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Eleito no domingo (19) como primeiro presidente de esquerda da história da Colômbia, Gustavo Petro, ex-guerrilheiro e ex-prefeito de Bogotá, da coalizão Pacto Histórico, foi parabenizado por líderes latino-americanos, especialmente os do seu espectro político, que prometeram buscar uma integração regional.
O presidente do Chile, Gabriel Boric, falou em trabalharem “juntos pela unidade de nosso continente” e o argentino Alberto Fernández alegou que a vitória de Petro “garante o caminho para uma América Latina integrada”.
As ditaduras de Cuba e Venezuela também comemoraram a vitória do ex-guerrilheiro. O ministro das Relações Exteriores da ilha, Bruno Rodríguez, destacou “a vontade de aprofundar as relações bilaterais”, enquanto o número dois do chavismo, Diosdado Cabello, afirmou que o triunfo de Petro muda “radicalmente” as relações entre Colômbia e Venezuela.
“Pelo simples fato de que a oligarquia deixa de governar, já há uma mudança profunda na relação com nosso país”, disse.
O primeiro turno das eleições colombianas já anunciava mudanças. O candidato de direita, Federico “Fico” Gutiérrez, não passou para a segunda etapa das votações. Concorreram no último domingo dois candidatos antissistema – o empresário Rodolfo Hernández foi o concorrente de Petro.
Em entrevista à rede de comunicação francesa RFI, a professora da Universidade de Sorbonne Mathilde Allain apontava, pouco antes do segundo turno, que a desaprovação de 70% de Iván Duque deixava um mau cenário para a direita colombiana.
No entanto, em fevereiro deste ano, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontou que o país havia conseguido se recuperar “de maneira notável” da crise causada pela pandemia de Covid-19. Depois da retração de 6,8% no PIB em 2020, o crescimento em 2021 foi estimado em 9,5% e a expectativa é de alta também em 2022 e 2023 (5,5% e 3,1%, respectivamente).
Mesmo assim, a crise econômica e sanitária levou 3,5 milhões de pessoas à linha da pobreza no país, que passou a ter, portanto, 21 milhões de colombianos nessa situação, o equivalente a 42% da população.
Na tentativa de controlar a crise, no primeiro semestre de 2021, Iván Duque anunciou uma reforma tributária, que incluía o aumento do ICMS sobre serviços e produtos. As medidas causaram manifestações violentas nas cidades colombianas, com invasão de comércios e instituições públicas, e que resultaram na morte de cerca de 60 pessoas.
Depois de anunciar que “organizações criminosas se escondem atrás de protestos legítimos”, Duque retirou o projeto que previa a reforma na arrecadação. O presidente ordenou a militarização das cidades com maior risco, mas sofreu resistência de algumas delas, incluindo a recusa da prefeita de Bogotá, Claudia López.
Aproveitando a crise econômica e social, Gustavo Petro falou em campanha sobre investir na "prevalência" das autoridades civis sobre as militares e apresentou como uma das principais propostas o desmantelamento do Esmad, o esquadrão de choque móvel antiprotestos. Também propôs uma reforma tributária que deverá aumentar os impostos para os mais ricos.
O que Petro propõe
Petro tem apoio de políticos que vão do centro à esquerda, mas deve encontrar minoria no Congresso, eleito em março deste ano. As propostas dele envolvem, além das mudanças nas Forças Armadas e na tributação, uma reforma agrária e de mercado.
Reforma nas Forças Armadas
Durante a campanha, Petro foi apontado pelos adversários como "amigo" das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e acusado de não pretender cobrar dos guerrilheiros o cumprimento integral de sua parte no acordo de paz de 2016, como a entrega de todas as armas.
Nos primeiros discursos como candidato a presidente, Petro anunciou que, assim que assumisse o cargo, garantiria “o processo de paz integral com todos os atores da violência”.
Mais de cinco anos após a assinatura do acordo, a Colômbia parece estar longe de ter paz. Segundo o Indepaz, 152 líderes sociais das zonas rurais foram assassinados no ano passado. A organização também contabilizou mais de 40 ex-combatentes das Farc que assinaram o acordo de paz e foram mortos ou desapareceram.
Além disso, a retomada dos confrontos entre dissidentes das Farc e guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional (ELN) tem levado violência e terror à região da fronteira com a Venezuela.
Reforma tributária
O presidente eleito pretende mexer profundamente na economia colombiana. Durante a campanha, Petro ressaltou que considera que o atual sistema tributário favorece os mais ricos do país. Ele propõe, então, entre outras medidas, uma tributação especial para dividendos e transferências para o exterior. O objetivo dele é aumentar a arrecadação “sobre as 4 mil maiores fortunas da Colômbia”.
Reforma agrária
Mirando os latifúndios, Petro quer também transformar a produção agrícola do país. Ele prometeu distribuir terras às famílias rurais de baixa renda, especialmente às mulheres. Também quer aumentar impostos para propriedades improdutivas de mais de 500 hectares.
Desde os acordos de paz com as Farc, em 2016, o país tem dificuldade em redistribuir as terras para plantio que antes funcionavam com atividades ilegais da guerrilha, como o fornecimento de cocaína, por exemplo.
Reforma de mercado
Gustavo Petro também declarou que pretende transformar o modelo econômico do país, saindo do extrativismo e direcionando a Colômbia a um modelo de economia circular e local.
O grande risco é ferir o orçamento nacional, já que a Colômbia é o terceiro maior produtor de petróleo da América Latina, atrás do Brasil e da Argentina. Em 2021, o país exportou US$ 13,5 bilhões.