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O ex-presidente argentino Alberto Fernández (2019-2023) é alvo neste momento de uma investigação do Ministério Público sobre violência doméstica, fruto de uma denúncia feita na semana passada por sua ex-esposa, Fabiola Yáñez. A ex-primeira-dama acusa o peronista de tê-la agredido por diversos anos, inclusive durante o período em que ele estava na presidência.
A denúncia de violência doméstica foi formalizada por Yañez no último dia 6 e gerou uma série de revelações e novas acusações que têm agitado a opinião pública e a justiça argentina. Nesta quarta-feira (14), o Ministério Público argentino decidiu oficializar e ampliar a acusação contra Fernández, dizendo que ele intensificou suas agressões contra Yañez durante o exercício da presidência argentina.
Yáñez, atriz e jornalista, foi casada com Fernández durante todo o mandato do peronista na presidência argentina. Ela tem 43 anos e atualmente vive na Espanha junto ao seu filho, Francisco, fruto do casamento com o ex-presidente.
A acusação formal da ex-primeira-dama surgiu logo após a Justiça argentina descobrir, em junho deste ano, durante uma investigação sobre possíveis práticas de tráfico de influência envolvendo Fernández, fotos e vídeos que evidenciavam sinais de violência perpetradas pelo peronista contra ela. Esses materiais incluíam imagens de hematomas e mensagens de texto entre Yañez e Fernández, que detalhavam as agressões sofridas pela ex-primeira-dama.
Na denúncia feita na semana passada, Yáñez confirmou ter sido vítima de violência física e assédio por parte de Fernández durante todo o período em que foram casados.
Na última sexta-feira (9), a denúncia da ex-primeira-dama ganhou ainda mais peso após o portal argentino Infobae divulgar as imagens e conversas da troca de mensagens entre ela e Fernández. As imagens divulgadas mostravam os hematomas no corpo e rosto de Yañez. Em uma das mensagens reveladas pelo portal argentino, a ex-primeira-dama afirma que Fernández a agrediu por três dias consecutivos. O ex-presidente, por sua vez, pediu “desculpas” e alegou estar “sofrendo”.
Fernández, que negou as agressões, já chegou a afirmar que os hematomas presentes na ex-esposa seriam resultado de um “procedimento estético para rugas”.
No entanto, a denúncia de Yáñez foi também sustentada por testemunhos de ex-funcionários da residência oficial da presidência argentina, a Quinta de Olivos, que disseram ter presenciado uma das brigas entre o casal, enquanto outros funcionários chegaram a confirmar o clima hostil e o conhecimento dos hematomas em Yáñez.
Yáñez relatou em entrevista ao Infobae que tentou buscar ajuda junto a instituições do governo peronista, como o Ministério da Mulher, mas não obteve o suporte necessário. Ela mencionou ter sofrido não apenas violência física, mas também “terrorismo psicológico” por parte de Fernández, já que o peronista teria feito diversas ameaças de suicídio por causa da situação.
Aborto forçado e medo
Yáñez também afirmou em depoimento enviado ao Ministério Público da Argentina que Fernández a forçou a fazer um aborto em 2016, logo após o início do relacionamento deles.
Segundo explicou, Fernández começou a tratá-la com "desprezo e rejeição" após a descoberta de sua gravidez, afirmando que o relacionamento entre os dois "era muito recente" para que tivessem filhos.
"Você tem que resolver, tem que abortar", teria ordenado o peronista.
Segundo informações do jornal Clarin, pessoas do entorno de Yañez afirmaram que Fernández a instigou a cometer um crime, uma vez que o aborto só seria legalizado na Argentina em 2020. A advogada da ex-primeira-dama, Mariana Gallego, disse que a situação também caracterizaria "violência reprodutiva".
Yañez também revelou que, durante seu mandato, Fernández saía com amigos “hippies” que "fumavam maconha", bem como tinha problemas com o "consumo abusivo de álcool". Ela ainda denunciou que Férnandez teria intensificado as agressões em 2023, seu último ano na Casa Rosada, pois estava sempre culpando-a por seus problemas políticos.
Na entrevista concedida ao Infobae, a ex-primeira-dama afirmou que, após ter tido coragem para denunciar Fernández, passou a temer por sua segurança e a de seu filho, mesmo morando na Espanha. A Justiça argentina já proibiu o ex-presidente de sair do país e de se aproximar de sua ex-esposa. Na sexta-feira, Fernández teve seu celular apreendido durante uma operação conduzida pelo Departamento de Justiça da Argentina. A ação visava investigar se ele continuava a contatar Yañez, mesmo após a imposição da ordem judicial que o proíbe de se aproximar dela.
Fernández se tornou o primeiro ex-presidente argentino a enfrentar uma acusação de violência doméstica. Em sua defesa, ele afirmou que apresentará “provas e testemunhos” que comprovam sua inocência. Nesta quinta-feira (15), o Fernández decidiu renunciar ao cargo de presidente nacional do peronista Partido Justicialista.
A investigação sobre as denúncias segue em curso na Justiça argentina, e Yáñez está participando do processo por meio de videoconferências. Na quarta-feira, a ex-primeira-dama ratificou suas acusações contra Fernández e solicitou que o caso fosse classificado como um crime de lesões graves.