Muitos se questionam se o acordo nuclear e a inesperada troca de prisioneiros neste fim de semana entre Washington e Teerã foram o epílogo de uma iniciativa diplomática excepcional ou o princípio de uma verdadeira reconciliação.
O presidente Barack Obama teceu grandes elogios ao saudar os progressos históricos de Washington e Teerã, enquanto seu colega iraniano, Hassan Rohani, comemorou a nova página que estava sendo virada.
Apesar do degelo, Obama foi cuidadoso ao falar de uma normalização dos vínculos com o ex-inimigo dos Estados Unidos, 35 anos depois da ruptura de suas relações diplomáticas após a Revolução Islâmica. Para não mencionar uma queda das alianças no Oriente Médio, que levaria os Estados Unidos a se lançar nos braços de um Irã xiita e abandonar as monarquias sunitas do Golfo e de Israel.
Obama reafirmou que as profundas divergências persistiam com um Irã desestabilizador, seja por violações dos direitos humanos, pelo programa de mísseis balísticos -- pelo qual o Tesouro americano anunciou sanções no domingo -- ou pela presença de Teerã na lista negra americana “de Estados que apoiam o terrorismo”.
No entanto, Washington agora está longe da retórica dos anos 2000, quando o presidente republicano George W. Bush situou Teerã no famoso “Eixo do Mal”. Os mulás o acusaram de ser o “Grande Satã”.
Então, o que a administração Obama quer fazer agora com a potência xiita? “Devemos tentar ver se há material ou não para uma cooperação adicional, ao menos um diálogo construtivo sobre outros temas”, respondeu no domingo um americano de alto escalão.
“Um sócio natural”Joseph Bahout, pesquisador da fundação Carnegie, estimou que “muito no fundo, no software profundo de Obama, está o Irã”. Sua administração “pensa que o Irã é um sócio natural para o futuro”, explicou à AFP.
De fato, Washington e Teerã demonstraram no sábado o êxito de seus diálogos: depois de quase quatro anos de negociações secretas e oficiais, alcançaram um acordo histórico sobre o programa nuclear iraniano e anunciaram simultaneamente uma troca de prisioneiros sem precedentes. “Demonstramos que com o tempo uma diplomacia tenaz produz resultados”, elogiou o responsável americano.
Para conseguir repatriar os iranianos-americanos detidos no Irã, entre eles o correspondente do Washington Post Jason Rezaian, foram necessários 14 meses de negociações ultrassecretas entre diplomatas e responsáveis de serviços de inteligência dos dois países. As discussões foram realizadas frequentemente em Genebra, com a cumplicidade das autoridades suíças, relatou outro funcionário da administração americana.
Os negociadores se reuniam em salas discretas em hotéis de luxo, no âmbito das negociações sobre o programa nuclear entre os chefes diplomáticos de ambos os países, John Kerry e Mohammad Javad Zarif.
Os palácios de Viena também foram palco destas negociações no outono passado, quando as grandes potências, a Arábia Saudita e seu rival iraniano elaboraram um plano de paz para a Síria. O conflito sírio justamente permitiu a aproximação entre Washington e Teerã.
“O Irã está na mesa” pelas negociações da Síria, celebrou o responsável americano. E mesmo tendo “profunda divergências com o Irã sobre a Síria, queremos ver se deseja se envolver de maneira construtiva nos temas regionais e se entende que a guerra civil não se resolverá enquanto (o presidente) Bashar al-Assad estiver no poder”, acrescentou.
Reequilíbrio no Oriente Médio
Segundo os especialistas, a administração Obama tem a esperança de um reequilíbrio na estratégia americana no Oriente Médio -- a favor de Teerã contra Riad -- que possa colocar fim aos conflitos em Síria, Iêmen ou Líbano, onde enfrentam indiretamente a Teerã xiita e a monarquia saudita sunita.
No entanto, Obama deixará a Casa Branca em 20 de janeiro de 2017. “Obama não pode ir muito mais longe, não tem tempo”, afirmou Bahout. Para este especialista, os americanos e iranianos querem neste ano “tentar perpetuar sua relação, mas não mostrá-la abertamente, um pouco como um casal que se esconde”.
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