Paris O presidente francês Nicolas Sarkozy quando lançou um plano ambicioso de reforma social na França, já estava com a cabeça em outro lugar: na Rússia, à qual fará uma visita dentro de uma quinzena. Ele atribui grande importância a esse país, e com toda razão, consciente de que a Rússia, eliminada do jogo após a explosão da União Soviética há mais ou menos 15 anos, recuperou força e ambição, e voltou a ser um dos principais atores de nosso tempo.
Nada revela melhor esse extraordinário aumento do poderio russo que a ressurreição de seu Exército. Recordando: no início dos anos 1990, o Exército russo era um fantasma. Enquanto no tempo de Brejnev ele dispunha de 3,4 milhões de homens, vira-se reduzido a 1,1 milhão. Além disso, esses homens estavam esfarrapados, miseráveis, mal vestidos, mal nutridos, mal armados, inclinados à bebedeira e ao suicídio. Que metamorfose! O Exército russo está de volta. Ele está por toda parte. Ele causa medo.
No começo do verão, que se estende de junho a setembro no Hemisfério Norte, ficou-se sabendo que os russos haviam recomeçado seus vôos de rotina ao Grande Norte da Rússia, como nos bons tempos da Guerra Fria, raspando tão de perto as fronteiras dos países vizinhos que as esquadrilhas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) retomaram o hábito das decolagens de urgência. Em junho, Moscou anunciou o teste de um novo míssil, o RS-245, de ogivas múltiplas, capaz de desencorajar "qualquer sistema de defesa antimísseis presente ou futuro." Novo pacote de presente do Kremlin: em 11 de setembro ele explodiu a "bomba convencional" mais poderosa de toda a história. Os primeiros disparos dos mísseis intercontinentais Bulava e Topol-4 foram um sucesso. Esses mísseis, explicam os russos, podem penetrar profundamente em todos os sistemas conhecidos de defesa.
Os oceanos não ficaram atrás. O chefe do Estado-Maior da Marinha acaba de propor o restabelecimento de uma frota russa no Mediterrâneo. Um submarino de bolso desceu a 4.000 metros de profundidade no Oceano Ártico para fincar uma bandeira da Rússia Na outra extremidade do território, a Rússia acaba de realizar manobras militares conjuntas com o Exército chinês.
Todas essas agitações têm um objetivo político: trata-se de fazer o mundo inteiro saber que a Rússia letárgica, desarmada e desesperada da era Yeltsin não existe mais. Graças a Vladimir Putin, a sua energia, sua astúcia, seu cinismo e seus hidrocarbonetos, a Rússia voltou a ser um país seguro de si e com um Exército impressionante.
A mensagem, embora se destine ao mundo todo, visa sobretudo aos Estados Unidos e seu projeto de escudo antimísseis. Putin é inteligente demais para imaginar que seu Exército possa jogar de igual para igual com o Exército americano. Esse último, apesar dos dissabores do Afeganistão, do Iraque e alhures, conserva um enorme avanço.
Basta dar uma espiada nos orçamentos militares para se convencer disso: a Rússia aumentou espetacularmente suas despesas militares, que cresceram 69% desde 2003. Estima-se que, em 2007, elas atingirão U$ 60 bilhões. É uma cifra colossal. Mas, essa cifra se torna ridícula em comparação com os orçamentos militares americanos: em 2007, os EUA gastarão US$ 623 bilhões com seu Exército! Assim, está fora de cogitação mesmo nos sonhos mais loucos de Putin a hipótese de um confronto militar com o Ocidente. É antes em termos de prestígio nacional e presença diplomática que se analisam os progressos fulgurantes do Exército russo. "Voltamos, não à estratégia de Stalin ou de Brejnev", disse um diplomata francês de alto escalão, "mas à diplomacia do tempo dos czares. Não se pode falar de uma verdadeira ameaça guerreira. Trata-se antes do retorno de uma diplomacia da força. Tudo não passa de gestos, mas ninguém sabe onde esses gestos podem levar."
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