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Com a definição na semana passada de que Donald Trump voltará a ser presidente dos Estados Unidos, as especulações sobre o que a vitória do republicano significará para o resto do mundo serão intensas até janeiro, quando ele tomará posse para seu segundo mandato.
Durante a campanha, Trump pouco falou sobre seus planos para a América Latina além das fortes declarações contra imigrantes da região e promessas de que promoverá uma grande política de deportação.
Especificamente sobre a Venezuela, o republicano procurou vincular a imigração ilegal à criminalidade nos Estados Unidos, ao alertar sobre a presença do grupo venezuelano Trem de Aragua no país.
Dessa forma, muitos se perguntam qual será a postura de Trump diante da Venezuela e do ditador Nicolás Maduro, que fraudou a eleição presidencial no seu país em julho para continuar no poder.
No primeiro mandato (2017-2021), o republicano reconheceu o oposicionista Juan Guaidó como presidente de fato da Venezuela e suspendeu as operações da embaixada americana em Caracas, retirando todos os funcionários diplomáticos do país.
Além disso, em março de 2020, o Departamento de Estado americano ofereceu uma recompensa de até US$ 15 milhões por informações que levem à prisão e/ou condenação de Maduro.
A quantia foi oferecida quando Maduro foi indiciado por um tribunal federal de Nova York por acusações de narcoterrorismo, conspiração para levar cocaína para os Estados Unidos, posse de metralhadoras e dispositivos destrutivos e conspiração para posse de metralhadoras e dispositivos destrutivos.
A gestão do democrata Joe Biden tentou uma posição mais apaziguadora, mas também não conseguiu tirar o chavismo do poder.
Após um acordo assinado no ano passado em Barbados pela ditadura e pela oposição venezuelana para eleições presidenciais livres em 2024, os Estados Unidos levantaram parcialmente sanções contra a Venezuela, especialmente nos setores de petróleo e gás, por seis meses.
Além disso, em dezembro do ano passado, a ditadura da Venezuela e os Estados Unidos fizeram um acordo para que o país sul-americano libertasse 36 presos, incluindo 12 americanos, em troca da libertação do empresário colombiano Alex Saab.
Apontado como testa de ferro de Maduro, Saab havia sido extraditado em 2021 de Cabo Verde, onde foi detido em junho de 2020, para os Estados Unidos, onde respondia a acusações de lavagem de dinheiro e aguardava julgamento.
Porém, a confirmação do impedimento à líder oposicionista María Corina Machado de concorrer na eleição presidencial de 28 de julho azedou novamente a relação entre os dois países.
Biden restabeleceu as sanções em abril deste ano e depois, com a fraude eleitoral confirmada, os Estados Unidos reconheceram o oposicionista Edmundo González como o verdadeiro vencedor da eleição na Venezuela.
Com Trump, Maduro diz que EUA e Venezuela podem ter “novo começo”
Com Trump de volta à Casa Branca, ele e Maduro manterão a postura de animosidade mútua, ou vão buscar algum tipo de conciliação?
O ditador venezuelano disse logo após a vitória do republicano que esta pode representar “um novo começo” nas relações entre os dois governos.
“No seu primeiro governo, o presidente reeleito Donald Trump não foi bom conosco. Este é um novo começo para apostarmos [numa relação em] que ambos ganhem, e para que os Estados Unidos se saiam bem, para que a Venezuela se saia bem”, declarou Maduro, que desejou “sorte” ao presidente eleito.
Ao mesmo tempo, a oposição venezuelana saudou a eleição de Trump e pediu sua ajuda para finalmente restaurar a democracia no país.
Em entrevista à BBC Mundo, Michael Shifter, ex-presidente do Diálogo Interamericano, think tank com sede em Washington, disse que “não descarta” a possibilidade de Trump buscar uma aproximação com o ditador venezuelano, como fez com o norte-coreano Kim Jong-un no seu primeiro mandato.
“Obviamente, Trump terá que lidar com a Venezuela. Sua política no primeiro mandato fracassou: apostou em Guaidó, não deu certo e Maduro se fortaleceu”, alegou Shifter.
“Portanto, talvez Trump não esteja interessado em tentar novamente o que não deu certo no seu primeiro mandato, adotando uma linha muito dura de que ‘todas as opções estão sobre a mesa’ e implementando sanções econômicas que fracassaram. Certamente, estudarão diferentes possibilidades”, disse o especialista.
Entretanto, outro especialista, ouvido pelo Diálogo Interamericano, acredita que o mais provável é que a postura de Trump diante da ditadura chavista seja parecida com a do primeiro mandato.
“Trump apoiou a ‘estratégia Guaidó’ para deslegitimar e tirar Maduro do poder na Venezuela, mas pareceu perder o interesse quando esse esforço se mostrou difícil. Agora, após quatro anos de imigração ilegal recorde através de uma fronteira sul dos EUA aberta, podemos esperar mais do mesmo — e com mais força”, disse G. Philip Hughes, ex-diretor para a América Latina no Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos e vice-presidente sênior do Conselho de Embaixadores Americanos.
“Ele deve apoiar novamente os esforços para tirar o regime de Maduro do poder na Venezuela — percebido como um concorrente aos planos de produção de petróleo de Trump — pela fraude nas eleições presidenciais de julho”, acrescentou Hughes.
Em uma entrevista ao canal do jornal nicaraguense Confidencial no YouTube, o jornalista Rafael Bernal, do jornal americano The Hill, especializado em notícias sobre a política de Washington, também disse acreditar numa postura combativa de Trump contra Maduro.
“Não são as violações dos direitos humanos, não tem nada a ver com as eleições que foram claramente fraudadas, nada disso. O problema dele com Nicolás Maduro é que ele [o ditador venezuelano] se dá muito bem com a China e que imigrantes partem da Venezuela [rumo aos Estados Unidos]”, afirmou.