Uma energia limpa, que fosse capaz de abastecer tanto indústrias quanto veículos sem deixar poluição ou radiação e que não exigisse o comprometimento de grandes áreas para sua geração. Seria um belo presente para a humanidade, não? Melhor ainda se ela não exigir o alagamento de grandes áreas de terra, como as hidrelétricas, nem demandar grandes áreas agrícolas exclusivas, como o álcool de cana. Há tempos a ciência persegue esse sonho e, por incrível que pareça, ele está mais perto do que muita gente pensa. E isso, em boa parte, só está sendo possível graças aos altos preços do petróleo.
Em 2005 os preços do petróleo atingiram o nível mais alto da história. Em agosto, depois do furacão Katrina, o barril (medida usada pelo mercado internacional de óleo, equivalente a 159 litros) ultrapassou os US$ 70. O crescente consumo da China, aliado a um debate científico cada vez mais ruidoso sobre a dificuldade em sustentar os atuais níveis de produção, mantém os preços na estratosfera. Em um ambiente como esse é natural que países e empresas elevem seus investimentos em energias alternativas. Eis alguns dos números dessa indústria, que não são pequenos:
* Em 2004 antes, portanto, do pior momento do mercado os investimentos em geração de energia por fontes renováveis (excluindo as grandes hidrelétricas, que também provocam dano ambiental devido às grandes áreas alagadas) somaram US$ 29 bilhões em todo o mundo, de acordo com o Worldwatch Institute, um grupo de pesquisas em economia e meio ambiente com sede nos EUA;
* As vendas de painéis solares no mercado americano cresceram de US$ 7 bilhões em 2004 para estimados US$ 11 bilhões este ano;
* A União Européia prevê elevar de 6% para 12% a participação de energias renováveis em sua matriz energética até 2010, o que exigirá desembolsos elevados de cada país membro;
* As empresas que atuam na área de energia estão se preparando para uma situação de escassez. Um exemplo é a elétrica espanhola Endesa, que anunciou um plano de 1,6 bilhão de euros nessa área, entre 2005 e 2009;
* Até as companhias petrolíferas embarcaram. A britânica BP vai investir US$ 8 bilhões de 2005 a 2015 em tecnologias de aproveitamento de energia solar, eólica e pesquisas com hidrogênio. E não é à toa a empresa estima que terá receita de US$ 6 bilhões por ano na próxima década.
Os investimentos do Brasil 10.º maior consumidor de energia do mundo no álcool de cana fizeram do país um dos líderes nessa área. No país, fontes renováveis correspondem a 40% da energia consumida por aqui um número que inclui tanto o álcool combustível quanto as hidrelétricas que respondem pela maior parte da eletricidade gerada no país. "As usinas hidrelétricas representam uma vantagem natural do Brasil", sublinha o secretário do Meio Ambiente do estado de São Paulo, José Goldemberg. Essa posição de liderança fez com que o país levasse adiante propostas ousadas para o cenário internacional. Em 2002, o país apresentou às Nações Unidas uma sugestão para elevar de 5% para 10% a adoção de fontes renováveis. Goldemberg é pessimista quanto a idéias do gênero. "Os Estados Unidos nem assinaram o protocolo de Kyoto [que prevê a redução das emissões de poluentes e, conseqüentemente, um corte no uso de combustíveis fósseis como o petróleo e o carvão]. Índia e China estão na contramão, com essa última usando carvão para gerar eletricidade", diz.
Os projetos brasileiros vão bem mais adiante. Além do álcool, que hoje gera 12% da energia consumida no país (número que só tende a crescer com a preferência pelos motores flex), há ainda iniciativas com biodiesel e aproveitamento de rejeitos como o bagaço de cana. Gilberto Jannuzzi, professor de Sistemas Energéticos da Unicamp, avalia que a biomassa e as energias solar e eólica ainda são subutilizadas. "O Sudeste tem grande potencial de substituição de energia elétrica por solar. É uma tecnologia que o Brasil domina, mas seu uso é limitado." No caso da energia eólica, as unidades estão concentradas no Rio Grande do Sul, Ceará e Pernambuco no Paraná há uma experiência em Palmas. Que bons ventos as levem.