As eleições argentinas deste domingo 29/10/2007 não serão nada imprevisíveis. O triunfo de Cristina Kirchner no primeiro turno é quase um fato. O que parece ser imprevisível é o futuro econômico desse país, de ser mantida a política econômica atual (tudo indica que assim será).
Apesar do incremento no crescimento econômico desses últimos anos (o PIB argentino aumentou de 2,1% em 2001 para 5,4% em 2006), o rebrote inflacionário provocado pelo aumento da renda do trabalhador e das políticas expansionistas desse governo é problemático. Embora a estimativa oficial para a inflação desse ano seja de 7,7%, existem órgãos independentes que calculam uma inflação de 17,7%. Nesse sentido, a oposição acusa o governo Kirchner de maquiar os números.
De confirmar-se o continuísmo do clã Kirchner, observaremos uma tendência similar da economia argentina com a venezuelana do bolivariano Hugo Chávez, cuja inflação para esse ano está calculada em 18%. Nesse contexto, é inevitável comparar as políticas macroeconômicas de ambos países. O aumento dos gastos públicos, principalmente, em atividades de cunho social de curto prazo, tem garantido o apoio popular a esses dois governos.
Na Argentina de hoje não houve discussão nem debate, é como se o povo do vizinho país já esperasse passivamente o continuísmo. Nas ruas de Buenos Aires não há clima de eleições e, apesar das denuncias de desvio de dinheiro e de malas pretas, o governo Kirchner faz jus ao apelido de "governo teflon". A grande preocupação é de que essa sistemática contagie os governos dos demais países da América Latina, com especial ênfase dos chamados nacionalistas (Bolívia e Equador), os quais se vejam tentados a abandonar qualquer tipo de responsabilidade fiscal ou de gastos e direcionem suas políticas por um proselitismo ideológico que trará como resultado uma crise econômica maior para a região.
Apesar do Brasil se diferenciar desses países, pela sua postura responsável na tentativa de controle inflacionário e de gastos fiscais, com redução progressiva da sua taxa de juros; o cenário de crise dos vizinhos latino-americanos impactará diretamente sobre o seu comercio externo, não podemos esquecer que a Argentina é o nosso principal parceiro e mercado no Mercosul.
Portanto, há fortes indícios de estarmos iniciando, de novo, na América Latina um penoso ciclo de populismo financiado por uma inflação que possivelmente terá que ser paga nas próximas décadas com mais atraso regional. Infelizmente é esse o panorama.
Hugo Eduardo Meza Pinto é economista, professor e coordenador pedagógico das Faculdades Integradas Santa Cruz de Curitiba.
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