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Apoiadores do ditador Nicolás Maduro participam de uma manifestação em Caracas, capital da Venezuela, em 23 de março. Foto: Juan Barreto / AFP
Apoiadores do ditador Nicolás Maduro participam de uma manifestação em Caracas, capital da Venezuela, em 23 de março. Foto: Juan Barreto / AFP| Foto:

No sábado (23), dois aviões da Força Aérea russa desembarcaram no aeroporto de Maiquetía, nos arredores de Caracas, capital da Venezuela. As aeronaves estariam levando uma autoridade de defesa russa e quase cem soldados, segundo agências de notícias. Um dos aviões, com a bandeira russa, estaria sob vigilância da Guarda Nacional.

O caso alimentou especulações de que uma intervenção militar estaria prestes a acontecer no país.

A Rússia apoia o regime do ditador Nicolás Maduro, e é um dos principais credores da dívida externa da Venezuela, ao lado da China. O Kremlin é um dos maiores aliados de Maduro em meio à crescente pressão internacional para que ele abandone o poder.

Segundo a agência internacional de notícias Sputnik, do governo russo, que citou uma fonte diplomática não identificada de Caracas, a visita dos militares russos à Venezuela não tem relação com as declarações dos EUA de uma potencial intervenção no país latino-americano. Segundo essa fonte, a chegada dos aviões e dos militares está relacionada a contratos, que incluem acordos na área de defesa feitos anteriormente entre os dois países.

“Esta visita é para discutir contratos que deveriam ter sido concluídos muito antes da crise na Venezuela”, disse a fonte ao Sputnik.

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Antonio Jorge Ramalho da Rocha, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), disse que é provável que a visita não signifique que algo fora do comum esteja acontecendo. “Pode ser, perfeitamente, parte de um treinamento. Eles têm armas russas, e isso pode ser parte da rotina”, disse Rocha à Gazeta do Povo.

O professor explica que a motivação da Rússia para manter presença na América do Sul passa por possíveis vantagens em negociações futuras com os Estados Unidos. “De um lado, para a Venezuela, a presença russa é interessante porque serve para dissuadir e legitimar esse clima de guerra fria, que eles estão acostumados a alimentar. Para a Rússia, a preocupação deles é, por um lado, reaver os investimentos e empréstimos que fizeram, e, por outro lado, é pensar estrategicamente e fincar um pé na região”, avaliou Rocha.

Ou seja, a Rússia mantém presença na região para depois poder negociar com os Estados Unidos a sua saída em termos que sejam úteis para o país em futuras negociações sobre a Crimeia, Geórgia ou outros.

Rocha diz ainda que a impressão é que o regime deixou que houvesse especulação em torno dos aviões russos. "Eles deixam achar que é cooperação, mas é uma maneira de sinalizar para os EUA, principalmente, que tropas russas estão lá. Ou seja, 'pensem duas vezes antes de uma invasão'", cogitou.

De fato, houve uma reação dos Estados Unidos à presença de tropas russas na Venezuela. O secretário de Estado, Mike Pompeo, telefonou para o chanceler russo, Sergei Lavrov, nesta segunda-feira e disse que os Estados Unidos "não ficarão de braços cruzados" se a Rússia continuar enviando militares para a Venezuela para apoiar Maduro, segundo informou o Departamento de Estado.

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Há anos a Rússia é fornecedora de armamentos para a Venezuela, incluindo aviões de combate, tanques e sistemas de defesa antiaérea.

Os Estados Unidos acusaram a Rússia de uma "escalada imprudente" da situação ao enviar aviões militares para a nação latino-americana, relatou a agência de notícias Reuters.

"Os Estados Unidos condenam o envio de aviões e militares da Rússia para Caracas, o que é mais uma contradição dos pedidos tanto de Nicolás Maduro quanto da Rússia de não-intervenção e é uma escalada imprudente da situação", disse um porta-voz do Departamento de Estado americano.

A ação também foi condenada pela Organização dos Estados Americanos (OEA), que classificou a chegada de tropas russas ao território venezuelano como "inadmissível". "A presença de agentes militares e de transporte militar constitui um ato danoso à soberania venezuelana", declarou a OEA, afirmando que o movimento por parte do Kremlin viola a Constituição venezuelana porque não contou com a aprovação da Assembleia Nacional, de maioria opositora.

Os Estados Unidos, e grande parte do mundo ocidental, consideram ilegítimo o regime de Maduro e apoiam Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela. O país impôs pesadas sanções econômicas à Venezuela para forçar a saída de Maduro do poder. A Rússia descreve as ações como um golpe liderado pelos Estados Unidos contra o governo socialista.

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Blefe?

Diosdado Cabello, o número dois do chavismo, confirmou a chegada das duas aeronaves em um pronunciamento à televisão, mas não deu explicações sobre os motivos da operação.

Um site de rastreamento de voos mostrou que as aeronaves partiram de um aeroporto militar russo para Caracas na sexta (22). Um deles já teria partido de Caracas neste domingo (24). Acredita-se que estavam a bordo o general Vasily Tonkoshkurov, diretor do alto comando das Forças Armadas russas, além de uma carga de cerca de 35 toneladas de equipamentos pertencentes aos militares.

A presidente do Controle Cidadão para a Segurança, Defesa e Força Armada Nacional da Venezuela, Rocío San Miguel, acredita que a visita russa é um “blefe”. “Os russos não atuaram como parceiros estratégicos da Venezuela em questões militares: basta medir o nível de operações de tanques, helicópteros e aviões de combate que foram comprados da Rússia para perceber. A visita militar russa é outro ‘blefe’ que não deve nos distrair”, afirmou a advogada.

Em dezembro passado, Rússia e Venezuela mostraram o estreitamento das suas relações militares com manobras militares conjuntas com dois bombardeiros russos com capacidade nuclear na região de Caracas.

O regime chavista também conta com o apoio de Cuba, que, mesmo com seus próprio problemas econômicos, enviou mais de 25 mil militares e pessoal de inteligência para a Venezuela, de acordo com os EUA, em troca de petróleo subsidiado.

Mísseis enviados para base na região de Caracas

Em meio às tensões na região, mais uma demonstração da colaboração entre Moscou e o regime chavista. Um sistema de mísseis antiaéreos fornecido pela Rússia foi detectado nos arredores de Caracas por imagens de satélite da empresa israelense de consultoria em defesa ImageSat International (ISI), informou a empresa no domingo (25).

Segunda as imagens, a Força Armada Nacional Bolivariana da Venezuela (FANB) enviou uma bateria de mísseis S-300, de fabricação russa, para a Base Aérea Capitán Manuel Ríos, nas proximidades de Caracas no dia 20 de março, após uma série de ensaios realizados durante o bicentenário de Angostura, em fevereiro.

São cinco lançadores de mísseis capazes de derrubar aviões inimigos ou mísseis balísticos, além de um radar.

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