As eleições presidenciais da Argentina, realizadas neste domingo (22), foram encerradas sem uma definição de quem chefiará a Casa Rosada pelos próximos quatro anos.
Isso porque os eleitores se dividiram entre a permanência do peronismo no poder, com Sergio Massa, e a chegada de uma proposta libertária da oposição, liderada pelo economista Javier Milei. Os dois disputam o cargo em um segundo turno, marcado para o dia 19 de novembro.
A vitória de Massa foi uma grande surpresa na noite deste domingo, diante de uma projeção dos levantamentos eleitorais que apontava uma liderança do libertário Milei, vencedor das primárias de agosto no país.
O professor de economia da Universidade de Buenos Aires, Flavio González, explicou que a maioria das pesquisas feitas no país "perdeu credibilidade nos últimos anos por se afastarem de um rigor científico".
Segundo ele, apesar de existirem levantamentos eleitorais sérios, uma parcela considerável é guiada pelo objetivo de ajudar determinado candidato na corrida eleitoral. "Muitas pesquisas servem como um instrumento para levar os eleitores indecisos a decidirem de última hora pela opção que está à frente na intenção de votos", afirmou.
Para o professor, um dos pontos principais que contribuíram com a vitória de Massa nas urnas, por cinco pontos de diferença, é a incerteza dos eleitores diante das propostas de Milei.
"A população está desencantada com seus políticos, principalmente pela situação econômica que o país enfrenta. Contudo, Milei surge como uma alternativa disruptiva ao poder, provocando um temor dos eleitores que questionam suas propostas como a dolarização, por exemplo".
O diretor executivo da Fundação Liberdade e Progresso, Aldo Abram, relaciona a vitória do peronista ao seu Plano Prata, um pacote de medidas que beneficia a população argentina com a isenção de impostos de renda e subsídios a serviços públicos.
"Por um lado, as propostas de Milei assustam esse eleitorado do país, por outro, o Plano Prata anunciado por Massa agrega novos eleitores ao seu lado com o oferecimento de benefícios sociais e econômicos à população. No entanto, esse é um projeto que sairá caríssimo para o Estado, é uma conta que está sendo gerada", afirma Abram.
Uma análise feita pelo jornal argentino La Nación associa a "virada" do peronismo no primeiro turno, com 36%, à reeleição do governador provincial de Buenos Aires, Axel Kicillof, da coligação União pela Pátria, que conseguiu uma vantagem aproximada de 20 pontos percentuais sobre seus concorrentes: Néstor Grindetti, do Juntos pela Mudança, e Carolina Píparo, da Liberdade Avança.
A província é um dos principais “termômetros eleitorais” da Argentina, por isso os candidatos à presidência intensificaram suas campanhas na região, historicamente ligada ao peronismo.
O governador obteve 45% dos votos nas eleições, tendo como grande surpresa sua melhoria no interior de Buenos Aires, que nas primárias de agosto havia sido evasiva.
Em agosto, Kicillof conquistou 36,7% dos votos, ficando apenas quatro pontos acima do Juntos pela Mudança na província.
O candidato a governador do Juntos pela Mudança, Néstor Grindetti, ficou em segundo lugar, com um percentual que ultrapassou 26%, mostrando um declínio do fluxo que a coligação havia alcançado nas primárias.
Em terceiro lugar aparece Píparo, da Liberdade Avança, que recebeu aproximadamente 24% dos votos, sustentando o fluxo apresentado durante as prévias argentinas.
O governador reeleito de Buenos Aires, Kicillof, surpreendeu prevalecendo nos subúrbios da província e alcançando números não esperados em muitas seções eleitorais do interior, territórios reconhecidamente contrários ao peronismo, com perfil agroindustrial.
Nos distritos da zona norte da periferia de Buenos Aires, o governador superou os 44%, frente aos adversários.
Em contagem geral, dos 3,2 milhões de votos que a União pela Pátria conquistou neste eleição, em comparação às primárias, quase metade (1,4 milhão de votos) correspondeu a Buenos Aires.
Esse crescimento da coligação peronista na província nos últimos meses contribuiu em muito para a vitória de Sergio Massa no primeiro turno, contra o libertário Javier Milei, que busca angariar os votos da ex-ministra Patricia Bulllrich, de centro-direita.
Na capital, a disputa pela prefeitura foi mais acirrada. Jorge Macri, primo do ex-presidente Mauricio Macri, ficou a 0,4 ponto de conquistar a vitória. Com isso, vai disputar o segundo turno com o peronista Leandro Santoro, em novembro.