrentado em Gaza cinco vezes. O ataque do último sábado é o sexto.
Em 27 de dezembro de 2008, na operação chamada de "Chumbo Fundido", Israel lançou uma ofensiva aérea contra Gaza depois de disparos de foguetes feitos pelo Hamas a partir do território palestino.
Quatro anos mais tarde, em 14 de novembro de 2012, com o assassinato do chefe das operações militares do Hamas, Ahmad Jaabari, a operação "Pilar defensivo" contra os grupos armados em Gaza durou oito dias, provocou a morte de mais de 170 palestinos, uma centena deles civis, e seis israelenses, dos quais quatro eram civis.
Em 8 de julho de 2014, Israel lançou a operação "Margem Protetora" para frear os disparos de foguetes de Gaza e destruir os túneis escavados a partir do território palestino. Após 50 dias de guerra, com uma de negociação intermediada pelo Egito, Hamas e Israel, chegaram a um acordo de cessar-fogo. A guerra deixou ao menos 2.251 palestinos mortos, a maioria civis.
Do lado israelense, a maioria dos 74 mortos foram militares. Segundo o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) mais de 55 mil casas foram atingidas pelos bombardeios israelenses e aproximadamente 17,2 mil foram destruídas,
Em 2021, o Hamas lançou, em 10 de maio, uma saraivada de foguetes em "solidariedade" às centenas de palestinos feridos em confrontos com a polícia israelense na Esplanada das Mesquitas de Jerusalém, um lugar sagrado para ambos os povos e reivindicado pelos dois Estados. Israel respondeu com a operação "Guardião dos Muros". Foram 11 dias de intensas negociações diplomáticas até um cessar-fogo, em 21 de maio.
O conflito teve mais de 4,3 mil foguetes lançados, numa ofensiva sem precedentes até então contra o território israelense. Porém, 90% dos projéteis foram interceptados. Ao menos 232 palestinos morreram, 65 deles menores de idade. Doze mortes, entre elas de duas crianças foram registradas em em Israel.
Na operação 'Escudo e flecha, depois de dias de confrontos com a Jihad Islâmica, Israel bombardeou Gaza, em 9 de maio. A Jihad Islâmica respondeu disparando centenas de foguetes, que não deixaram nenhum ferido em Israel. Nos dias 11 e 12, o exército israelense matou dois chefes militares do movimento palestino. O Egito novamente negociou uma trégua após cinco dias de guerra que teve saldo de 35 mortos.