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Diplomacia

O que esperar da retomada da linha direta entre as Coreias do Norte e do Sul?

Militar sul-coreano faz uma ligação-teste em linha direta com a Coreia do Norte, na última segunda-feira (4) (Foto: EFE/EPA/MINISTRY OF DEFENSE)

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As Coreias do Sul e do Norte reativaram suas linhas de comunicação direta na última segunda-feira (4), no mais recente capítulo de uma novela de 50 anos que já teve uma série de interrupções e retomadas com esperança de dias melhores.

Segundo informações da agência Yonhap News, as comunicações estão sendo feitas por meio de uma linha direta militar e um canal separado para um escritório de relações intercoreanas, neste caso sempre com ligações duas vezes por dia, às 9 e 17 horas (horário local).

Assim como as relações entre Norte e Sul, notícias sobre o funcionamento da linha direta entre Seul e Pyongyang são sempre recebidas pela comunidade internacional com um misto de otimismo e descrença, esta com mais força no momento, já que os norte-coreanos realizaram quatro testes de mísseis em setembro e declararam não ter intenção de retomar as conversas com os Estados Unidos sobre desnuclearização da ditadura comunista.

A primeira linha direta entre as Coreias foi estabelecida em 1971, para contatos das Cruzes Vermelhas dos dois países. Mais linhas foram sendo adicionadas ao longo das décadas, apesar das hostilidades e trocas de acusações entre Seul e Pyongyang, ao ponto de em 2018 uma reportagem da BBC apontar que havia 33 linhas de comunicação direta: cinco para comunicações diárias, 21 para conversações intercoreanas, duas para questões de tráfego aéreo, duas para questões marítimas e três para questões de cooperação econômica conjunta.

No ano passado, entretanto, a Coreia do Norte explodiu o escritório de relações intercoreanas na cidade fronteiriça de Kaesong e cancelou todas as comunicações com o Sul, depois que ativistas, usando balões, lançaram panfletos em território norte-coreano com mensagens contra a ditadura comunista.

As comunicações voltaram a funcionar brevemente no final de julho deste ano, mas foram suspensas pela Coreia do Norte novamente, em protesto contra um exercício militar anual conjunto da Coreia do Sul e dos Estados Unidos.

Na semana passada, com a volta das linhas diretas, o Ministério da Unificação sul-coreano divulgou um comunicado em que manifestou esperança com o retorno das comunicações. “Por meio dessa gestão estável das linhas de comunicação e da rápida retomada do diálogo, o governo espera iniciar e avançar nas discussões substantivas sobre como melhorar as relações intercoreanas e fazer com que a paz se enraíze na Península Coreana, junto com a implementação de acordos entre as duas Coreias”, apontou o informe.

Analistas estão menos otimistas. Em um artigo no Asia Times intitulado “A Coreia do Norte atende o telefone, o mundo boceja”, o jornalista Andrew Salmon lembrou que Pyongyang é uma prioridade distante do novo presidente americano, Joe Biden, e que na Coreia do Sul “não há pressa alguma” na busca por uma reunificação – a geração que tem parentes próximos acima da Zona Desmilitarizada da Coreia está envelhecendo e morrendo, enquanto seus netos têm pouco ou nenhum interesse no vizinho do Norte. Com a instabilidade no discurso da ditadura de Kim Jong-un de manter diálogo, é difícil prever algo produtivo saindo das comunicações recém-restabelecidas, acrescentou Salmon.

A única perspectiva, por ora, é que a linha direta apenas ajude as relações entre as Coreias a não se deteriorarem ainda mais. “O que está em jogo é o motivo pelo qual os pró-engajamento (com Pyongyang) de Seul ficam animados quando seus colegas norte-coreanos fazem algo tão minimalista como atender um telefone. Boas notícias e desenvolvimentos positivos são tão escassos que qualquer coisa que não seja uma má notícia é motivo de entusiasmo”, concluiu Salmon.

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