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Alternativa ao dólar?

O que se sabe sobre a moeda dos Brics, apresentada na cúpula do bloco

Líderes dos Brics e aliados se cumprimentam durante a sessão de fotos oficiais da cúpula de Kazan nesta quarta-feira (24) (Foto: EFE/EPA/ALEXANDER NEMENOV/POOL)

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Durante a cúpula dos Brics, realizada esta semana na cidade russa de Kazan, foi apresentada uma cédula simbólica de uma moeda do bloco de economias urgentes.

A cédula traz um desenho com as bandeiras de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (mas não as dos países recém-admitidos nos Brics, Etiópia, Irã, Egito e Emirados Árabes) e, segundo informações da Sputnik, “representa o trabalho coletivo sendo realizado dentro da estrutura dos Brics”.

De acordo com a agência estatal russa, um debate sobre a criação de uma moeda comum do bloco foi realizado a portas fechadas na cúpula em Kazan na quarta-feira (23).

Na terça-feira (22), a presidente do banco dos Brics, Dilma Rousseff, havia defendido a criação de uma moeda comum e independente do dólar para transações comerciais entre países do bloco.

Em discurso por vídeo na cúpula na quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também defendeu uma alternativa à moeda americana.

“Agora é chegada a hora de avançar na criação de meios de pagamento alternativos para transações entre nossos países. Não se trata de substituir nossas moedas. Mas é preciso trabalhar para que a ordem multipolar que almejamos se reflita no sistema financeiro internacional”, disse Lula.

O ditador da Rússia, Vladimir Putin, disse em Kazan que a busca por “alternativas” é necessária diante das sanções impostas pelo Ocidente a países dos Brics – como as que atingiram os russos devido à invasão iniciada na Ucrânia em 2022.

“O dólar continua sendo a ferramenta mais importante nas finanças globais, mas usá-lo como arma política mina a confiança na moeda”, disse Putin. “Se eles [países ocidentais] nos bloquearem, encontraremos alternativas”, acrescentou.

Num fórum realizado em Kazan em maio, o embaixador iraniano na Rússia, Kazem Jalali, havia adiantado que a moeda dos Brics está sendo planejada.

“A criação de uma nova moeda única dentro da estrutura da associação é o que a Rússia e o Irã estão trabalhando”, afirmou. Jalali disse que hoje mais de 60% do comércio bilateral entre Rússia e Irã é feito em rublos e riais iranianos.

Não se sabe por enquanto qual é o estágio de maturação dessa moeda (a cédula apresentada em Kazan não tem nome), e os Brics também cogitam outras alternativas.

A declaração da cúpula em Kazan, por exemplo, apontou que os membros acolheram “com satisfação o uso de moedas locais em transações financeiras entre os países dos Brics e seus parceiros comerciais”, o que também foi defendido por Dilma e Putin numa reunião na terça-feira.

Além disso, em junho, Putin disse que os Brics estão “trabalhando no desenvolvimento de um sistema de pagamentos independente não sujeito a pressão política, abusos e interferência de sanções externas”.

Devido à invasão da Rússia à Ucrânia, bancos russos foram desligados do sistema internacional de informações sobre transferências bancárias Swift.

Em artigo publicado em abril, Paul Dyer, pesquisador do think tank Conselho do Oriente Médio sobre Assuntos Globais, disse que o crescimento e a integração das economias dos Brics, a deterioração do relacionamento entre Estados Unidos e China e a expansão das sanções aplicadas pelo Ocidente aceleram a busca no bloco por “uma moeda de reserva que concorra com ou substitua o dólar”.

Porém, ela poderia ser tanto uma moeda dos Brics quanto a de algum país-membro, e sua adoção precisaria estar baseada “em demanda internacional sustentada por transparência e confiança”, argumentou.

“Em vez de ver o dólar substituído por uma determinada moeda, é mais provável que vejamos uma fragmentação das reservas à medida que o comércio e o investimento são reestruturados para refletir um mundo cada vez mais multipolar”, escreveu Dyer.

“A demanda pelo dólar permanecerá forte, mas as participações em yuans, rúpias e outras moedas crescerão, mesmo que o comércio e o investimento enfrentem maior incerteza e maiores custos de transação”, disse o pesquisador.

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