Manifestações lideradas pelo Hamas em 2018 contra a instalação da embaixada americana em Jerusalém causaram mais de 50 mortes. Foto: AFP| Foto:

Em 1º de abril, o Hamas, grupo terrorista islâmico que controla a Faixa de Gaza, condenou a visita do presidente Jair Bolsonaro a Israel. Em nota, o grupo afirmou que a visita não apenas contradiz a histórica atitude do povo brasileiro de apoio à causa palestina, mas também viola leis internacionais.

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O principal motivo da desaprovação do Hamas foi a visita que Bolsonaro fez à cidade de Jerusalém acompanhado do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Jerusalém Oriental está sob domínio de Israel desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967. A Autoridade Palestina tenta estabelecer um Estado nos territórios ocupados de Gaza e Cisjordânia, com capital em Jerusalém Oriental.

O anúncio da abertura de um escritório brasileiro de negócios brasileiro em Jerusalém também foi condenado pelo Hamas, que pediu para o Brasil reverter essa medida imediatamente.

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O Hamas é um movimento nacionalista militante na Faixa de Gaza e na Cisjordânia dedicado ao estabelecimento de um estado islâmico independente na Palestina histórica. O seu nome é um acrônimo em árabe para “Movimento de Resistência Islâmica”.

Fundado em 1987, o grupo se opunha à Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que tinha uma abordagem secular ao conflito entre Israel e Palestina, e também rejeita tentativas de ceder qualquer parte da Palestina.

O movimento teve origem após o início da primeira intifada, ou o levante palestino contra a ocupação de Israel em Gaza e na Cisjordânia, formado por membros da Irmandade Muçulmana e de facções religiosas da OLP. Logo o grupo conquistou muitos seguidores.

O objetivo inicial era servir com a sua ala militar na batalha armada contra Israel e também promover programas sociais. Desde 2005, o Hamas também passou a atuar no processo político da Palestina.

A organização fundamentalista tem governado a Faixa de Gaza desde 2007, após ter vencido as eleições – as quais têm sido adiadas indefinidamente desde então. A partir daquele ano, os EUA e Israel lideram um boicote econômico e político ao Hamas.

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O Hamas (como um todo ou apenas sua ala militar) é considerado um grupo terrorista por Estados Unidos, Israel, Reino Unido, e outras potências mundiais. Em sua carta de fundação, o grupo declara que está comprometido com a destruição de Israel.

Para os seus apoiadores, no entanto, o Hamas é um movimento legítimo de resistência.

Métodos violentos

Desde a sua fundação, o Hamas tem usado a violência para alcançar os seus objetivos, por meio do lançamento de foguetes e de ataques suicidas.

O modo como o Hamas se organiza, em pequenos grupos chamados de "famílias", o difere de outras facções palestinas e permite que ele prospere em condições de extrema adversidade. Nestas "famílias", estrutura inspirada pela Irmandade Muçulmana do Egito, os membros são educados e formados.

O Hamas aproveita a situação caótica da região para cooptar integrantes e uma de suas estratégias é a atuação social, por meio de hospitais, clínicas, orfanatos, escolas e cozinhas comunitárias. Em troca, captam potenciais militantes, principalmente entre os jovens, que compõe mais da metade da população da região.

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Estas atividades alimentam canais de mobilidade ascendente dentro do movimento. Para subir através da hierarquia do Hamas, os candidatos passam por exames e avaliações para provar suas qualificações mobilizadoras e lealdade ao movimento sobre os estágios.

Isto significa que a morte ou a prisão de um membro do alto escalão não necessariamente cria um vácuo de liderança que venha a desestruturar a organização. A remoção de um líder simplesmente ativa um processo no nível horizontal que eleva rapidamente um membro comprovado à posição subitamente vaga.

O Hamas depende do ativismo local para formar líderes em potencial e manter a integridade de sua estrutura. Por outro lado, essa resiliência é precisamente o que permite ao grupo terrorista continuar desempenhando um papel relevante na sustentação da mobilização popular.

Um ano de conflitos

O sábado (30) marcou um ano de manifestações semanais em Gaza na fronteira com Israel. Milhares de palestinos se reuniram para protestar ao longo da cerca que delimita a fronteira. Forças de segurança israelenses usaram gás lacrimogêneo e dispararam tiros para dispersar a manifestação, ao menos quatro pessoas foram mortas e centenas ficaram feridas.

A série de manifestações realizadas em 2018 na região é chamada “grande marcha pelo retorno”, contra o bloqueio de Israel e Egito na região e pelo direito dos palestinos de retornar às terras que ocupavam antes da criação do Estado de Israel. Desde o início dos atos, mais de 250 palestinos foram mortos. Outros 6.850 sofreram ferimentos à bala.

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O bloqueio de Israel e Egito na Faixa de Gaza começou depois que o Hamas tomou o controle do território.

Para o Hamas, os protestos são uma ferramenta para pressionar Israel a amenizar as restrições sobre o enclave. Mas eles tiveram pouco sucesso. O Hamas garantiu um acordo temporário para que Israel permita a entrada de fundos do Qatar no território para pagar salários e combustível. No ano passado, em um esforço para pressionar o seu rival Hamas, a Autoridade Palestina cortou o pagamento de milhares de trabalhadores assalariados em Gaza, aprofundando a miséria dos moradores.

A pobreza na região é generalizada, e o desemprego entre os jovens está em 65% – o que tem causado o aumento da desilusão da população com o Hamas.

Para evitar as frustrações crescentes, o Hamas aumentou a pressão sobre Israel nas últimas semanas. Palestinos lançaram mais de uma dúzia de balões incendiários através da fronteira com Israel, uma atividade que o Hamas havia concordado em parar.

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No dia 25, um foguete que o Exército de Israel disser ter sido lançado pelo Hamas, atingiu uma casa perto de Tel Aviv. Israel respondeu com ataques aéreos em Gaza, que lançou mais foguetes a partir do enclave em direção a Israel. Essa escalada do conflito fez com que os dois lados se aproximassem perigosamente da guerra.

Ao mesmo tempo em que os protestos contribuíram para o acordo temporário que fez com que o Qatar fornecesse milhões de dólares para salários e energia e outras conquistas modestas, autoridades do Hamas dizem que as manifestações ajudaram a colocar a questão palestina novamente no centro das atenções.

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