Reservistas da Defesa Territorial da Ucrânia participam de um exercício militar perto de Kiev, Ucrânia, em 19 de fevereiro de 2022| Foto: EFE/EPA/SERGEY DOLZHENKO
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Com desdobramentos em todo o mundo, o conflito entre Rússia e Ucrânia traz repercussões nacionais e internacionais que a Gazeta do Povo tem acompanhado diariamente. Para isso, o jornal conta com análises de especialistas. Confira o que eles falaram a respeito do conflito na última semana:

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A ação de Putin é loucura?

No texto de Theodore Dalrymple publicado dia 1 de março, são citados alguns riscos de associar ações do presidente russo Vladimir Putin à loucura. Confira um trecho:

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“De fato, os loucos de caráter forte muitas vezes podem levar outros consigo: eles podem persuadir os outros de que sua visão paranoica do mundo está correta. Isto é especialmente verdade quando possuem poder sobre pessoas de caráter menor do que eles. (...) Na grande peça de Ionesco ‘A Agonia do Rei’, o governante de seu reino em ruínas, absurdamente chamado Bérenger, descobre que está prestes a morrer (até então pensou que nunca morreria), e faz um discurso no qual exige que depois de sua morte todos os livros de história deveriam ser sobre ele, todas as estátuas deveriam representá-lo, todas as instituições públicas deveriam ter seu nome. É sua vingança contra a mortalidade, como talvez seja a ameaça de guerra nuclear de Putin”.

Por que usar Chernobyl?

Louco ou não, Putin iniciou a guerra com um ataque de decapitação, que tem o objetivo de tomar a capital do país para isolar seu comando e desestabilizar as forças armadas. Para isso, o colunista Filipe Figueiredo explica em seu texto de 25 de fevereiro que a tomada da área de exclusão Chernobyl não teve objetivo de usar o material radioativo, mas de ajudar os militares russos a avançar com mais rapidez. Confira parte da coluna:

“...ali só estão riscos, nenhum benefício, e ninguém vai se atrever a mexer nos restos do maior desastre nuclear da História. (...) A Zona de Exclusão foi um grande ‘atalho’ militar, possibilitando um rápido avanço sem grandes resistências na direção de um cerco da capital ucraniana”.

Fracasso do Kremlin

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No entanto, a primeira semana do conflito mostrou que Putin subestimou o poder de defesa da Ucrânia, o que, de acordo com o colunista Guilherme Macalossi, deu tempo para o Ocidente montar o maior conjunto de sanções econômicas da história moderna e prejudicar os objetivos do Kremlin.

“Sim, Putin ainda pode prevalecer pelas armas. Continua sendo o cenário mais provável. Mas o custo já o torna um derrotado. A demora em dominar um país com defesas frágeis e com menor aparato tecnológico evidenciou que o grande exército que ele controla tem deficiências e fragilidades”.

Ilusão

Mesmo com muitos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) participando das sanções econômicas contra a Rússia, o colunista Filipe Figueiredo afirma que é ilusão esperar uma postura unânime de todos os membros.

“Quando se fala dessas relações complexas, muitas vezes se cai no reducionismo de ‘a Rússia dividiu o Ocidente’, uma visão simplória e que corre até o risco de dar mais méritos a Moscou do que os devidos. Na verdade, se tratam de dezenas de países com diversas relações econômicas, políticas e históricas, com muitas questões herdadas da criação desses Estados nacionais, e de uma realidade em que não apenas a vontade de Washington vai prevalecer”.

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Existência da OTAN

E, falando em OTAN, o mesmo colunista explica os motivos dessa organização ainda existir, já que, diferente do que muitos acreditam, suas funções não se limitaram à Guerra Fria.

“O fim da Guerra Fria, ao contrário do que ingenuamente dito por Francis Fukuyama, não foi o ‘fim da História’. (...) Acreditar que a OTAN deveria ter acabado junto com a Guerra Fria é ingenuamente comprar um discurso ideológico de achar que o mundo realmente se tratava apenas de uma disputa entre capitalismo e comunismo. É ignorar que, no cenário internacional, vivemos uma realidade cuja origem está, em boa parte, no século XIX.”

Socialismo

A Rússia também busca concentrar mais renda e poder. Segundo o colunista Daniel Lopez em seu texto do dia 1 de março, é esse o objetivo do socialismo que, em vez de distribuir esses dois elementos, os centraliza para tirar a autonomia da população e garantir obediência.

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“Imagine a esposa que tem um marido violento. Por que ela não se separa? Em muitos casos, porque depende financeiramente dele. É semelhante ao enteado que diz: ‘meu padrasto é um carrasco, mas ele paga a minha faculdade’. Por mais estranho que possa parecer, é exatamente esse sistema de dependência que está sendo construído por meio da triste guerra que se desenrola na Europa. (...) A guerra está viabilizando um aumento inimaginável dos instrumentos de dependência, dominação e controle”.

Fertilizantes

E qual é a principal repercussão econômica da guerra aqui no Brasil? A importação de fertilizantes que, de acordo com o jornalista e colunista J. R. Guzzo em seu texto de 28 de fevereiro, não deveria existir há muito tempo:

“Uma área tão importante da economia não deveria viver, de maneira permanente, na dependência externa de algo absolutamente essencial para o seu funcionamento. Não haveria o que fazer, naturalmente, se o país não tivesse nenhuma possibilidade material de produzir seus próprios fertilizantes e se fosse obrigado a importar tudo o que precisa. Mas acontece o contrário. O Brasil tem os recursos naturais para isso, sobretudo pelas reservas de potássio – mas recusa-se a desenvolver as suas minas. (...) Em nome de meia dúzia, sacrifica-se o interesse de 200 milhões”.

Neutralidade

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A mesma situação é analisada pelo jornalista Alexandre Garcia, que também avalia em sua coluna a neutralidade do presidente Jair Bolsonaro diante do conflito como forma de proteger a Amazônia como patrimônio brasileiro.

“Quem está por trás da OTAN ou à frente da OTAN? É o Joe Biden. Uma voz forte na OTAN é o Emmanuel Macron. E o que disse o Macron sobre a Amazônia? ‘A nossa casa está queimando’. Que a Amazônia é uma questão internacional. Isso disse o Macron. E o Biden disse o quê? Fez uma ameaça. ‘Se os brasileiros não pararem de queimar a Amazônia haverá sanções severas econômicas contra o Brasil’. (...) E aí? Qual é o partido que o brasileiro toma? Um garantiu fertilizante para o agro. Mais do que isso: o Putin já disse que a Amazônia é do Brasil. E é”.