Vista de um mural em uma rua de Gaza, com imagens de líderes palestinos.| Foto: EFE/Mohammad Ibrahim
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Na quarta-feira passada (25), a deputada Rashida Tlaib (Partido Democrata, Michigan) chamou a atenção ao decidir hastear uma bandeira usada pela Organização pela Libertação Palestina (PLO, na sigla em inglês) na porta de seu escritório e, o que não é a primeira vez, acusar Israel de promover um “apartheid”. Contudo, Tlaib ficou calada em meio às revelações recentes a respeito de abusos de direitos humanos perpetrados contra os palestinos.

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Os palestinos da Faixa de Gaza estão enfrentando o Hamas. Por quase duas décadas, o grupo terrorista manteve o controle de seu encrave costeiro com mãos de ferro. Mas os rumores de indignação estão aumentando em volume, e uma organização americana está fazendo de tudo para que sejam ouvidos.

O Centro pela Paz nas Comunicações (CPC) é uma organização sem fins lucrativos sediada em Nova York que trabalha para “estimular a paz entre os povos” no Oriente Médio e Norte da África. A ONG recentemente lançou um projeto chamado Sussurros de Gaza, que busca elevar as vozes de habitantes comuns do local sob domínio do Hamas.

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Ser dissidente em Gaza com certeza é perigoso. Em seu livro de 2004 “The Case for Democracy”, Natan Sharansky, dissidente soviético que virou político israelense, defendeu que havia dois tipos de sociedades: uma “sociedade livre” e uma “sociedade do medo”. Ele formulou um teste simples para discernir em qual categoria uma sociedade se encaixa: Pode-se ir a uma praça pública expressar qualquer opinião sem medo de ser preso? E em Gaza, a resposta é tragicamente clara.

Os residentes de Gaza que falaram com o CPC para a campanha Sussurros de Gaza — uma série em várias partes com entrevistas animadas, que usa a animação e tecnologias de alteração do timbre da voz para proteger as identidades dos entrevistados — não têm ilusões quanto aos mandatários do Hamas. Eles sabem dos riscos de abrir a boca. Mas, como disse o presidente do CPC, Joseph Braude, eles “querem que essas histórias sejam ouvidas”.

O Hamas governa Gaza desde 2007, quando tomou o poder por lá depois de uma breve, mas sangrenta guerra interna com o Fatah, o movimento que domina a Autoridade Palestina, que controla a Cisjordânia. A reputação merecida de corrupção do Fatah ajudou a mobilizar o voto de muitos palestinos para o Hamas, que é afiliado à Irmandade Muçulmana e atua por procuração para o Irã, e prometeu “reforma e mudança” nas eleições legislativas da Palestina, em 2006. O Fatah se recusou a aceitar sua derrota apertada, levando a um conflito no qual o Hamas teve sucesso em tomar Gaza, para sempre mudando o cálculo de segurança de Israel e as vidas dos habitantes comuns da faixa.

Quase de imediato, depois de tomar o controle de Gaza, o Hamas começou a lançar mísseis sobre Israel — país que promete destruir, como está registrado em seu estatuto. As ambições do grupo islamista em seguida levaram tanto Israel quanto o Egito a iniciarem um bloqueio de segurança em Gaza e foram o estopim para quatro guerras. Em cada um desses conflitos, o Hamas usou civis como escudos humanos, guardando armas, munição e centros de operações dentro ou próximo de escolas, prédios da ONU, hospitais e até na imprensa internacional como a Associated Press.

O Hamas também foi pego usando doações estrangeiras para financiar operações de terrorismo. Ele até usou equipamento de construção e cimento doados para construir os assim chamados “túneis de terror” através dos quais seus agentes podem sequestrar e atacar israelenses. A rede de túneis, de extensão estimada de 483km, é intricada. Também é cara: De acordo com estimativas das Forças Defensivas de Israel, alguns túneis individuais custam até US$ 3 milhões (R$ 15,2 milhões) para construir.

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E, como deixa claro a campanha Sussurros de Gaza, o compromisso do Hamas com a destruição de Israel também vem às custas das pessoas que vivem sob o seu jugo.

Um dissidente conta ao CPC que o Hamas não cumpriu a promessa de “reforma e mudança”. Em vez disso, “trouxe pilhagem, roubo, opressão, humilhação, nepotismo e desemprego”. O Hamas, nota o dissidente, é mais que apenas um grupo terrorista. Ele também trabalha como um sindicato do crime, extorquindo os civis. “Não há um pequeno negócio — até bancas de tabaco — em que eles não metam a mão”, diz o residente de Gaza.

O Hamas também “extraiu lucro” das várias guerras que iniciou enquanto “o povo sofreu”, de acordo com um entrevistado pelo CPC. Outro afirma que “somente o povo carrega o fardo” desses conflitos. Os agentes do Hamas preferem se enfiar “em seus bunkers, seus esconderijos” enquanto usam as pessoas comuns de Gaza como bucha de canhão. E quando a guerra termina, “eles nos dizem que foi uma vitória”.

De fato, a propaganda do Hamas está em todo lugar em Gaza. Como conta um entrevistado ao CPC, “Os seus próprios pensamentos são tirados de você”. Ao simplesmente caminhar pela rua, ele descreve que se depara com desenhos e pinturas louvando o grupo terrorista e os seus líderes, fazendo com que ele se pergunte se está “em uma cidade ou num quartel militar”. A cidade de Gaza “assumiu um teor de atraso, falta de humanidade e militarismo”, diz ele, e o dano psicológico que a maioria dos residentes suportam devido ao jugo do Hamas é “enorme”.

Gaza é governada por uma cleptocracia que é tão corrupta quanto brutal. O desespero caracteriza muitos dos relatos, com uma mulher, “Fátima”, recontando como o seu irmão, um vendedor de rua que vendia verduras, mas se recusou a pagar propina para o Hamas, foi forçado a fugir depois que membros do grupo repetidamente o espancaram e o prenderam sob acusações falsas.

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O jornal Times of Israel, que está trabalhando com o CPC na campanha Sussurros de Gaza, notou que uma pesquisa de 2018 descobriu que 48% dos residentes de Gaza queriam emigrar. Nem se pode culpá-los por isso.

Os que foram entrevistados pelo CPC compartilharam suas histórias na esperança de que outras pessoas ouçam. Ainda assim, muitos dos que alegam com frequência que são “pró-Palestina” ficaram notavelmente calados a respeito do regime totalitário do Hamas.

Membros do assim chamado Esquadrão — as deputadas Tlaib, Alexandria Ocasio-Cortez (Partido Democrata, Nova York), Ilhan Omar (Democrata, Minnesota) e Cori Bush (Democrata, Missouri) — são conhecidas por suas críticas ferinas contra o Estado judeu, que, alegam elas, persegue os palestinos. Cori Bush, por exemplo, acusou Israel de cometer “opressão e trauma violentos” contra os palestinos. Ainda assim, nenhuma delas disse uma palavra sobre a campanha Sussurros de Gaza.

Infelizmente, essa indignação seletiva não é nova. Quando o Hamas executou dezenas de manifestantes em 2019, o Esquadrão ficou calado. E a imprensa, como os congressistas que ela exalta, também parece estranhamente desinteressada em responsabilizar o regime que governa Gaza. O jornal Washington Post, o New York Times e outras organizações americanas de notícias ficaram de bico fechado até agora a respeito da campanha do CPC.

A esperança é que isso logo mude e os sussurros de Gaza inspirem vozes estridentes de condenação em todo lugar, das redações aos salões do poder. Como a própria Tlaib disse uma vez, o silêncio a respeito de violações de direitos humanos equivale a “cumplicidade”. Ao menos a respeito disso, ela tem razão.

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Sean Durns é analista sênior de pesquisa do Comitê de Precisão em Relatórios e Análises do Oriente Médio (CAMERA), com sede em Boston.

©2023 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês
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