Após 16 anos da liderança estável de Angela Merkel na maior economia da Europa, os alemães irão às urnas no domingo (26) para escolher um novo chanceler.
A votação definirá os novos nomes do Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão. O líder do partido que conquistar o maior número de assentos tentará garantir a maioria do parlamento negociando com outros partidos, e então se tornará o novo ou a nova chanceler da Alemanha.
Merkel deixa o cargo com popularidade alta: 80% dos alemães aprovam o seu governo. Porém, o líder do seu partido, Armin Laschet, não parece ter o mesmo carisma e teve dificuldade em conquistar o eleitorado durante a campanha.
A disputa se acirrou na reta final, quando a margem entre os dois partidos que lideram a pesquisa se estreitou. As mais recentes pesquisas de opinião mostram que o Partido Social-Democrata (SPD, de centro-esquerda, diminuiu sua vantagem em relação à União Democrata Cristã (CDU), o partido de centro-direita de Angela Merkel.
Uma pesquisa encomendada pela emissora alemã ZDF mostra o SPD em primeiro, com 25%, e um aumento da CDU, que está logo atrás, com 23% das intenções de voto.
Outra pesquisa também publicada nesta sexta-feira, encomendada pelo Frankfurter Allgemeine Zeitung, indica uma disputa ainda mais acirrada entre o SPD (26%) e a CDU (25%).
A CDU de Merkel liderou a corrida durante a maior parte da campanha, até o final de agosto, quando o SPD tomou a dianteira. O partido de centro-esquerda manteve uma liderança confortável nas últimas semanas, mas essa vantagem se estreitou e hoje está dentro da margem de erro de 2,5% das pesquisas.
Segundo o Politico, que compila os dados das principais pesquisas, os Verdes aparecem em terceiro com 16%, seguidos pelo liberal FDP e a direita nacionalista AfD, ambos com 11%. A Esquerda aparece com 6%.
Quem são os candidatos
Favorito nas pesquisas, o candidato a chanceler pelo SPD, Olaf Scholz, é o atual ministro das Finanças e vice-chanceler da Alemanha. O advogado de 63 anos é tido como pragmático e experiente. Scholz foi eleito pela primeira vez no Bundestag em 1998; ocupou o cargo de ministro do Trabalho e já foi prefeito de Hamburgo.
Armin Laschet, sucessor de Merkel na liderança da CDU/CSU é governador do estado mais populoso da Alemanha, a Renânia do Norte-Vestfália. A sua popularidade despencou após as enchentes de julho, que atingiram duramente o seu estado, especialmente porque ele foi flagrado dando risada durante visita a uma das cidades devastadas na catástrofe.
O Partido Verde, que defende causas ambientalistas e progressistas, é liderado por Annalena Baerbock, considerada de centro. Ela chegou a liderar as pesquisas entre abril e maio, mas sua imagem foi prejudicada quando foi envolvida em escândalos e acusações de plágio e suposta prevaricação.
As possíveis coalizões
Como ocorreu em todos os governos alemães desde o final da Segunda Guerra Mundial, é muito provável que o próximo governo seja formado por uma coalizão entre dois ou três partidos.
Enquanto o SPD está liderando, o cenário mais provável é uma coalizão entre o partido de centro-esquerda, os Verdes e os liberais do FDP - bloco apelidado de "semáforo" por causa das cores vermelha, verde e amarela dos partidos.
Caso os conservadores da CDU/CSU saiam vitoriosos, o mais provável seria uma coalizão entre CDU/CSU, os Verdes e o FDP - chamada de "coalizão Jamaica", devido às cores preta, verde e amarela dos partidos, e com Armin Laschet como chanceler.
Outras configurações são possíveis, incluindo uma repetição do atual governo entre CDU/CSU e SPD, chamada "grande coalizão", ou uma aliança entre esses dois e mais um terceiro, que poderia ser o FDP ou os Verdes.
Uma coalizão que envolva o SPD e o partido A Esquerda também é possível. Na reta final da campanha, Merkel manifestou preocupação com a possibilidade de um governo mais a esquerda, dizendo que isso prejudicaria a estabilidade de seu país.
Principais questões
A pandemia de Covid-19 foi uma das principais questões do debate na Alemanha antes das eleições. Uma empresa de biotecnologia alemã, a BioNTech, desenvolveu em parceria com a americana Pfizer uma vacina contra Covid-19 em menos de um ano do início da pandemia. No entanto, a vacinação contra o coronavírus ainda é uma questão no país, que tem 63,7% da população totalmente imunizada.
Existe um debate no país sobre as regras que devem ser adotadas para o restante da população que ainda não está vacinada: eles podem frequentar restaurantes, shows, cinemas, etc, sem restrições ou apresentação de testes?
O clima também foi um tópico importante do debate eleitoral alemão. Após três anos de temperaturas muito altas, a Alemanha teve um verão chuvoso em 2021. Em julho, fortes tempestades provocaram enchentes que causaram 180 mortes e enorme destruição no oeste do país.
A questão da imigração retornou à pauta em 2021, devido à crise no Afeganistão, que provocou uma fuga em massa de pessoas que querem escapar do novo regime do Talibã no país.
Quando os resultados serão conhecidos?
As pesquisas de boca-de-urna serão divulgadas logo após o fechamento das urnas, às 18h em Berlim (13h em Brasília). Em seguida, são publicadas as primeiras projeções, que levam em conta a contagem dos primeiros votos. As projeções são atualizadas enquanto a contagem é feita. Os vencedores e perdedores podem ser conhecidos nas horas seguintes à votação, dependendo do que as projeções indicarem, como foi o caso na eleição de 2017.
No entanto, as negociações para formação da coalizão de governo podem levar semanas, também como foi o caso em 2017.
Como funcionam as eleições na Alemanha?
A cada quatro anos, os alemães escolhem os membros do Bundestag, o Parlamento federal da Alemanha, e consequentemente um novo chanceler. Todos os cidadãos do país estão aptos a votar a partir dos 18 anos, e o voto não é obrigatório. Nas eleições deste ano, 60,4 milhões de eleitores alemães poderão ir às urnas.
Os alemães podem enviar o seu voto por correio ou votar pessoalmente no dia da eleição. Na eleição de 2017, mais de um quarto dos eleitores optou por essa modalidade, e espera-se que a votação por correio bata recorde neste ano no país, devido à pandemia. Para isso, eles devem preencher uma cédula, de papel, fazendo duas escolhas:
No primeiro voto, eles escolhem um entre os candidatos locais, do seu distrito eleitoral. O candidato mais votado em cada um dos 299 distritos eleitorais tem uma vaga garantida no Parlamento. Portanto, metade dos 598 assentos do Bundestag é definida por essa votação.
A outra metade é definida pelo segundo voto, no qual os eleitores escolhem uma das listas dos partidos políticos dos 16 estados alemães. Essa votação determina a porcentagem de assentos que cada partido terá no Bundestag. Mas para ter representação no Parlamento, os partidos precisam atingir um mínimo de 5% dos votos na eleição – regra que, além de barrar a entrada de partidos nanicos, ajuda a evitar impasses políticos.
Com essas duas votações são eleitos pelo menos 598 membros do Bundestag. O número de assentos pode aumentar em determinadas circunstâncias. O Parlamento atual, eleito em 2017, tem 709 membros no total, o maior número na história alemã.
Depois da contagem de votos, os assentos são distribuídos entre os partidos de maneira proporcional aos votos obtidos na segunda escolha dos eleitores. A distribuição também leva em conta a alocação de assentos para cada estado, dependendo do tamanho de suas populações.
Como muito dificilmente um partido conquistará sozinho a maioria do Parlamento, os partidos então precisam negociar para formar uma coalizão de governo, que deve conter a maioria dos parlamentares.
Os candidatos a chanceler são os líderes definidos pelas convenções dos partidos meses antes das eleições. O Parlamento deve se reunir dentro de um mês após a divulgação dos resultados, e o grupo de partidos que tiver a maioria comandará o governo.
O cargo de chanceler é o que tem mais poder na Alemanha. O presidente, como chefe do Estado, tem uma função hierárquica mais alta, mas o seu papel é em grande parte cerimonial.
Investida da PF desarticula mobilização pela anistia, mas direita promete manter o debate
Como a PF costurou diferentes tramas para indiciar Bolsonaro
Como a PF construiu o relatório do indiciamento de Bolsonaro; ouça o podcast
Bolsonaro sobre demora para anúncio de cortes: “A próxima semana não chega nunca”
Deixe sua opinião